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Para melhorar o policiamento no Rio Paraná, policiais terão apoio de câmeras | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Para melhorar o policiamento no Rio Paraná, policiais terão apoio de câmeras| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Choque de realidade

Criminosos restringem até a circulação de moradores

"Quem mora em Foz do Iguaçu vive de costas para o Rio Paraná." A frase, já batida, retrata uma realidade que está longe de mudar. O tráfico e o contrabando tomaram conta da costa do rio, restringindo o lazer da população aos três clubes náuticos e ao Marco das Três Fronteiras, mas mesmo assim exigindo muita cautela.José Adão*, 39 anos, sabe bem o que isso significa. Da janela da sua casa, situada na região da barranca do rio, o morador assiste todos os dias a capítulos da novela do contrabando. "Há seis anos frequentava a barranca com os amigos, tomávamos banho no rio. Agora não dá mais porque tem quadrilha e às vezes a polícia desce e acontece troca de tiros", relata.

Quando há operações contínuas, como a realizada pelo Exército no mês passado, o transporte ilegal pelo Rio Paraná cessa durante alguns dias. Mas assim que as tropas deixam o local, ou as lanchas da polícia saem, as canoas usadas por traficantes e contrabandistas voltam a fazer a travessia com produtos ilegais, dia e noite, conta o morador.

*O nome é fictício, para não colocar em risco o morador.

Sitiantes ameaçados e cooptados pelo crime

O acesso de muitos traficantes e contrabandistas às áreas de barranca do Lago de Itaipu ocorre, em vários pontos, de maneira forçada. Alguns ameaçam sitiantes para poder passar mercadorias e drogas pelas propriedades particulares. Outros pagam aos agricultores quantias que variam de R$ 300 a R$ 500 por noite, para deixar o caminho livre.

O chefe do Departamento de Operação de Segurança da Itaipu Binacional, Alexandre Cardoso, diz que algumas áreas do lago são liberadas para que o gado de propriedades particulares possa tomar água. Outras não, o que não impede a atuação das quadrilhas. "Às vezes há passagens clandestinas, mas não por má-fé. O dono é pressionado pelo marginal", diz.

A segurança do reservatório é feita por meio de convênios entre Itaipu e Polícia Federal – que mantém a Delegacia Especial de Polícia Marítima (Depom) dentro da usina –, Polícia Militar Ambiental e Departamento de Operações de Fronteira (DOF) do Mato Grosso do Sul. Próximo à barragem, radares e câmeras de segurança são usados para vigilância. (DP)

O uso de câmeras de segurança é uma das apostas das autoridades para conter a ilegalidade na fronteira. Somente em Foz do Iguaçu está prevista a instalação de 121 equipamentos, inclusive na região da barranca do Rio Paraná e em pontos de acesso à cidade.

Na área do Rio Paraná haverá câmeras com sensores termais capazes de monitorar pessoas em um raio de até dois quilômetros e embarcações a uma distância de até cinco quilômetros. O sistema também permitirá identificar placas de veículos, inclusive com alerta para os que têm registro de furto e roubo.

Os locais exatos de instalação não serão divulgados. O custo dos equipamentos e da implantação, estimado em R$ 5 milhões, está sendo bancado pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça. A medida é uma das estratégias discutidas no recém-criado Gabinete de Gestão Integrada (GGI), que integra as forças de segurança dos governos fe­­deral, municipal e estadual, além das Forças Armadas. As câmeras já foram adquiridas e agora o município aguarda a instalação. Cidades lindeiras também se organizam em consórcios para conseguir recursos do Pronasci para e implantar câmeras.

O coronel da reserva Severo Augusto, ex-chefe do Estado- Maior da Polícia Militar de Minas Gerais, defende que a tecnologia é uma saída para fortalecer a segurança na fronteira. Ele aposta que o uso de câmaras de segurança na região do lago deve render bons resultados. "É preciso investir em tecnologia, inteligência e capacidade de ação de respostas", resume.

Parque linear

Outra estratégia para combater o crime na fronteira, a longo prazo, é fazer um parque linear na barranca do Rio Paraná. O secretário-executivo do GGI, coronel César Alberto Souza, diz que a ideia é retirar todos os moradores da barranca e reurbanizar o local com equipamentos esportivos e de lazer. "É preciso trazer este conceito de ocupação permanente. As pessoas estão carregando caixas de cigarro na barranca porque não existe ocupação, zoneamento", diz.

Souza considera que o Ba­­talhão de Fronteira, com 500 policiais, que será criado em Marechal Cândido Rondon, com subsedes em Guaíra e Santo Antônio do Sudoeste, completará as ações. Até o final do ano, Foz também deve receber uma base aérea do governo estadual com um helicóptero para apoiar a fiscalização. Outro aparato da polícia que deve ajudar neste trabalho é o Veículo Aéreo Não-Tripulado (Vant), que tem base em São Miguel do Iguaçu e atualmente funciona em caráter experimental.

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