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| Foto: Giuliano Gomes/Tribuna do Paraná

Deflagrada nesta quarta-feira (22), a segunda fase da Operação Volta às Aulas - resultado de investigações do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) da Polícia Civil do Paraná - revelou um esquema de falsificação de documentos de ensino a distância para além das fronteiras do estado. Segundo Renato Figueiroa, delegado coordenador do Nurce, os documentos apreendidos na primeira etapa da operação escancararam o que havia se tornado uma “prática comum” em cursos ofertados pelo Paraná e também no Mato Grosso e no Rio de Janeiro.

A Polícia Civil, inclusive, já prevê uma terceira fase com os indícios apontados nos documentos apreendidos. A Gazeta do Povo teve acesso ao áudio de um grampo telefônico usado nas investigações. O conteúdo expõe um dos suspeitos. No áudio, ele pede a uma funcionária que destrua “documentos em branco ou assinados. Tudo o que tiver”.

Fraudes

Dez escolas do Paraná estão sendo investigadas (veja mais abaixo). A maioria delas cooptava alunos prometendo certificados de ensino médio e fundamental. O valor cobrado de cada estudante chegava a R$ 1,7 mil.

“Alguns alunos desconfiaram e chegaram a denunciar por meio de Boletins de Ocorrência. Outros não tomaram conhecimento. As instituições se vendiam como parceiras umas das outras para promover as fraudes”, afirma Renato Figueiroa. “Todo curso a distância precisa de ao menos 20% de atividade presencial, segundo o Ministério da Educação. Nós investigamos que muitos alunos sequer viajaram para outros estados, mas tinham diplomas de Rio de Janeiro ou Mato Grosso”.

Cerca de 350 alunos estão sendo investigados. A Polícia Civil quer saber se eles tinham ciência do esquema. Segundo Figueiroa, o número de investigações deve aumentar com as buscas da segunda fase.

Durante os mandados, descobriu-se que toda a documentação dos alunos era enviada por ônibus ou correio para o Rio de Janeiro e Cuiabá para posterior emissão ilegal do certificado, revela a Polícia Civil.

Celulares, computadores e documentos foram apreendidos na casa dos investigados e na sede das escolas. “Encontramos certificados em branco, documentos das entidades de Cuiabá e do Rio de Janeiro na casa dos alvos de Curitiba e vice-versa. A remessa desta documentação era frequente”, diz Figueiroa. “Nos depoimentos foram citados mais cursos e pessoas que estariam envolvidas no esquema, o que pode ensejar uma terceira fase”, adianta.

De março a novembro de 2015, apenas uma escola repassou R$ 91 mil ao Instituto Brasileiro de Ensino à Distância, indica um dos papéis apreendidos.

A Gazeta do Povo tentou contato com o Ibed e o Ceduc e não obteve respostas.

Dez escolas são investigadas por esquema de falsificação de diplomas no PR

Segunda fase da Operação Volta às Aulas da Polícia Civil cumpriu mandados em oito cidades do estado nesta terça-feira (22)

Dez escolas do Paraná estão sendo investigadas pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil do Paraná por suspeita de envolvimento em um esquema de falsificação e fornecimento de certificados e históricos escolares que comprovariam a conclusão de Ensino Fundamental e Médio, mesmo sem que o aluno tivesse comparecido às aulas.

A segunda fase da Operação Volta às Aulas -- que teve a primeira fase deflagrada em dezembro do ano passado -- aconteceu na quarta-feira (22). Agentes cumpriram mandados em oito cidades do estado: Curitiba, Pinhais, São José dos Pinhais, Ponta Grossa, Piraí do Sul, Guarapuava, Londrina e Maringá.

O esquema, de acordo com a polícia, abrangia a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) a distância. Quatro dos cursos investigados ficam em Curitiba. São eles: Interathyvo, Síntese, Paraná Curso e Instituto Brasileiro de Ensino à Distância (Ibed). Dois estão localizados em Ponta Grossa -- Microlins e DEMED (atualmente fechado). Em Londrina, a polícia investiga o curso CDF Vestibulares e em Guarapuava, o CEAD Unifass. Em São José dos Pinhais, o curso Sydheral está sendo investigado e em Piraí do Sul o alvo é a Escola Zeus. Outros quatro cursos localizados no em Cuiabá (MT), Rio de Janeiro (RJ) e em Nova Iguaçu (RJ) também teriam envolvimento no esquema.

Durante a operação desta quarta, também foram cumpridos mandados judiciais no Mato Grosso e no Rio de Janeiro, onde cinco pessoas tiveram prisão preventiva decretada. No Paraná, duas pessoas foram presas : Luiz Augusto Fumaneri, dono do Ibed, em Curitiba e Túlio Alencar, que teria trabalhado no curso, foi preso em Londrina. Durante a operação, uma funcionária da Secretaria do Estado da Educação (Seed) foi conduzida coercitivamente a prestar depoimento.

De acordo com Levi de Andrade, advogado que representa Luiz Augusto Fumaneri, o empresário comprou a escola a menos de um ano e que não tinha envolvimento com nenhum esquema criminoso. Andrade se disse surpreso com a prisão. “Em nenhum momento ele deixou de colaborar com a Justiça, desde a primeira fase da operação”, afirmou. Ainda de acordo com Andrade, Fumaneri, que sofre de trombose, foi encaminhado ao Complexo Médico Penal, em Pinhais e deve prestar depoimento nesta sexta-feira (24). A defesa de Túlio Alencar foi procurada pela reportagem mas não foi localizada.

As pessoas presas podem responder pelos crimes de associação criminosa, estelionato e falsidade ideológica.

Alunos não frequentavam aulas

De acordo com as investigações, pelo menos dez destas escolas paranaenses cooptavam alunos, prometendo certificados mesmo sem autorização para emiti-los. Duas delas foram alvo da primeira fase da operação e as outras oito na segunda. O valor cobrado de cada estudante, de acordo com o Nucre, chegava a R$ 1,7 mil. Para fazer a entrega dos certificados, os cursos a distância buscavam cinco instituições que tinham autorização para a emissão - um deles, o Ibed, localizado em Curitiba. Os alunos não tinham contato com as instituições autorizadas e apenas recebiam a documentação, o que configura a ilegalidade.

Na primeira fase da Operação, em dezembro de 2015, a polícia investigava também 350 alunos para saber se eles tinham ciência da fraude. De acordo com a Polícia, muitos afirmaram não ter frequentado as aulas nas escolas que emitiram os diplomas. Com a ampliação das investigações, o número de alunos envolvidos deve ser ainda maior.

Outro lado

A reportagem tentou contato com as dez escolas citadas pela Polícia Civil. Os Cursos Síntese, Interathyvo, Paraná Curso, DEMED, CEAD Unifass e Sydheral não atenderam nos telefones informados. Os cursos Microlins e CDF Vestibulares não retornaram as ligações até às 17h30. A Escola Zeus afirmou por meio de uma funcionária que somente o proprietário poderia falar sobre o assunto e que ele não estará disponível até a próxima segunda-feira (27).

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