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O crime

Na noite de 28 de maio de 1997, Zanella foi abordado por três policiais civis - Aírton Adonski, Reinaldo Siduovski e Jorge Élcio Bressan – e também por um estudante de Direito, Guilherme Vieira Doni, e por um informante da polícia, Almiro Deni Schmidt. Estes dois últimos prestavam serviços de forma irregular no 12º Distrito Policial (DP), em Santa Felicidade. Quando parou o carro que dirigia, o universitário levou um tiro na cabeça, efetuado pelo informante. Ele foi confundido com um traficante.

Logo depois do assassinato, os homens envolvidos no crime tentaram mudar a cena do crime. Eles colocaram um revólver na mão de Zanella e implantaram maconha na roupa dele. O objetivo era alegar que o rapaz era um traficante que reagiu à abordagem policial. Outros três rapazes que estavam com o estudante no automóvel foram presos, agredidos e ameaçados. Cerca de uma semana depois do fato, uma perícia policial revelou toda a armação realizada.

Em 1998, Adonski e Siduovski foram condenados por fraude processual, denunciação caluniosa e tortura. Eles ficaram presos até 2005 e depois foram soltos pela Justiça. No ano 2000, o informante Schmidt foi condenado a 21 anos de prisão por homicídio. Desde março de 2008, ele responde pelo crime em liberdade. Bressan recorreu à pronúncia do juiz em 1.º grau e o Tribunal de Justiça decidiu não mandá-lo a julgamento. Doni não foi acusado pelo homicídio e teve o processo dele suspenso.

Dezenas de pessoas realizaram um protesto na manhã desta segunda-feira (15) em frente ao Tribunal do Júri, no Centro Cívico, em Curitiba. A manifestação foi contra a suspensão do julgamento de Maurício Bittencourt Fowler, último policial civil acusado de ter forjado provas no caso da morte do estudante Rafael Zanella. O protesto foi organizado pela família Zanella e amigos e familiares de outras vítimas de crimes violentos compareceram em frente ao Tribunal do Júri.

A manifestação começou por volta das 9 horas e às 9h30 houve a confirmação oficial que o julgamento não iria acontecer. Um fax foi enviado ao Tribunal com a liminar da 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, conseguida pela defesa de Fowler. A liminar impediu a realização do júri popular nesta segunda-feira (15). O advogado Arnaldo Busato Filho, que defende Fowler, alega que seu cliente deve ser julgado por um juiz e não pelo Tribunal do Júri.

Para Thiago Zanella, irmão do estudante morto, a liminar foi apenas uma medida para tentar adiar o último julgamento. "Mais uma manobra protelatória. Tomara que o júri aconteça ainda nesse ano, se não será mais um crime que prescreve", disse. Thiago Zanella afirmou que a defesa de Fowler já entrou com outras ações para suspender o julgamento, mas as liminares anteriores foram negadas. "Levará um tempo até que o mérito dessa liminar seja julgado. E depois o julgamento terá que entrar novamente na pauta. E é tudo o que a defesa de Fowler almeja", afirmou.

O advogado de defesa de Fowler, Arnaldo Busato Filho, no entanto, afirmou que a liminar não pedia que o seu cliente não fosse julgado. O objetivo da liminar é fazer com que Fowler seja julgado por um juiz da Vara Criminal. "Trata-se de um crime técnico e por isso há a necessidade de um juiz da área", disse.

Na época do crime, em maio de 1997, Maurício Bittencourt Fowler era um dos delegados do 12º. Distrito Policial, em Santa Felicidade, e é acusado de tentar convencer os jovens que estavam com Zanella a confirmarem a versão de que o estudante era traficante. Já Busato Filho disse que essa acusação não condiz com a verdade. "Quando (Fowler) chegou lá (12.º DP), já se deparou com o quadro pronto. Ele foi induzido a acreditar no que a equipe policial relatou que era verdade", afirmou Busato Filho.

O protesto em frente ao Tribunal do Júri durou cerca de uma hora e meia. A família Zanella levou a faixa que há 13 anos foi feita, logo após o crime acontecer. Na faixa está escrito: "A única causa que se perde é aquela que se abandona". "A faixa está velha, mas sempre a levamos nos protestos", definiu Thiago Zanella por telefone. Ao fundo era possível ouvir os gritos de Justiça e vários apitos sendo utilizados.

Outros julgamentos

Outros dois policiais acusados de ter envolvimento na morte de Rafael Zanella foram julgados e condenados na semana passada. O policial Daniel Luís Santiago Cortes foi condenado a 12 anos e 10 meses de prisão por forjar provas. O julgamento aconteceu na quarta-feira (10). Cortes era o superintendente do 12.º DP e foi condenado por ter atirado contra o carro dos policiais que abordaram Zanella, para que então ficasse configurado que houve troca de tiros.

Carlos Henrique Dias foi condenado a 11 anos de prisão e perda da função pública na quinta-feira (11). Dias era um dos escrivães do 12.º DP e foi acusado de registrar de forma distorcida os fatos referentes ao assassinato do estudante.

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