
"As perdas são incalculáveis." A declaração do governador Luiz Henrique da Silveira expõe a situação vivida por Santa Catarina desde o início das chuvas que deixaram um rastro de destruição no estado. A cada dia, a projeção dos prejuízos e do dinheiro necessário para a reconstrução do Vale do Itajaí ganha novas cifras. Nas estimativas mais otimistas, as autoridades falam em, no mínimo, um ano para os catarinenses voltarem a levar uma vida normal. Nas mais pessimistas, o prazo pode chegar a três anos.
O cenário de momento na região ainda é de caos. Parte das estradas foi destruída, o fornecimento de luz e água não está totalmente restabelecido e perto de 32 mil pessoas continuam sem poder voltar para casa. Em Blumenau, um dos municípios mais atingidos pelas chuvas, milhares de habitantes perderam a moradia e, também, o terreno onde ela estava construída. Os 51 abrigos da cidade hospedam quase 5 mil pessoas que, ao menos por enquanto, terão de ficar sob os cuidados da administração municipal. "Nós teremos que nos responsabilizar por esses blumenauenses durante muito tempo. Eles simplesmente não têm para onde ir", afirma Cássio Quadros, chefe de gabinete da prefeitura.
Essa, porém, não é a primeira vez que a cidade enfrenta uma catástrofe natural. Em julho de 1983, uma forte chuva elevou o nível do Rio Itajaí-Açu a 15,34 metros, causando uma enchente que durou 31 dias. A cheia atingiu 30% das casas e desalojou 50 mil pessoas. Os prejuízos calculados naquele ano atingiram US$ 1,1 bilhão. O vice-prefeito na época, Paulo Oscar Baier, conta que, devido ao histórico de enchentes na cidade, a população já tinha uma idéia da altura que a água poderia alcançar. "Estávamos preparados para 12 metros. Ninguém esperava aquilo que aconteceu em 83", comenta. Segundo ele, apesar dos prejuízos materiais deixados pela chuva, em dez dias foi possível limpar a cidade e iniciar as obras de reconstrução. "Hoje, a situação é diferente. O nível da água é menor, mas os deslizamentos causaram muitas mortes", lamenta.
Além da perda de dezenas de vidas humanas, as chuvas deste ano comprometeram a infra-estrutura da região. Somente o Porto de Itajaí, fechado desde 21 de novembro, deixa de movimentar por dia R$ 70 milhões. Para Fernando Seabra, professor de Economia Internacional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a necessidade momentânea de redirecionar as exportações do estado para outros portos vai aumentar os custos de produção, sobretudo no setor de carnes congeladas. "O preço desses produtos é cotado mundialmente, o que impede os produtores de repassarem essa alta na hora da venda. Conseqüentemente, a margem de lucro será menor", afirma.
Na opinião de Seabra, o tempo de recuperação da economia do Vale do Itajaí dependerá diretamente da velocidade com que a infra-estrutura da região será reconstruída. Ele acredita, no entanto, que a indústria catarinense vai sofrer de maneira temporária com o aumento nos custos de produção, já que tem a possibilidade de ajustar prazos e renegociar entregas. "A maior ameaça no curto prazo é para o turismo", prevê. Segundo o professor, a imagem já consolidada do setor tende a sofrer um forte abalo nos próximos meses, principalmente na região de Florianópolis.



