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 | Nacho Doce/Reuters
| Foto: Nacho Doce/Reuters

“Em tempos de guerra, falar de amor é um ato de subversão e resistência”, disse o estilista Ronaldo Fraga. O sentimento deu pano para as mangas, vestidos, ternos e a coleção inteira criada pelo mineiro. Na trilha sonora, uma sinfonia arrebatadora de Tchaikovski se misturava à voz de Chico Buarque e ainda contava com os poemas eróticos de Hilda Hilst. Na coleção, jacquards, sedas e acessórios com estampas e formato de coração.

Uma das empresas que ajudou Fraga a traduzir o seu amor nesta coleção foi O Casulo Feliz (Vale da Seda), do artesão paranaense Gustavo Rocha. Foi ele quem produziu 20 modelos de tecidos para o desfile, reutilizando casulos com pequenos defeitos, descartados pela indústria. Também estavam lá xales, golas e acessórios em formatos de casulo do bicho-da-seda. “Esperamos que nosso trabalho seja cada vez mais visto e reconhecido para que consigamos colocar no mercado peças feitas com a seda da nossa região”, afirma João Berdu, presidente do Instituto Vale da Seda. O metro da seda, no Brasil, é vendido entre R$ 80 e R$ 250. O Paraná responde por 92% da produção de casulo de bicho da seda no país – e é a região que mais produz seda no Ocidente.

E por falar em reaproveitar, outra marca paranaense que contribuiu com peças para a apresentação do estilista foi a de acessórios Yë. Há cinco meses no mercado, Juliana Erig, designer e sócia da marca, conta que estava na fase de indecisão, decidindo se dedicava-se full time à criação das peças ou mantinha outro emprego quando encontrou Fraga. Eles estavam no café da Livraria Cultura, no Shopping Curitiba, no mesmo dia em que Ronaldo Fraga fazia uma sessão de autógrafos do seu último livro. “Ele me perguntou sobre minha bolsa. Quando disse que era criação minha e comentei que os materiais utilizados eram refugo de madeira e couro, que não tinham mais serventia, Ronaldo disse que queria usar no seu desfile. Estamos muito felizes!”, finalizou.

A beleza das faces das modelos foi assinada pelo maquiador oficial da Natura Marcos Costa. “Me inspirei na frase de Leonilson: ‘o amor faz a gente enlouquecer’”, disse. Por isso o cabelo desconstruído, desfiado e cheio de textura. As flores na cabeça ficaram duas semanas no sol para poder secar. “O batom tinha que ser vermelho! É a cor da paixão!”, comentou Costa. A pele é corrigida e acetinada, uma beleza fresca.

Animale

A mulher da Animale é elegante e contemporânea. Sem esforço, consegue ser sexy. Ao som do canto dos pássaros e o contraste das colunas arquitetonicas da Bienal, a coleção misturou natureza, arte e arquitetura. A silhueta da vez contrasta soft com heavy, como nos casacos de lã pesados. Nos acessórios, as bolsas e os sapatos foram desenvolvidos misturando texturas e materiais. As formas são geométricas e assimétricas. Todos os materiais são naturais: lã, seda, couro, pele, tricô e renda francesa. Entre as novidades, o lançamento de óculos. A beleza também é natural. Nos olhos, sombra marrom com iluminação champanhe. Fendas, golas rolê, veludo molhado, pantacourts e saltos em acrílico são os destaques da coleção.

Versatilidade

A UMA Raquel Davidowicz apostou na mulher em movimento. Entre os destaques, as bolsas feitas com placa de alumínio. “A moda tem que ser versátil e eficiente nos dias de hoje”, afirmou a estilista Raquel Davidowicz. Por isso, ela trouxe para a passarela conceitos desconstruídos por meio dos tecidos: por exemplo, alfaiataria com malha. As cores são sóbrias, vão do preto ao cinza, passam pelo camelo e o marsala e têm um toque de excentricidade com o metalizado em bronze e prata. Entre os tecidos, tafetá de seda, couro, lã, moletom e viscose de malha. A pegada é esportiva urbana. Vanessa Rozan, responsável pela beleza natural e com blush rosado do desfile, apostou no batom ameixa e na pegada “corra, Lola, corra -- em versão vitoriana”, brincou. A grife Lilly Sarty também desfilou.

No primeiro dia do SPFW, domingo (18), Alexandre Herchovitich desfilou sozinho.

*A jornalista viajou a convite do evento.
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