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Violência

Sedes da Polícia Militar e da Guarda são alvos de tiros

Duas ações contra forças de segurança foram registradas entre a noite de domingo e a madrugada de ontem em São Paulo. Por volta das 22 horas de domingo, uma base da Guarda Civil Metropolitana de Santo André foi metralhada por dois homens em uma moto. Ao menos 11 disparos atingiram a guarita da base. Não havia ninguém no local. Uma viatura também foi alvejada em uma troca de tiros durante busca aos suspeitos em uma favela próxima ao local. Horas depois, dois ocupantes de um Gol preto dispararam quatro tiros contra a sede da 1ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar, na região do Parque Novo Mundo. Duas balas atingiram o carro de um policial de plantão. Houve perseguição e troca de tiros e os suspeitos foram presos em flagrante.

Estudo divulgado ontem aponta que São Paulo continua vulnerável a ataques como os promovidos pela facção criminosa Primeiro Co­­mando da Capital (PCC) em maio de 2006 e que o estado falhou na resposta aos crimes. O relatório "São Paulo Sob Achaque", raio-X so­­bre a onda de ataques da facção, foi elaborado durante quatro anos e oito meses pela ONG de defesa de direitos humanos Justiça Global e pela Clínica Internacional de Di­­reitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, uma das mais importantes dos Estados Unidos. De acordo com o estudo, problemas que contribuíram para os ataques na época persistem, como a corrupção policial, prisões superlotadas – com o domínio da facção nas carceragens –, agentes e policiais vulneráveis a ataques e aumento da violência policial.

Durante a divulgação do relatório, foi apontada também uma frágil relação entre a facção criminosa e as autoridades, que teriam feito "acordos" para manter a população carcerária sob controle e garantir privilégios aos líderes do PCC.

"Há indícios de que é acordado [com as autoridades], mas isso, como sabemos, é algo que não é sustentável. Algum dia acontece alguma coisa, há um outro achaque, isso se rompe e há uma nova onda de violência", afirma Fer­nando Ribeiro Delgado, um dos coordenadores do estudo.

Delgado destaca também que o primeiro trimestre deste ano teve mais mortes de policiais militares em serviço do que o registrado nos três meses que antecederam os ataques de 2006. As 74 unidades prisionais que se rebelaram na época estão mais superlotadas agora – o grau de lotação, em 2006, era de 147%, e agora seria de 195%, segundo dados levantados pelo estudo.

Corrupção policial

O relatório diz ainda que as medidas contra a corrupção policial, apontada como um dos fatores que levaram aos ataques de 2006, são insuficientes. Apesar de recentes afastamentos na Polícia Civil de São Paulo, as investigações atingem somente o baixo escalão, aponta o estudo.

O principal caso de corrupção que influenciou os ataques, segundo o documento, seria um sequestro e uma extorsão praticados contra Rodrigo Olivatto de Morais, enteado de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, tido pela polícia paulista como chefe do PCC. Os policiais civis Augusto Peña e José Roberto de Araújo, envolvidos no caso, chegaram a ser presos, mas hoje estão soltos. Eles negam as acusações.

Ao analisar os 493 homicídios ocorridos no estado entre 12 e 20 de maio de 2006, o estudo viu "in­­dícios da participação de policiais em 122 execuções", além de discrepância na elucidação desses casos em relação aos que vitimaram 43 agentes públicos. Uma das recomendações do estudo é a federalização da investigação de casos não esclarecidos e a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar as causas da crise, a responsabilidade das autoridades, os problemas que continuam e medidas a serem tomadas.

Familiares

Presentes na divulgação do relatório, familiares de pessoas que fo­­ram mortas ou que desapareceram na época dos ataques cobraram empenho das autoridades nas investigações. A ONG Mães de Maio, criada por familiares de mor­­tos, lança no próximo dia 12 o livro Mães de Maio – Do Luto à Lu­­ta, com a visão dos membros da en­­­­tidade sobre os crimes. "Falta boa vontade para mostrar que, na suposta reação policial, inocentes foram mortos", diz Débora Maria da Silva, uma das integrantes da ONG.

Francisco Gomes era um dos presentes na divulgação do relatório. O filho dele, Paulo Alexandre Gomes, saiu de casa no dia 16 de maio de 2006 dizendo que ia visitar a namorada e nunca mais foi visto. Segundo testemunhas, ele teria sido abordado na rua por um carro da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).

Pai e filho já andavam preocupados com a reação aos ataques do PCC e, por isso, Gomes saía pouco de casa. Quando desapareceu, seu pai fez uma peregrinação por IMLs e hospitais. Não encontrou nenhuma pista. "Até hoje continua a dúvida. Eu acho que ele foi morto por policiais. Mas às vezes ando por uma praça, vejo as pessoas deitadas na rua e dou uma olhada, porque penso que pode ser meu filho."

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