Diante do aumento de demanda por exames de diagnóstico de Covid-19, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), decidiu ampliar a rede de testes no estado, que estava restrita a dois laboratórios. O Instituto Butantan tem capacidade para realizar mil exames por dia e o Instituto Adolfo Lutz (IAL) consegue processar mais 1,2 mil. Hoje, porém o IAL está sobrecarregado, com 16 mil amostras na fila de espera por resultado.
A força-tarefa vai envolver mais seis laboratórios: o Centro Estadual de Análises Clínicas (Ceac Zona Norte) e cinco regionais do Adolfo Lutz no interior do estado. O Ceac vai realizar 720 testes por dia de pacientes internados com suspeita de Covid-19 em 43 hospitais da rede estadual da Grande São Paulo. Já as unidades do IAL em Santo André, Sorocaba, Ribeirão Preto, Bauru e São José do Rio Preto terão condições de processar 500 exames por dia, podendo chegar a até mil depois que o estado receber mais kits de diagnóstico.
Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, ainda nesta semana a rede de laboratórios receberá 20 mil kits de testes importados e outros 10 mil enviados do Rio de Janeiro pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).
Estatísticas de casos confirmados e mortes devem dar um salto
Ao anunciar o reforço na capacidade de análise de amostras de pacientes com suspeita de Covid-19, o governador João Doria deixou implícito que o número de casos confirmados atualmente está muito aquém do real. Apenas entre óbitos suspeitos há 201 amostras aguardando processamento no Instituto Adolfo Lutz.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que o diagnóstico desses 201 casos deve sair nas próximas 24 horas. Caso as suspeitas venham a se confirmar, a estatística de mortes confirmadas em função de Covid-19 pode aumentar consideravelmente. Até esta quarta-feira (1.º), o estado de São Paulo tinha a confirmação de 164 vítimas fatais da doença.
Com o mutirão também deve haver um salto no número de pessoas comprovadamente contaminadas pelo novo coronavírus que estão em tratamento nos hospitais de São Paulo, o que é fundamental para se entender a velocidade do contágio no estado onde surgiram os primeiros casos no Brasil.
“Vamos reforçar a rede de exames e garantir, desta forma, um monitoramento efetivo sobre a circulação do coronavírus em nosso estado. Assim, poderemos adotar as medidas necessárias para proteger nossa população”, disse o governador, em entrevista no Palácio dos Bandeirantes na tarde desta quarta.
Dificuldade de automação e demora nos resultados
Segundo o portal G1, o Instituto Adolfo Lutz, que até agora concentrava a imensa maioria das amostras colhidas para teste de Covid-19, vem enfrentando dificuldade para processar os testes. Levantamento do portal revela que ao longo do mês de março o número de amostras para exame aumentou, enquanto a proporção de resultados liberados caiu drasticamente. Na primeira semana de março, quando a demanda era muito menor, o Instituto processou e liberou 83% dos testes. Na semana passada, a última do mês, apenas 0,4% dos testes recebidos tiveram resultado liberado.
Até o dia 25 de março, de um total de 11 mil testes, 1.224 tinham sido liberados, pouco mais de 10%. Pesquisadores do instituto recusam-se a dar entrevista, sequer divulgam o tempo médio para a liberação dos resultados ou se há falta de pessoal, insumos e equipamentos para a realização dos exames, algo que vem ocorrendo no mundo todo. Nos EUA o tempo médio para conclusão dos exames é de 11 dias.
A Secretaria da Saúde do estado de São Paulo informou que o Adolfo Lutz possui insumos suficientes para realizar os exames. A chegada de milhares de kits de diagnóstico e o mutirão de laboratórios deve, porém, acelerar o processo e, assim, evitar que mais famílias precisem enterrar seus mortos com caixão fechado por não saberem sequer se estavam contaminados por coronavírus.
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