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Silêncio de lideranças femininas do governo contrasta com declarações passadas sobre agressões a mulheres
Silêncio de lideranças femininas do governo contrasta com declarações passadas sobre agressões a mulheres| Foto: Gabriel Giovanni/Planejamento | Ricardo Stuckert/PR | Zeca Ribeiro/Câmara

Mulheres com cargos de destaque no governo do presidente Lula (PT), notabilizadas por frequentes discursos em defesa dos direitos das mulheres, ignoraram a agressão sofrida pela jornalista Delis Ortiz, da TV Globo, no Palácio Itamaraty. Na noite desta terça-feira (30), jornalistas foram agredidos por seguranças do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e por agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo federal. Delis Ortiz, que tem uma prótese no peito, levou um soco na região por um dos seguranças.

“Soco no peito, que prende a respiração. A impressão que deu é que explodiu tudo dentro de mim. Sensação de impotência e de violência que você sente na pele”, disse a jornalista após agressão.

Ao longo de todo o dia seguinte ao episódio, lideranças femininas do governo, como a deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR); a ministra do Planejamento, Simone Tebet; e a primeira-dama, Janja Silva, evitaram tocar no assunto.

Aliás, as reações ao episódio em todo o governo foram bastante limitadas: o próprio presidente Lula – que horas antes havia negado as graves violações à democracia, aos direitos humanos e às liberdades individuais do regime venezuelano já atestadas pela ONU – decidiu silenciar sobre o caso.

Outras ministras do governo, que colecionam discursos sobre violência contra mulheres, como Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Anielle Franco (Igualdade Racial), também ignoraram a agressão. Até mesmo o ministro dos Direitos Humanos deixou o episódio de lado.

Um dos raros posicionamentos que destoaram da maioria veio da ministra Cida Gonçalves, que se manifestou nesta quarta-feira (31) repudiando “toda e qualquer agressão contra jornalistas” e se solidarizando com a repórter. Outras manifestações isoladas foram do Itamaraty e da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que divulgaram notas de duas linhas cada um, lamentando o ocorrido e informando que “providências seriam tomadas”. Até o momento, entretanto, nenhuma providência foi anunciada e sequer os autores da violência foram identificados.

Ao ignorar o episódio, o comportamento dos governistas se repete em relação ao silenciamento frente à calorosa recepção de Lula ao ditador Maduro, cujo governo é marcado por uma coleção de crimes contra a humanidade, o que inclui execuções, torturas e desaparecimentos de opositores.

Silêncio de lideranças femininas do governo contrasta com declarações passadas

Simone Tebet costuma se manifestar enfaticamente sobre a liberdade de imprensa. Ao longo do período eleitoral de 2022, quando disputou a presidência, abordou o tema seguidas vezes, em especial falando sobre o papel das mulheres na cobertura jornalística. Em agosto do ano passado, ela publicou uma nota de desagravo à jornalista Vera Magalhães, crítica de Jair Bolsonaro, após o ex-presidente respondê-la de forma áspera durante um debate entre os presidenciáveis.

Na ocasião, Bolsonaro disse: “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo, mas tudo bem.” Na ocasião, Simone criticou o ex-presidente afirmando que: “A Presidência da República é lugar de exemplo, respeito à liberdade de imprensa e às mulheres.”

Já Gleisi Hoffmann costuma fazer, especialmente nas redes sociais, defesas enfáticas de jornalistas que estariam tendo sua liberdade de imprensa cerceadas, mas apenas aqueles que costumam ser fiéis às pautas petistas em sua cobertura. No mês passado, Gleisi chegou a se manifestar sobre o que teria sido uma agressão ao jornalista Guga Noblat, que costuma se posicionar favoravelmente a pautas do governo Lula. Parte da imprensa passou a veicular que o deputado federal Mario Frias (PL-SP) teria desferido um soco no jornalista. No entanto, vídeos que surgiram em seguida mostraram que não houve agressão física. Mesmo assim, Gleisi foi às redes sociais dizer que parlamentares bolsonaristas estariam “partindo para cima de jornalistas”.

Já a primeira-dama tem apostado em tentativas de estreitar o relacionamento do governo com a imprensa e desde o início do novo mandato de Lula tem organizado eventos para reunir profissionais de veículos jornalísticos com o presidente. Nesses encontros, Lula costuma falar enfaticamente sobre a violência contra jornalistas.

Nesta quarta-feira (31), um dia após a agressão à jornalista, Janja participou de evento ao lado da ministra das Mulheres. Ela falou sobre misoginia e preconceito contra mulheres, mas preferiu não comentar o caso Delis Ortiz. Já na última segunda-feira, publicou nas redes sociais uma foto ao lado de Nicolás Maduro. Entre os crimes que o relatório da ONU divulgado no ano passado apontou em relação ao regime de Maduro estão justamente torturas a jornalistas e estupro de mulheres que são contrárias ao regime.

A Gazeta do Povo questionou todas as mulheres citadas nesta matéria sobre a possibilidade de posicionamento sobre o caso de agressão a Delis Ortiz. Não houve nenhum retorno até o momento.

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