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O governo tem pressa. Esse é o mantra dos aliados de Beto Richa para aprovar o pacotaço de medidas que cortam gastos e aumentam as receitas do estado. Para isso, a base governista na Assembleia Legislativa convocou o regime de comissão geral – o popular "tratoraço", mecanismo regimental em que as propostas, que normalmente levariam semanas ou meses para serem votadas, acabam sendo apreciadas pelos deputados num único dia. Havia sido assim em dezembro, quando o governador propôs o reajuste de impostos. E em vários outros momentos nos quais o Palácio Iguaçu aprovou projetos que considerava cruciais. Trata-se, portanto, de um governo "apressado" para ver suas ideias implantadas. Talvez por essa razão esteja em seu quinto ano com sérios problemas financeiros. Afinal, como diz a sabedoria popular, a pressa é inimiga da perfeição.

Por trás do afogadilho com que o governo procura impor suas políticas está uma aversão à discussão e à crítica. Ninguém gosta de ser criticado. Mas a ausência do contraditório é nociva na esfera pública. Impede o aperfeiçoamento de qualquer proposta. Encobre as falhas, os erros (aliás, forçar a aprovação de uma proposta que mexe com tantos interesses, sem a necessária discussão, é um erro estratégico que levou à radicalização popular – o que se manifestou na invasão do plenário da Assembleia).

Ainda que projetos de lei venham a ser aprovados de acordo com as regras do parlamento, propostas que não são debatidas com a sociedade maculam a democracia. A abertura à crítica, afinal, é um dos principais pilares das sociedades livres. É a discussãow aberta que permite a correção de rumos. Não por acaso todas as nações que alcançaram alto desenvolvimento humano são democráticas.

A crítica também é um elemento-chave da ciência – o mais próximo do conhecimento seguro a que a humanidade pode chegar. Teorias, após serem propostas, são submetidas à avaliação da comunidade científica – que em geral age para tentar encontrar suas possíveis falhas. Elas também são postas à prova em experimentos que podem ser replicados por cientistas independentes. Só após vencerem essas etapas com sucesso as teorias são aceitas. E ainda assim continuam permanentemente abertas às críticas e à possibilidade de serem superadas por novas descobertas.

Uma gestão pública que queira ser científica, eficaz e democrática não pode prescindir da crítica e do debate. Ainda que isso seja desgastante, é uma atitude inteligente em favor de bons resultados futuros. Ou os erros vão continuar a ocorrer sem que possam ser evitados. Esse é o ônus de ser apressado.

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