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É um pouco mais de uma e meia da tarde. Acabei de acordar. Uma dor de cabeça... Nem sei como estou de pé. E também não me lembro a que horas cheguei em casa. Quando a gente está de divertindo nem vê o tempo correr. Parece que a noite passa em um segundo. Só me lembro que ao chegar em casa ela me ajudou a tirar a roupa antes de eu cair na cama. Estava tão cansado que nem isso eu conseguia fazer sozinho. Pobre coitada...

Por outro lado, que noite, meu amigo, que noite! Há tempos não tinha uma noitada dessas! Muito tempo. Fui de um lugar a outro conversando com as pessoas, abraçando todo mundo, dando atenção a cada um que passava por mim. Que noite! E nem me dei conta de que já era madrugada e ainda estava na rua.

Uahhhhhhhh, que sono... Melhor eu passar uma água no rosto. Pronto, acho que agora estou um pouco mais recomposto. Se ela me vê bocejando desse jeito, hum, aí sim que o caldo entorna. Seria o pretexto ideal pra me jogar na cara tudo o que está engasgado. Re­­clamar que não dou atenção a ela, que sempre apareço entediado quando estou do lado dela... Essas coisas que toda mulher reclama. Mas acho que dessas reclamaçõezinhas triviais eu até escapo hoje. Basta não bocejar na frente dela nem reclamar do sono. Duro vai ser fugir da bronca do horário. Dessa vai ser difícil...

Também, pudera!

Extrapolei todos os limites. Nesses anos de casados até cheguei tarde algumas vezes em casa. Meia horinha, uma hora, uma hora e meia de atraso no máximo! Mas ontem, ah, ontem eu perdi completamente a noção.

O que me deixa mais chateado é saber que ela passou a madrugada preocupada, esperando eu chegar, imaginando que talvez tivesse ocorrido algo. Como pude ser tão irresponsável?! Estou me sentindo o último dos homens, o sujeito mais vil, mais baixo do universo. Um tremendo sacana...

Nem ao menos liguei pra dizer onde estava e que chegaria tarde. Isso não me livraria da bronca, é claro, mas pelo menos aliviaria a preocupação dela. Mas não... Nem pra passar a mão no celular... Como fui burro! Se tivesse feito isso talvez hoje não houvesse nenhuma desconfiança, nenhuma cara feia, nada. Se arrependimento matasse...

Agora só me resta tomar coragem e encarar a fera. E o negócio é ficar quieto, bem mansinho. Deixar ela falar, soltar tudo em cima de mim. Nada de revidar, de mostrar que tem razão, de responder. Isso só vai piorar as coisas. Sei que não vai ser fácil. Mas do contrário. a coisa vai ficar feia.

Bastava uma ligação, uma ligaçãozinha só! Que vacilo, que vacilo!

Ele abre a porta da cozinha, onde a mulher o espera com o almoço já frio à mesa.– Bonito, né, seu Noel?! Muito bonito...!

– Perdão, querida! Da próxima vez que a entrega dos presentes de Natal atrasar eu juro que ligo pra avisar. Eu juro! – disse a ela o bom velhinho.

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