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Em Velha Grande,  moradores repetem ritual das chuvas: recolhem pertences e lamentam má sorte de Blumenau | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Em Velha Grande, moradores repetem ritual das chuvas: recolhem pertences e lamentam má sorte de Blumenau| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

O rio recua

Custo de limpeza será de R$ 4 milhões

Parte das áreas urbanas alagadas de Blumenau amanheceram tomadas pela lama, à medida em que o Rio Itajaí-açu recua. Na manhã de sábado, era grande a movimentação de moradores limpando a frente de suas casas. Máquinas da prefeitura trabalham nas principais vias, na tentativa de normalizar o trânsito.

Segundo projeção da administração municipal, o custo total da limpeza será de R$ 4 milhões.

O acompanhamento feito pelo Centro de Operação do Sistema de Alerta (Ceops) de Blumenau mostra que o nível do rio segue baixando. Uma medição feita às 10 horas da manhã de ontem revelou que a altura da água está em 10,85 metros, após ter atingido um pico de 12,60 metros na quinta-feira.

Cerca de 600 pessoas permanecem em abrigos montados em escolas e igrejas. Segundo a Secretaria de Assistência Social do município, o estoque de alimentos é suficiente para durar até o fim estimado da emergência. Cerca de 28 mil pessoas estão sem energia elétrica.

Blumenau, SC - Para os moradores do bairro Ve­­lha Grande, que circunda uma ca­­deia de montes no Extremo Leste de Blumenau, o perigo é duplo e re­­petitivo. Quando chove, a en­­chente no Rio Itajaí-açu e o desmoronamento das encostas se tornam inimigos a atacar em duas frentes.

Na manhã de quinta-feira, um deslizamento de terra destruiu completamente três casas e condenou uma quarta. Outra dezena de moradias ficou isolada da cidade, obrigando os moradores a percorrer uma trilha íngreme em busca de refúgio. Dois carros e uma moto ficaram submersos na lama.

O estampador Luciano Alberto Linhares, 26 anos, foi um dos que perderam a moradia. A reportagem da Gazeta do Povo o encontrou em meio aos escombros tentando encontrar algum pertence ainda utilizável. Carregava uma centrífuga suja de lama e um saco de roupas."Esperamos que, pelo menos, o governo agilize os apartamentos", desabafa.

Segundo ele, que mora na região de risco desde 1994, sua família não pôde ser beneficiada pelo programa de relocação de moradores criado após a enchente de 2008. Tendo uma renda familiar de R$ 1,8 mil mensais – somando o salário da esposa, ficou acima do teto do programa, uma parceria da prefeitura municipal e o governo federal, através do plano Minha Casa, Minha Vida.

O madeireiro Nilton Venceslau, de 33 anos, é vizinho de Luciano, mas sua casa se encontra em uma região mais alta do morro vizinho ao que desabou. Como sua residência não foi atingida pelo deslizamento, recebeu cerca de 10 pessoas que fugiam da catástrofe. "A lama veio deslizando e, em uns dez segundos, já tava chegando", lembra.

Outra moradora que escapou de ter a casa destruída pela lama é a cobradora Juliana Correa, de 27 anos. Lembrando a tragédia provocada pela enchente de 2008, ela acredita estar sob alguma espécie de proteção divina. "Não acontece nada [com a casa em que mora]. Aqui antes funcionava uma igreja evangélica, e em 2008 desmoronou o terreno na parte de trás sem atingir a construção. Agora teve deslizamento na parte da frente, e a casa escapou de novo", cita.

No abrigo montado em uma escola distante três quilômetros dessa localidade, 40 pessoas permaneciam na manhã deste sábado. Apenas uma não era moradora de Velha Grande.

O primeiro a chegar foi o vigilante Moacir Rosa, de 43 anos, com a esposa e filhos. "Salvei praticamente só a roupa do corpo e uns documentos", diz.

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