Gabas: segundo delator, ele seria um dos beneficiados pelo esquema.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O ex-ministro da Previdência e da Secretaria da Aviação Civil Carlos Gabas, amigo pessoal da presidente afastada Dilma Rousseff, é investigado pela Operação Custo Brasil – desdobramento da Lava Jato conduzido pela Justiça Federal de São Paulo. A residência de Gabas em Brasília foi alvo de busca e apreensão nesta quinta-feira (23). Gabas depôs à PF. A suposta participação do ex-ministro no esquema em investigação foi relatada pelo ex-vereador petista Alexandre Romano em delação premiada à procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Gabas negou ter recebido propina.

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Alexandre Romano, conhecido como “Chambinho”, relatou na delação que Gabas, nos dois governos da presidente afastada Dilma Rousseff, recebeu propina acertada com o PT cobrada da empresa Consist Software, por contrato vinculado ao Ministério do Planejamento.O negócio teria como principal beneficiados o ex-ministro Paulo Bernardo (do Planejamento e Comunicação) e sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

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Preso na 18.ª fase

Romano foi preso na 18ª fase da Lava Jato, em agosto de 2015, alvo da Operação Pixuleco 2 – que apontou pagamento de R$ 51 milhões em propinas nesse contrato, a partir de 2010. A Consist foi escolhida para prestar serviços de informática no âmbito do acordo técnico entre o Ministério do Planejamento e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (SINAPP) para gestão de margem consignável em folha de pagamento dos servidores públicos federais.

Após a confirmação do contrato, o ex-vereador diz que foi acertado que ele ficaria com um lucro de 32%, que seria dividido. Segundo a delação de Chambinho, a partilha da propina foi discutida em reunião na sede do PT, em São Paulo, com o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto – preso pela Lava Jato, em Curitiba – e com o ex-tesoureiro petista Paulo Ferreira, casado com a ex-ministra de Dilma Tereza Campello.

O delator aponta Paulo Ferreira com responsável por sua participação no negócio, em reunião na sede do PT, em Brasília, no final de 2009. “Para a conversa, Paulo Ferreira chamou Duvanier Paiva Ferreira (Secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento) e Carlos Gabas”, informou Chambinho. “Foi falado que parte dos lucros da empresa ficaria com o Partido dos Trabalhadores e outra parte com as pessoas envolvidas na operação.”

Chambinho relata que Vaccari não concordou com repasse de parte da propina para Gabas e Duvanier. Paulo Bernardo ficaria com um terço dos 32% porque era na época ministro do Planejamento, chefe de Duvanier Paiva Ferreira. Na sequencia, João Vaccari disse que os outros dois seriam divididos entre o PT (90%) e Alexandre Romano (10%). Romano disse não ter concordado com a partilha e recorreu a Paulo Ferreira. Este, teria proposto o acerto final: “20% para Alexandre Romano e 80% para o Partido dos Trabalhadores”.

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Nova partilha

Chambinho diz que a entrada de Gabas na partilha da propina ocorreu “em um segundo momento”, no final de 2012 – ano das eleições municipais. João Vaccari chamou Romano e pediu para ele conversar com Dercio Guedes de Souza, representante da JD2. Na versão do delator, o ex-tesoureiro do PT teria dito que conversou com “o ministro de Planejamento Paulo Bernardo e que ele teria autorizado tal empresa a entrar no esquema e ter uma participação nos lucros da Consist”. Romano diz ter ouvido do dono da JD2 que Gabas era “um dos beneficiados”.

A entrada de Gabas, segundo revelou o ex-vereador do PT, foi porque na renovação do acordo de cooperação que tinha a Consist como beneficiária no Ministério do Planejamento, o secretário executivo adjunto da pasta Valter Correia “colaborou”. A partir daí, a JD2 “iria receber 50% do valor de um terço que era dedicado ao ministro do Planejamento Paulo Bernardo”.

O delator diz ter ouvido do sócio da JD2 que o valor era dividido entre Gabas, Valter Correia e uma terceira pessoa. A propina foi paga nessa proporção até janeiro de 2015, quando aumentou a participação da JD2. “Ficando esta estabelecida no valor de R$ 300 mil.” Os repasses, segundo Chambinho, “duraram até o ano de 2015, com proporções sendo alteradas ao longo dos meses”. “Quem coordenava a divisão de lucros era a pessoa de João Vaccari”, disse.

Passeio de moto

Gabas foi ministro da Previdência entre 2010 e 2015. Ele é próximo da presidente afastada Dilma Rousseff. Em abril deste ano, ele foi nomeado ministro da Secretaria da Aviação Civil. Em 2013, a presidente saiu para um passeio na garupa de sua moto, que ficou famoso. Ele integra a lista de alvos da Lava Jato que tinham direito a foro especial, por prerrogativa de função, e passaram a ser investigados em primeira instância.

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Elo com Gleisi

O elo de Gleisi com o caso, além do marido, são o advogado Guilherme Gonçalves – alvo de buscas na Operação Pixuleco 2 – e um motorista. “Um terço ficaria para Paulo Bernardo, o que iria receber o dinheiro por intermédio de Guilherme Gonçalves [advogado].” Gonçalves trabalhou nas campanhas da senadora Gleisi Hoffmann.