
Brasília - Não pode haver "permanência para sempre" nem retirada "irresponsável" das tropas brasileiras no Haiti, disse ontem o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, após cerimônia de posse no Palácio do Planalto.
"Não pode haver permanência pra sempre nem retirada irresponsável. Dentro disso vamos trabalhar, tem de ter uma estratégia de saída, isso é bom para o Haiti e para o Brasil", disse Amorim. "Graças em grande parte ao Brasil, a paz no Haiti é apontada como exemplo de componente humanitário, desenvolvimento econômico e social."
O novo ministro afirmou que dedicará seu tempo à frente da pasta à proteção das fronteiras e dos recursos nacionais do Brasil, como o pré-sal. Esses temas são caros aos militares, que ficaram insatisfeitos com a nomeação de Amorim. O discurso foi interpretado como uma tentativa de agradar as Forças Armadas. Segundo Amorim, "um país pacífico como o Brasil não pode ser confundido com um país desarmado e indefeso". Para ele o fato de que o país vive em paz com seus vizinhos não significa que o Brasil não deva se preocupar com sua proteção.
"Há um descompasso entre a crescente influência internacional brasileira e nossa capacidade de resguardá-la no plano da defesa", disse ele.
Para contornar esse problema, ele afirmou que vai trabalhar em coordenação com os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia, além de se empenhar "em obter os recursos indispensáveis para obter os equipamentos adequados às Forças Armadas".
Elogios
O novo ministro da Defesa ainda fez um afago nos militares em seu discurso de posse. Diplomata de carreira, Amorim apontou "valores dignos de admiração" na carreira militar e prometeu empenho para garantir o orçamento necessário para o trabalho da pasta.
"Não ignoro a centralidade da questão orçamentária. [...] Conto com a compreensão dos meus colegas da área financeira. Afinal, o próprio documento legal que institui a Estratégia Nacional de Defesa estabelece vínculo indissociável entre essa e a estratégia nacional de desenvolvimento", afirmou o ministro hoje, no Palácio do Planalto.
Em fevereiro deste ano, o governo cortou R$ 4 bilhões do orçamento da Defesa, o equivalente a pouco mais de um quarto do total disponível para investimento e custeio da pasta.
Amorim assume o ministério após a demissão de Nelson Jobim, que deixou o cargo em meio a polêmicas causadas por uma série de declarações sobre o governo de Dilma Rousseff. Jobim não participou da cerimônia de troca de cargos.
Dilma
A presidente Dilma Rousseff afirmou, durante a posse do novo ministro, que o diplomata "é o homem certo para o lugar certo". Ela disse ter "certeza absoluta" de que ele dará continuidade aos "projetos estratégicos" em andamento no ministério.
Segundo ela, "trocas de comando fazem parte da rotina, desde que se troque o comandante mas que não se deixe de fazer o que precisa ser feito".
A presidente justificou a indicação do diplomata para o cargo dizendo que a escolha foi feita "com cuidado e com a devida convicção", porque "mudanças importantes sempre provocam tensão, mas elas requerem cuidado, elas cobram sensatez e exigem escolhas bem refletidas".



