O secretário de Administração Penitenciária de São Paulo (SAP), Nagashi Furukawa, acaba de deixar o cargo. Ele entregou na noite de quinta-feira sua carta de demissão ao Palácio dos Bandeirantes. O cargo será assumido interinamente pelo pedagogo Luiz Carlos Catirce, que era coordenador de presídios no Vale do Paraíba e litoral e ex-diretor da penitenciária de Casa Branca.
Furukawa ficou cerca de sete anos à frente da Secretaria de Administração Penitenciária. No despacho em que anuncia a saída do secretário, o governador Claudio Lembo assinala que o o período de sete anos em que Furukawa ficou no cargo será 'objeto de reflexão e futuras decisões'.
Foi na gestão de Furukawa à frente da SAP que o crime organizado cresceu e passou a dominar os presídios paulistas. Já nos anos de 1995 e 1996 uma CPI na Assembléia Legislativa de São Paulo indicou a necessidade de o estado reorganizar o estilo de administração dos presídios, na tentativa de conter o poder dos criminosos, e detectou a presença de facções criminosas nas celas.
Logo após a mega-rebelião em 29 presídios do estado, em 2001, outra CPI foi aberta pela Assembléia Legislativa. Também ela, em seu relatório final, indicou que os presídios estavam dominados pelo crime organizado, que exerce poder sobre os demais detentos em troca de regalias e da função mais básica que o Estado deveria prover: a segurança.
Na CPI do Tráfico de Armas, delegados do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) disseram que a facção criminosa comandada pelo preso Marcos Camacho, o Marcola, cobra R$ 50 de cada detento. Quando o detento sai da cadeia, continua 'preso' à facção e passa a pagar mais, R$ 500. Com isso, só dentro dos presídios paulistas o crime organizado fatura R$ 9 milhões por ano.
Os diretores dos presídios são obrigados a negociar com os líderes dos presos - ou seja, do crime organizado - para manter a situação sob controle, já que o número de agentes penitenciários não é suficiente para garantir a segurança de todos os detentos.
Forte dentro dos presídios, o crime organizado realiza cada vez mais rebeliões, matando presos e fazendo agentes reféns. No ano passado e início deste ano, houve grande aumento no número de rebeliões.
Foi também durante a gestão de Furukawa que os presos passaram a usar com facilidade telefones celulares. O governo do estado chegou a comprar bloqueadores de celulares para uso em penitenicárias, entre 2001 e 2002, mas em um ano os equipamentos ficaram obsoletos. Em seguida, foi anunciado o uso de aparelhos de Raio-X, mas não há informação de que eles estejam instalados em todos os presídios.
No último dia 12, o problema saiu de dentro dos presídios e ganhou as ruas de São Paulo.
Durante a semana de ataques, a polícia chegou a dizer que o celular é mais perigoso do que armas. Sem conseguir barrar a entrada de celulares nas penitenciárias - um problema ligado à corrupção de agentes públicos - a polícia paulista pediu à Justiça que obrigasse as operadoras a cortar os sinais de celulares nas regiões de seis presídios do estado. A medida é temporária e, em algumas cidades, afetou a população. Em Iaras, as pessoas não conseguem usar o celular em praticamente toda a cidade, que é pequena.
- Mais 3,2 mil agentes devem aderir à greve nas penitenciárias, diz sindicato
- Veja os projetos aprovados pela CCJ do Senado no pacote contra a violência
- Duas CPIs já tinham alertado governo de SP sobre crime organizado nas prisões
- Combater o crime organizado é combater a corrupção, diz Gaerco
- Bastos atribui onda de violência a falha no sistema penitenciário
- Marcola depõe para CPI entre os dias 6 e 7 de junho
- OAB- SP quer lista de vítimas civis e acesso às prisões do estado
- Crime organizado deixa São Paulo refém
Deixe sua opinião