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As primeiras informações divulgadas na quarta-feira (1º) sobre os dados das caixas-pretas do Airbus A 320 da TAM levam o especialista em acidentes aéreos Raymond Auffray a afirmar que um possível erro do piloto não explicaria sozinho o acidente. Mesmo assim, ele diz que a chance do avião desobedecer um comando manual é de uma em um bilhão.

Na tarde desta quarta-feira, integrantes da CPI do Apagão Aéreo da Câmara afirmaram que a posição dos manetes (alavancas que controlam a turbina do avião) foi, provavelmente, a principal causa do acidente com o Airbus da TAM. O especialista francês diz que os responsáveis pela investigação precisam confrontar todos os dados das caixa-preta antes de tirar qualquer conclusão.

Auffray investigou quase três mil acidentes desde 1964. Entre eles, o do avião da Varig, em Paris, em 1976. Hoje, é especialista para questões aeronáuticas a serviço da Justiça francesa.

Questões importantes

O especialista aponta duas questões importantes para compreender o contexto do acidente com o vôo 3054. A primeira é a decisão do piloto: se em uma pista escorregadia o spoiler (freio aerodinâmico) não funcionou, o piloto tem que arremeter, decolar de novo e procurar um aeroporto com pista longa para pousar. Auffray afirma que a investigação pode esclarecer por que este não foi o procedimento adotado na dia do acidente em Congonhas.

A segunda é o procedimento da TAM. Segundo o especialista, o manual da Airbus diz que o reverso tem que ser consertado em até dez dias. Mas a companhia deveria rever esses parâmetros de acordo com as condições em que opera. Pistas curtas estão entre os exemplos citados. Ele diz que o único vôo que deveria ser feito pelo avião com problema seria entre o local onde ele foi detectado e a base operacional onde seria feito o reparo.

Aceleração indevida

Ele afirma ainda que é possível que um piloto, mesmo sabendo que um reverso está quebrado tente acioná-lo. O comando faria o avião acelerar, em vez de parar. "Isso aconteceu antes, com um avião a 300, aqui na França. O avião derrapou e saiu da pista, sem maiores conseqüências", disse.

O especialista afirma que uma tragédia como a ocorrida em Congonhas é sempre resultado de várias situações anormais. "Se for só anomalia, é uma pane simples, que não pode ter conseqüências catastróficas. Se você não vê bem lá fora, as condições meteorológicas são ruins, a pista está alagada, a ação das rodas é ineficaz, etc., etc., isso se torna catastrófico", afirmou.

Relatório em um mês

A CPI do Apagão Aéreo pretende concluir o relatório sobre a tragédia do Airbus em um mês. Na quarta-feira (1º), os dados de uma das caixas-pretas começaram a ser analisados. Depois da leitura das transcrições, os parlamentares se reuniram em sessão secreta para tomar conhecimento dos dados registrados pelos computadores da aeronave.

Diálogos

O relator da CPI do Apagão Aéreo da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que é precipitado falar que foi erro humano. Em entrevista ao G1, o relator confirma que a posição dos manetes (alavancas que controlam a turbina do avião) pode ser "fator gerador do acidente", mas é cauteloso ao falar se os problemas apresentados no equipamento foram em decorrência de falhas dos pilotos.

Reação das famílias das vítimas

Ao conhecer detalhes da transcrição, o médico Maurício Pereira, de 50 anos, não se surpreendeu com o conteúdo da caixa-preta. Ele perdeu a filha Mariana Simonetti Pereira, de 22 anos, na tragédia de 17 de julho. "Eu até imaginava que seria assim", disse ele. "Acho que o piloto é a maior vítima. Por instinto, a gente preserva a nossa vida e ele (piloto) era o que tinha mais consciência do que estava acontecendo", afirmou o médico.

A família do comandante Kleyber Aguiar Lima, piloto do Airbus, não acredita em falha humana no acidente. "Uma pessoa que faz isso há 27 anos não pode ter um erro simplório deste. É uma pessoa que tem experiência, passou por curso inclusive nos Estados Unidos. É minha opinião e a do resto da família", afirmou o sobrinho do piloto, o estudante Sheldon Lima de Melo, de 19 anos.

A irmã do comandante, Shirley Lima de Melo, de 56 anos, também falou da experiência do piloto ao dizer que não acredita em erro humano. "Ele era instrutor, trabalhava havia 27 anos na TAM, como ele ia cometer um erro bobo desses? Não tem porque pensar uma coisa destas", disse.

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