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Antes de o Rio ser escolhido como sede da Olim­­­píada de 2016, a notícia de maior repercussão no país nesta semana havia sido a do cancelamento do Enem. A prova vazou e algum espertinho tentou ganhar R$ 500 mil em cima. Dá um certo medo pensar no que pode acontecer com a Olimpíada. Se não conseguimos evitar que a co­­­biça de R$ 500 mil arrasasse a organização de uma prova, como será que nos sairemos com os jogos?

Pode parecer mero pessimismo, ou brincadeira de mau gosto, no momento em que o país todo parece comemorar a chegada das Olimpíadas. Mas não é. Temos um passado pouco glorioso na organização de eventos internacionais. Alguém aí se lembra da Eco-92? Moradores pobres foram escondidos às pressas para deixar o Rio mais perto da cidade do cartão-postal. E o que dizer dos Jogos Pan-Americanos? O governador Sérgio Cabral disse ontem que não houve violência nos jogos. Mas e os atrasos? E os elefantes brancos?

Se alguém aí se lembrar, o filme Tropa de Elite também se baseia em um evento de grande porte ligado ao Rio de Janeiro. O Papa João Paulo II vinha ao Brasil e ficaria em uma casa próxima a uma favela. A atuação do Bope, com extrema violência, teria sido feita para garantir a segurança do visitante.

Por outro lado, a Olimpíada pode ser uma grande oportunidade para o Brasil. Nem tanto economicamente. Um artigo de Andrew Zimbalist, professor de economia da Smith College, no site do New York Times, ontem, mostra que a maior parte das cidades que fizeram Olimpíadas recentemente tiveram prejuízo. Caso de Montreal, que foi sede em 1976 e só zerou a dívida 29 anos depois, em 2005. Quando deram sorte, as cidades saíram no empate. Lucro parece ilusão.

O lucro que pode advir de um evento desse porte, na verdade, tem a ver com a imagem do país. Veja o que fizeram os chineses no ano passado. Embasbacaram o mundo em todos os aspectos possíveis. Instalações suntuosas, desempenho formidável nas provas, organização sem falhas. Saíram da Olimpíada com mais cara de nova potência mundial.

O Brasil tem uma chance única de impressionar o planeta nos próximos anos. Atualmente, como em outros momentos da história, é visto como uma grande promessa. Mas isso não é novidade. Na era Kennedy já éramos considerados um dos "países-baleia", que definiriam o rumo do mundo. Na era Obama, somos um dos Bric (curiosamente Brasil, Rússia, Índia e China eram as baleias de Kennedy).

Precisamos agora sair da promessa. E em 2014, com a Copa, e 2016, com a Olimpíada, podemos mostrar que nos tornamos realidade. Podemos ser a nova China, só que com a vantagem da democracia. Para isso teremos de superar alguns desafios.

O primeiro desafio é o do di­­­nheiro... Mas esse não é o maior. Os maiores problemas são três. Primeiro, a gestão pré-evento. Temos de ter políticos que pensem grande. Que sejam rápidos. E que percebam a importância da janela que se apresenta para nós. Ontem, dez minutos depois da escolha do Rio, um colega dizia: "Alguém já deve estar esquematizando como ganhar dinheiro por fora com isso". Dá um certo medo. O segundo desafio é o da organização. Terminar obras a tempo, fazer pelo menor preço, pensar em legados para a população. Barcelona é o melhor exemplo de como isso pode funcionar.

E, terceiro, precisamos ter competidores fortes para as provas. Isso quer dizer que o governo precisa investir melhor em esporte. E precisa investir mais na base. Formar atletas desde a escola. Só assim o país deixará de ganhar umas poucas medalhas em esportes nos quais é forte por tradição (vôlei, futebol) e outras mirradas pelo surgimento de talentos inatos.

Temos a chance de nossas vidas. Que nossos governos não joguem tudo isso na lata de lixo por um punhado de dólares. Ou por mera incompetência.

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