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Charles Dickens já escreveu que o pior dos tempos pode ser, ao mesmo tempo, o melhor dos tempos. Há períodos eleitorais que são exatamente assim. Por um lado, o cidadão comum tem a chance de escolher todos os seus representantes, de dizer quem quer para governar seu estado e seu país. O que, convenhamos, é absolutamente genial.

Por outro lado, tempo de eleição também costuma ser tempo de horrores praticados contra a própria democracia. Há posições tomadas durante o período eleitoral que acabam transformando esse em um período de preocupação. E o que coloca a democracia em risco, ou pelo menos tira um pouco do brilho da festa, quase sempre é o mesmo problema. O radicalismo.

Fanatismos de qualquer tipo sempre atrapalham a conversa. E no período da eleição há fanáticos de todos os lados. Começando pelos candidatos: o que está se vendo por parte dos dois principais grupos que disputam o poder é um show de baixarias. Do lado do PSDB, José Serra troca os pés pelas mãos e diz que o PT perseguirá religiões. Do lado do PT, o próprio presidente (que deveria se colocar acima de disputas partidárias), entra na briga rasa e fala em extirpar um partido adversário.

Mas não é só da parte dos políticos profissionais que nasce o clima de intolerância. Entre alguns comentaristas – graças a Deus, a minoria – também tem se dado um fenômeno que impressiona. Um fanatismo por um dos dois projetos dominantes de poder que acaba prejudicando a discussão a sério sobre qualquer coisa.

Há blogueiros-panfletários, por exemplo, que parecem incapazes de escrever um texto que não seja contra Lula, o PT ou o governo. Com a possível exceção dos textos que são a favor de Serra. Do outro lado, há quem faça exatamente o oposto. São os blogs em que só o que se faz é elogiar Lula e tudo o que for relacionado a ele. A oposição? É o horror dos horrores, não acerta uma e, de preferência, poderia igualmente ser extirpada.

O fanatismo já foi definido como o fator que leva alguém a continuar fazendo algo sem nem mesmo lembrar o motivo porque começou. Em política isso significa o seguinte: você começa defendendo um candidato, ou um partido, um projeto, porque acredita que ele pode ser bom para a sociedade. E termina apoiando aquele grupo mesmo quando ele está errado, pelo simples motivo de que é àquele pessoal que você, por qualquer razão desconhecida à razão, sente que deve ser fiel.

Em outras palavras: o fanatismo leva à ignorância. No caso da imprensa, pior ainda: leva ao descrédito e à perda de relevância. Jornais e jornalistas sérios são aqueles que julgam cada caso, cada momento e cada projeto separadamente. Que tentam entender o mundo à sua volta e explicá-lo para o leitor. Não os que tomam simplesmente partido de alguém e seguem a seu lado independente do que aconteça.

Quem só critica um lado, ou só defende outro, coloca, além de tudo, a imprensa como um todo sob uma patética suspeição. E jornalistas sérios acabam sendo confundidos por políticos, admitamos, mal-intencionados, com esses panfletários que andam por aí.

O que é preciso, sim, é defender a democracia, a sociedade, boas ideias e bons projetos. Quem estiver do lado certo, naquele momento, merece elogios. Quem pisar na bola que seja repreendido. Mas com mais razão e menos emoção.

PS: A atual campanha deu um bom indício de que os próprios eleitores estão cansados dos arroubos exagerados de PSDB e de PT. Enquanto os dois se engalfinham e fazem um jogo cada vez mais baixo, a candidatura de Marina Silva, sem apoio na maior parte dos estados, tem perto de 20 milhões de adeptos. Podem ser méritos dela. Mas o mais provável é que se trate de gente que não aguenta mais essas picuinhas e baixarias.

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