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Barack Obama usou o velho expediente de abrir o discurso com uma piada. A imprensa toda se reuniu na Casa Branca para falar com o presidente, que acabava de receber possivelmente a maior honraria do planeta, e ele começou falando sobre a maneira como suas filhas falaram com ele pela manhã. Segundo ele, Malia entrou e disse "Papai, você ganhou o Prêmio Nobel da Paz, e é aniversário do Bo!". Bo é o cachorro da família. A outra filha, Sasha, comemorou o feriado de três dias nos EUA. "É bom ter crianças para manter as coisas em perspectiva", disse o presidente.

Em seguida, Obama fez um belo discurso sobre os ideais que norteiam seu governo e que, acredita-se, foram os valores que lhe garantiram o Nobel. O texto tem a força e a elegância de um discurso do reverendo Martin Luther King.

"Não podemos aceitar a ameaça crescente posta pelo aquecimento global, que poderia causar danos permanentes ao mundo que nós vamos passar a nossos filhos. (...) Não podemos permitir que as diferenças entre as pessoas definam o modo como vemos uns aos outros. (...) Não podemos aceitar um mundo em que mais pessoas têm negadas as oportunidades e a dignidade a que todos aspiram – a possibilidade de receber educação e ter uma renda decente; a segurança de que você não terá de viver com medo de doença ou violência sem esperança no futuro."

Obama tem um sonho. Foi por isso que chegou à presidência dos Estados Unidos. A nação mais poderosa do mundo nasceu dos ideais de um grupo de iluministas interessados na busca da felicidade e na igualdade entre as pessoas. Seu principal defeito era a escravidão dos negros. Obama retoma os melhores valores do país e é um símbolo da superação do pecado original norte-americano.

Muitos disseram ontem, após o anúncio do Nobel, que a escolha de Obama seria precoce. É verdade. O prêmio veio antes do que se poderia esperar. Mas é nítido que não foram as realizações concretas que levaram o presidente norte-americano a ser premiado. Sua recuperação de valores que vinham sendo ignorados por outros governantes foi que lhe cacifou para o Nobel.

Obama pode não ter resolvido nenhum grande problema no seu curto governo, mas sua ficha de serviços pela humanidade, pensando bem, é bastante grande. Começou em projetos sociais em Chicago, numa história bonita por si só. À presidência chegou superando a questão étnica dos Estados Unidos, e ajudou a sedimentar a paz racial num país brutalmente dividido até poucas décadas atrás. Promoveu a aproximação com nações muçulmanas, num momento em que Ocidente e Islã parecem sempre à beira da guerra.

Obama determinou o fim da tortura pelas forças repressivas norte-americanas, encarada com naturalidade por seu brutal antecessor, George W. Bush. Prometeu o fechamento de Guantánamo. Mostrou que o diálogo é melhor solução do que a política dos "senhores da guerra" para a resolução de conflitos. No front interno, tem lutado para dar plano de saúde a seus compatriotas mais pobres. Ajudou a superar a crise econômica e confrontou os senhores do lobby e do dinheiro.

Falta muito para que se chegue a um mundo melhor, ao mundo que Obama, Luther King e outros grandes homens e mulheres vêm sonhando em alcançar. Mas Obama vem mantendo o sonho vivo. Teve a audácia de falar em paz e esperança num mundo pós-Bush, dividido e aterrorizante. E merece ser premiado por isso.

Longa vida a Barack Obama. Longa vida a nossos sonhos.

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