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Celso Nascimento

A campanha mostra sua cara

A campanha pelo governo estadual, para a qual se apresentam com mais vigor até agora Beto Richa, Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, certamente não será monotemática. O debate vai abranger uma infinidade de problemas que afetam o estado e serão abordados pelos candidatos de acordo com o viés político-ideológico de cada um.

De uma coisa, porém, já se tem certeza: a campanha ganhará contornos radicais, como já foi possível notar pelo que aconteceu no último sábado, na Região Noroeste. Richa e Gleisi participaram juntos dos mesmos eventos, um em Quarto Centenário, outro em Umuarama. No primeiro, Richa falou antes e chorou pelos empréstimos que não consegue, segundo ele, por falta de ajuda dos três ministros paranaenses.

Em Umuarama, última a falar, Gleisi deu o troco em tom surpreendente: acusou Richa de "mentiroso", negou que os ministros tivessem culpa e atribuiu as dificuldades do Paraná à incompetência do próprio governo.

Requião, embora nem tenha certeza se será mesmo candidato, não quis ficar de fora e repreendeu os dois. Seu temor é que a disputa seja polarizada entre Gleisi e Beto e ele, se candidato for, acabe fora dos holofotes.

TC isenta estado de subsidiar ônibus. Foi combinado?

Sorrisinhos marotos são trocados entre figuras do primeiro escalão estadual desde que, na última quinta-feira, uma decisão liminar do Tribunal de Contas determinou a redução da tarifa técnica do transporte coletivo de R$ 2,93 para R$ 2,50 – uma diferença de 43 centavos.

Por que sorriem? Porque, com a medida do conselheiro Nestor Baptista – a ser possivelmente referendada nesta quinta pelo pleno do Tribunal – o estado praticamente se livra da obrigação de subsidiar o transporte integrado, que hoje lhe custa R$ 5 milhões por mês. Siga o raciocínio:

- Chova ou faça sol, as empresas de ônibus recebem atualmente R$ 2,93 por passageiro;

- O passageiro (nem todos, pois há os isentos), por outro lado, paga R$ 2,70, o que dá 23 centavos a menos;

- Esta diferença é paga pelo pela prefeitura de Curitiba (uma parte) e pelo estado (outra parte). O estado entra nisto porque o sistema atende não apenas Curitiba, mas a 13 cidades vizinhas.

- É a esta diferença coberta pelos governos municipal e estadual que se dá o nome de subsídio.

Pois bem: se o pleno do Tribunal confirmar a redução, a prefeitura de Curitiba (via Urbs, que gerencia o sistema) será obrigada a cumprir a determinação. O que significa que o cálculo do reajuste da tarifa nos próximos dias se fará a partir do novo valor básico, R$ 2,50.

Se o reajuste, por hipótese, considerando a inflação dos últimos 12 meses (5,9%) somada a outros encargos, chegar – vá lá – a 10%, isto significa que, na prática, as tarifas técnica e do passageiro vão empatar. Ou seja, estado e prefeitura poderiam se livrar do subsídio.

Mas neste ponto a porca torce o rabo: as concessionárias estariam dispostas a ganhar menos? Claro que não: elas recorrerão à Justiça e, sem dúvida, ganharão liminares que lhes garantirão reajustes calculados sobre a tarifa técnica atual, de R$ 2,93.

Neste caso, a prefeitura terá de cumprir a determinação judicial, gerando um rombo muito maior do que o existente agora. Já o ônus político recairá sobre o prefeito Gustavo Fruet, pois cabe a ele baixar novo ato de reajuste e/ou administrar a necessidade de recolocar o subsídio do estado sobre a mesa de discussão.

Na outra ponta da avenida Cândido de Abreu, no 3.º andar, haverá um esfregar de mãos de satisfação. Pergunta-se, com todo o respeito que as instituições merecem: teria havido uma "combinação" com o TC para empurrar o problema para o colo de Fruet?

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