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Celso Nascimento

A canonização de Derosso

A Comissão de Ética da Câmara de Curitiba divulga hoje à tarde o relatório do que apurou em relação às denúncias contra o presidente da Casa, vereador João Cláudio Derosso. Além do próprio Derosso em duas sessões (uma pública, outra secreta), a comissão ouviu também servidores que dirigiram os processos de licitação e contratação da agência Oficina da Notícia – empresa de sua mulher – por meio da qual o Legislativo gastou perto de R$ 5 milhões em cinco anos.

Ganha uma bala de hortelã, para refrescar o hálito amargo, o leitor que apostar que o relatório vai inocentar Derosso das irregularidades levantadas contra ele. A curiosidade reside apenas em como serão terçados os argumentos para inocentá-lo. Provavelmente, a comissão acatará a tese de que, quando o contrato foi firmado, ele ainda não estava casado com a jornalista Cláudia Queiroz Guedes, a dona da empresa.

Mais difícil – mas certamente se arranjará um jeito – será justificar o fato de que, mesmo não se constatando os laços matrimoniais do presidente com a dona da empresa – a Câmara ainda assim estava legalmente impedida de firmar o contrato uma vez que a titular da Oficina da Notícia era servidora da Casa. A Comissão de Ética aceitará o argumento pedestre de que a culpa deve recair sobre Cláudia Guedes por não ter informado que era funcionária?

O processo que levará à canonização de Derosso não vai se esgotar no relatório da Comissão de Ética. Seguramente vai prosseguir no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instituída para o fim de aprofundar as investigações. As cartas estão todas marcadas nas duas instâncias. Na primeira, presidente e relator são do PSDB, mesmo partido do acusado. Na outra, sete dos seus nove membros fazem parte das majoritárias bancadas de apoio e irrestrita fidelidade ao presidente.

À CPI competiria examinar também o destino final dos R$ 30 milhões empenhados em favor da Oficina da Notícia e também de outra empresa de propaganda, a Visão Publi­­cidade. O exame de faturas e notas fiscais ajudaria muito. Somente através da Visão foram gastos R$ 14 mi­­lhões para supostamente editar e imprimir um jornal intitulado Câmara em Ação. Como nunca ninguém viu o tal jornal im­­presso, supõe-se que esta seria uma das origens da boa vontade que muitos vereadores devotam ao presidente João Cláudio Derosso.

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