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Aumento salarial para motoristas e cobradores e o fim da greve que tirou de circulação 100% dos ônibus são questões prestes a encontrar solução. É a parte, digamos, mais fácil de toda a questão que envolve o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana. Basta que os sindicatos patronal e de trabalhadores cheguem a um acordo e a Justiça do Trabalho o homologue. Ontem à tardezinha esse acordo parecia prestes a ser estabelecido. Por sugestão da juíza que faz a conciliação entre as partes, o reajuste salarial seria de 10,5% – isto é, mais do que os 5,26% propostos pelos patrões e menos do que os 16% reivindicados pelos motoristas e dos 22% pedidos pelos cobradores. Ainda assim não houve acordo na audiência de ontem, para a qual tinham sido convocados à mesa os dois sindicatos e representantes da prefeitura e do governo estadual (este último, apesar de notificado, não mandou representante). Na hipótese de ser fixado o índice de aumento salarial de 10,5% e a ele somados os reajustes dos demais itens da planilha, a tarifa técnica (aquela que é paga aos empresários) imediatamente se aproximaria dos R$ 3,40, mais ou menos o quanto pleiteiam as concessionárias. Se acabar com a greve parece fácil assim, bastando transferir custos para a tarifa técnica, muito mais difícil é fazer o povo engolir aumento superior ao da inflação (menos de 6%) sobre o atual preço da passagem, de R$ 2,70. É exatamente neste ponto que começa a entrar o jogo bruto político-financeiro entre os governantes que têm responsabilidade na fixação do preço da passagem para o usuário. No caso, o prefeito Gustavo Fruet (que cuida de Curitiba) e o governador Beto Richa (que responde pela região metropolitana).

É de Fruet a obrigação de assinar o decreto do eventual reajuste, mas ele só o fará após definido de quanto será o subsídio do governo estadual para sustentar a integração da rede metropolitana. Até agora, dizem fontes da prefeitura, só se viu a propaganda do governo anunciando que continuará dando R$ 5 milhões por mês. Mas não há ato oficial que o comprometa e nem há, da parte do município, disposição para aceitar apenas esse valor, considerado insuficiente para garantir preço justo para o usuário, algo em torno de R$ 2,85.

O clima prosseguia tenso entre todos os envolvidos na noite de ontem: 1) ameaçados de prisão por Fruet caso se confirme que a greve foi combinada entre eles, os presidentes dos dois sindicatos (de patrões e de empregados) estavam irritados; e 2) nos gabinetes da prefeitura definiam-se nervosamente os rumos técnicos e políticos a tomar. O primeiro deles é esperar a volta de Richa, em férias no exterior, no dia 7 de março. Até lá, o usuário continuará pagando R$ 2,70, prometeu Fruet. Outra tendência é fixar uma tarifa para Curitiba e depositar o mesmo valor para as empresas metropolitanas. Como o custo delas é maior, que elas busquem, diretamente com o governador, a diferença de que precisam para sobreviver.

Olho vivo

Bater e...

Perdoem, caros leitores, pela rudeza da comparação, mas é impossível não trazer à lembrança aquele dito popular, machista e politicamente incorreto, segundo o qual "o malandro pode não saber porque está batendo na mulher, mas a mulher sabe porque está apanhando". Quando, de repente, multidões tomarem as ruas, elas até podem não ter muita clareza quanto às motivações do protesto, mas com certeza os políticos saberão porque foram escolhidos como alvos prediletos dos manifestantes.

... apanhar...

Os uivos da insatisfação popular podem se concentrar, por exemplo, no aumento da passagem de ônibus ou contra a Copa – mas eles representarão a generalização "contra tudo que aí está". Já vimos esse filme em junho do ano passado. E vimos também o quão ávidos ficaram os políticos para agradar e reconquistar as massas. Os manifestantes podiam não saber porque estavam batendo, mas eles, os políticos, sabiam porque estavam apanhando. Então, se os black blocs não atrapalharem e o povo sair de novo às ruas, podem os senhores deputados e juízes que anteontem festejaram a aprovação do auxílio-moradia para os magistrados saber que, implícita ou explicitamente, estarão incluídos nos protestos. Pois é moral e socialmente injusta a concessão do privilégio, ainda que supostamente legal.

... é só começar

Da forma como ficou o texto – vago, genérico –, abriram-se as portas para pagamento do auxílio-moradia para todos, incluindo para o aposentados e para os que, morando em casa própria, dele não precisariam. Talvez retroativamente e em valores a serem fixados a portas fechadas. Nascido nas entranhas do Tribunal de Justiça, o projeto embute também, na surdina, outras vantagens, como verbas de representação e adicionais já incluídos nos subsídios.

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