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Se depender de uma atitude firme da Câmara Muni­ci­­pal, o "Derossogate" pode dar em nada: o protagonista dessa história, o vereador e presidente da Casa, João Cláudio Derosso, nem será condenado pela Comissão de Ética e nem a CPI levará a resultado nenhum. O descrédito é decorrente da "síndrome de São Tomé" – aquele que só acreditou quando viu o Cristo ressuscitado, segundo relata a história bíblica. Diante do tanto que já aconteceu no país – coisas mais graves até do que as de que é acusado Derosso – não será surpresa se a impunidade prevalecer.

Não é o que a sociedade quer, mas é a isso que os conchavos políticos e a pequena representatividade da oposição naqueles foros internos de julgamento podem levar. Pode restar ainda o caminho do Judiciário se, usando instrumentos próprios, o Ministério Público achar que há razões legais suficientes para denunciar o vereador. Caso contrário, as chances são mínimas ou até mesmo nulas – como manda, em regra, a infeliz tradição brasileira.

Hoje, por exemplo, Derosso será ouvido pela segunda vez pela Comissão de Ética, agora em caráter secreto para que a população não tome conhecimento de detalhes da vida íntima do acusado de ter favorecido com contratos milionários a empresa de propriedade da mulher, a jornalista Cláudia Queiroz Guedes. A Comissão é presidida pelo vereador Francisco Garcez e o relatório será proferido pelo vereador Jorge Yamawaki – ambos do PSDB, mesmo partido que Derosso comanda em Curitiba.

Embora no plano do próprio Legislativo não se deva esperar muita coisa, não há dúvida de que o "Derossogate" já produziu efeitos importantes do ponto de vista político, com consequências que se projetam para a eleição do ano que vem.

Os primeiros efeitos da derrocada política

O primeiro e mais imediato efeito: Derosso já perdeu qualquer chance de realizar o sonho de ser vice-prefeito. Ele trabalhou para evitar que Gustavo Fruet fosse candidato a prefeito pelo PSDB (o que resultou na desfiliação deste) porque pretendia figurar como vice na chapa de reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB). Seu projeto agradava Ducci e atendia ao planos recônditos de Beto Richa. Hoje, porém, tanto Beto quanto Ducci querem distância de Derosso.

O funeral de Derosso não deixa Ducci imune às conseqüências: ele agora precisa fazer ginástica para achar outro nome. A preferência natural seria por um tucano para sacramentar a aliança PSB/PSDB. Considerando o quadro atual, no entanto, não há solução à vista. Por isso, já trabalha com a hipótese de escalar para a posição representante de outro partido. Um nome que passou a ser cogitado é o do deputado (e atual secretário municipal) Osmar Bertoldi, do DEM.

Outro efeito do "Derossogate" é a projeção que a oposição passou a ter. Aos minguados cinco vereadores de partidos que não faziam parte da base do prefeito já se juntam vários outros, não só em obediência à orientação superior de suas respectivas legendas, mas também como parte de um processo de reorganização das forças visando à eleição do ano que vem.

Estão nesse caso, por exemplo, os três vereadores do PDT, que antes votavam com Ducci, mas que, com a possível filiação de Gustavo, mudam de lado. Os dois do PPS também já firmaram posição, assim como o único representante do PSC. Esses três partidos, como se sabe, ou são da base do governo federal ou têm projetos independentes, como é o caso do PPS, que até já pensa em lançar candidato próprio a prefeito: o deputado Rubens Bueno ou a vereadora Renata Bueno? O PSC, por sua vez, trabalha para lançar o deputado Ratinho Jr., seu presidente estadual.

Há insatisfações também no PSDB. Não poucos tucanos nutrem simpatias pela candidatura de Gustavo Fruet, o que poderá fazê-los repensar o alinhamento obrigatório a que deveriam se sujeitar. Outros tucanos, menos comprometidos com os rumos municipais do partido, já nem escondem sua posição crítica. Ainda ontem o senador Alvaro Dias, líder da oposição no Senado, foi taxativo ao opinar pelo imediato afastamento de Derosso da presidência da Câmara e também do PSDB. "Não podemos combater a corrupção dos outros se calarmos a respeito do que acontece aqui", afirmou.

Mais um efeito: Gustavo Fruet, até há pouco acossado por pressões para que definisse logo seus caminhos, subiu no camarote – de onde passou a assistir, bem antes do que esperava, o destroçamento de Derosso e de alguns outros adversários em meio à poeira levantada. Se tudo isso vai beneficiá-lo e em que medida ele, prudentemente, ainda não calcula.

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