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Celso Nascimento

O altar e a bala de hortelã

Humildemente, esta coluna reconhece que deve uma bala de hortelã aos leitores que já imaginavam que o relatório da Comissão de Ética da Câmara Municipal proporia punição ao presidente da Casa, vereador João Cláudio Derosso. Na edição de quinta-feira, mesmo dia em que a Comissão divulgaria seu veredito, a coluna, equivocadamente, dizia que o enrolado Derosso sairia de lá prestes a galgar o altar da canonização.

Ledo engano da coluna: o relatório do vereador Jorge Yamawaki (suplente, PSDB) reconheceu que o presidente cometeu irregularidade ao assinar contrato com agência de propriedade de funcionária da Casa. E que, depois de casado com ela, firmou também aditivos que transferiram à agência R$ 5 milhões. Por causa disso, o relatório sugeriu punir Derosso com o afastamento do cargo por 90 dias.

A primeira votação do relatório ainda será no âmbito da Comissão de Ética, na manhã desta segunda-feira, já que dois dos seus cinco membros se insubordinaram contra o teor do documento. Um deles é a vereadora Noêmia Rocha (PMDB), que, ao apresentar seu voto em separado, proporá a cassação de Derosso. O outro voto em separado será de Valdemir Soares (PRB), que provavelmente pedirá punição mais suave, só uma advertência.

O voto de Noêmia Rocha está, de antemão, derrotado. Os demais membros da comissão não a acompanharão. Sobrarão para a decisão final, portanto, o "rigoroso" voto do relator Yamawaki e o que conterá a amena advertência do pastor Valdemir. Ou seja: ou a Comissão referendará a recomendação de suspender Derosso ou reduzirá a pena para uma simples advertência.

Dificilmente a decisão final acontecerá antes do feriadão dessa semana. Nenhum leitor se inscreveu para disputar a bala de hortelã, mas a guloseima continua guardada para a próxima etapa do processo de julgamento: o relatório final da Comissão ainda precisará ser votado pelo plenário da Câmara – consistório de 38 vereadores que, nunca antes nesses 15 anos em que Derosso ocupa a presidência, ousou causar-lhe a mínima contrariedade, o que faz supor, outra vez, que os vereadores não se negarão a impedir que Derosso suba ao altar da santidade. A bala de hortelã, portanto, continua em jogo.

Enquanto isso, aguarda-se o início dos trabalhos da CPI já instituída e composta por nove vereadores – sete deles da situação. Ainda falta eleger presidente e relator, cargos aos quais a oposição não galgará. Só depois disso é que começarão as investigações, voltando-se ao lenga-lenga já quase esgotado – do ponto de vista de sua evidente ilegalidade, para não falar da imoralidade – da contratação da Oficina da Notícia, a agência da mulher de Derosso.

É quase certo que faltará empenho da CPI para investigar o papel que representava a outra agência contratada, a Visão Publicidade, que administrou R$ 25 milhões da Câmara – verba cinco vezes maior do que aquela destinada à Oficina da Notícia. Tanto num quanto no outro caso, o importante será acompanhar o dinheiro gasto até o seu destino final, não só por meio do exame de notas fiscais mas, sobretudo, pela quebra de sigilos bancários. Aliviada, a CPI alegará que não dispõe (felizmente!) de prerrogativas legais para chegar a esse ponto.

Ah! aquela bala de hortelã...

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