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Olho vivo

Mistério 1

O governador Beto Richa confirmou ontem a repetição da rotina de cortar gastos no fim do ano, às vésperas do pagamento do 13º para o funcionalismo. No ano passado, mandou cortar 15% das despesas de custeio. Neste, dobrou a aposta para 30%. Luz, água, telefone, cafezinho, combustíveis, passagens, tudo isso sofrerá sob o fio da navalha, sem que ninguém do distinto público sinta falta.

Mistério 2

Mas há um detalhe curioso. Segundo Richa e seu secretário da Fazenda, nenhum serviço público será prejudicado. Ora, se se pode gastar 30% a menos nos três últimos meses do ano sem causar transtornos a ninguém, por que não economizar os mesmos 30% durante todo o ano? O raciocínio nos leva a entender que durante nove meses há desperdício com gastos desnecessários. Não é mesmo um mistério?

A reeleição de Dilma Rousseff merece ser vista também a partir do nosso umbigo – isto é, o que ela pode significar dos pontos de vista que interessam à nossa aldeia. Que diferença fará ao Paraná e a Curitiba a permanência dela por mais quatro anos no Palácio do Planalto?

Se o eleito tivesse sido o tucano Aécio Neves, as respostas seriam fáceis e as consequências, mais visíveis a curto prazo. O governador Beto Richa certamente poderia contar com a merecida retribuição pelas vitórias que o correligionário alcançou no estado nos primeiro e segundo turnos. O irmão Pepe Richa, por exemplo, já estava até designado para a presidência de Itaipu, sem contar que os cofres federais tenderiam a ser mais generosos com o estado.

Em posição mais incômoda ficaria o prefeito Gustavo Fruet (PDT), mas certamente bem administrável em curto espaço de tempo. Amigo pessoal e colega de Aécio por alguns mandatos na Câmara, afora o fato de já terem pertencido ao mesmo partido, o PSDB, o retorno do filho pródigo ao antigo ninho se faria sem traumas, mesmo porque o PT – com a ajuda do qual foi eleito prefeito em 2012 – já não seria causa de dificuldades.

Entretanto, não foi Aécio que ganhou, mas Dilma. Na aparência, portanto, parece que tudo vai ficar como dantes no quartel de Abrantes. O governador do Paraná na oposição, Fruet na situação em relação ao poder central.

Some-se a isto a diminuição da expressão do PT paranaense. Não fez boa figura na última eleição: conseguiu, com a senadora Gleisi Hoffmann como candidata ao governo estadual, apenas uma modesta terceira posição. A bancada petista na Assembleia, de sete deputados na atual legislatura, reduziu-se a três na próxima. Para a Câmara, contribuiu com quatro dos nossos 30 deputados.

Diante disso, a pergunta ainda não respondida – mas que não demorará muito a chegar – é se o PT estadual conseguirá manter posição de proeminência no novo governo de Dilma. Já chegou a ter três ministérios: Gleisi na Casa Civil, e os ainda ocupantes Paulo Bernardo nas Comunicações e Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência.

É sério, portanto, o risco de o Paraná, sob Dilma, perder presença política. O governador Beto Richa, que acusava os três ministros de serem os responsáveis pelo suposto boicote que o estado teria sofrido, a quem acusará se continuar apresentando as mesmas dificuldades nos próximos quatro anos? Ou seja, com a reeleição da petista é bem capaz de o Paraná ver diminuída até mesmo a possibilidade de ter contra quem reclamar. Talvez deva reclamar ao bispo.

Decresce também o poder de interlocução do prefeito Gustavo Fruet – altamente dependente de verbas federais para a manutenção de serviços básicos municipais (na saúde, por exemplo), mas sobretudo para investimentos. Recebeu promessas de papel passado de Dilma, como os R$ 1,8 bilhão para o metrô, além de outros R$ 3 bilhões para infraestrutura. Os baixos resultados eleitorais que a presidente obteve em Curitiba poderão ser debitados na conta de Fruet, o que o tornaria, em contrapartida, mais dependente da boa vontade de Richa. Mas este também tem muito pouco a lhe oferecer. Diante disso, o futuro do prefeito Fruet é ainda um enigma.

Politicamente muito forte na sua própria aldeia, mas frágil no plano nacional, Beto Richa terá agora de encontrar caminhos alternativos para cumprir a promessa de que "o melhor está por vir". Trata-se de outro enigma: dos três senadores do Paraná, dois lhe fazem oposição. Tem maioria entre os deputados federais, mas a timidez com que agem não faz supor que eles lhe socorram nos piores momentos.

Resta uma esperança: acreditar que a conclamação que Dilma lançou em favor da união se transforme em dividendos para o Paraná.

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