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Não se sabe ao certo se o eleito deste domingo será Dilma Rousseff ou seu marqueteiro, João Santana. Se o nome de Aécio Neves aparecer nas urnas mais do que o de sua adversária, por trás dele estará o marqueteiro Paulo Vasconcelos. A vantagem que os candidatos levam é de encontrar logo o culpado pela derrota – invariavelmente o respectivo homem de marketing.

Na verdade, os 140 milhões de brasileiros aptos a votar serão levados às urnas tangidos pelas estratégias mercadológicas que Dilma e Aécio adotaram durante a campanha. Talvez nunca antes na história desse país, uma eleição se defina tão fortemente em razão das jogadas de marketing como esta de 2014.

Este quadro começou a ficar claro quando surgiu o vendaval da entrada de Marina Silva na disputa. Em poucos dias, ela chegava à ponta nas pesquisas, fazendo poeira para a petista Dilma Rousseff e para o tucano Aécio Neves. Este é quem teve de engolir mais pó: bastaram duas semanas para que pensasse até mesmo em renunciar à candidatura, tão desidratado ficara com a fuga de milhões de eleitores que correram atrás de Marina.

Nada tão grave, porém, que João Santana não tivesse na cartola a solução providencial. Viu-se logo que, se não "matasse" Marina logo na saída, ela chegaria ao segundo turno. E levaria com ela os votos órfãos do derrotado Aécio Neves. Havia perigo real de Dilma perder para Marina.

Da cartola de Santana saiu então a mais pesada campanha de desconstrução de um candidato já vista numa campanha. Falsidades, sofismas e mentiras fizeram parte da artilharia que transformaram o vendaval Marina numa brisa fraca, incapaz de oferecer risco à sua cliente.

A queda abrupta de Marina não chegou, de imediato, a mover para cima os índices de Dilma, mas vitaminou a candidatura de Aécio que chegou ao segundo turno com uma votação até então insuspeitada. Pronto: abrira-se para Santana executar a segunda parte de sua obra. Foi a de colocar em curso a campanha do "nós contra eles". Do PT contra o PSDB. Da "zelite" contra os pobres. Do avanço contra o retrocesso.

Com isso, o marketing atingiu o necessário grau de objetividade e clareza – mesmo que a objetividade e a clareza tivessem, de novo, de ser alimentadas também por sofismas, números duvidosos, meias verdades e um cerrado ataque pessoal ao adver­­sário – tarefa que coube também a Lula, padrinho de Dilma, cumprir, e o fez com galhardia. Tudo isso entremeado pela criação de um contaminante clima de "já ganhou".

Posto no canto do ringue nos dias finais da campanha, chegou a vez de Paulo Vasconcelos – o marqueteiro de Aécio – agir para conter a sangria. Optou por reforçar dois discursos – o da mudança (após 12 anos de PT e de corrupção) e o do candidato "coitadinho", que se dizia vítima de ataques infames que vinham do lado de lá.

A partir das oito da noite deste domingo, quando o TSE divulgará numa só cambulhada o resultado de quase 90% da votação, se saberá qual marqueteiro se saiu melhor – ou qual dos candidatos fez a propaganda mais eficaz, já que o povo foi seguramente mais influenciado por esta do que pelas propostas de governo (algumas, aliás, muito semelhantes entre si).

Agora, atenção para um detalhe: pesquisas não são infalíveis. No primeiro turno, os dois mais conceituados institutos (Ibope e Datafolha) divulgaram levantamentos feitos no dia 4 de outubro, véspera da eleição, com índices bastante distantes da margem de erro. Para ambos os institutos, Aécio Neves obteria nas urnas apenas 26%, no máximo 27% dos votos. Fez 33,5%. Isto é, aqueles 2 pontos para mais ou para menos foram atropelados pela realidade.

Projetavam para Dilma de 44% a 46% dos votos, mas as urnas do dia seguinte reduziram-na a 41%, índice também distante da margem de erro. Para Ibope e Datafolha, Marina estava empatada com Aécio, na faixa de 24%. No fim, ficou com minguados 21,3%.

É certo que todos os institutos previram com exatidão a ordem – Dilma em primeiro, Aécio em segundo e Marina em terceiro. Logo, não se pode afirmar que as pesquisas não são, digamos, confiáveis. Mas, quando se trata de uma eleição apertada, nem sempre a ordem prevista se reproduz na vida real das urnas. Coisa a ser conferida hoje à noite.

O importante é que o eleitor faça sua escolha não em razão do que os marqueteiros querem nem do que dizem as pesquisas. Vale mais o voto de convicção e consciência de cada um.

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