É muito velha a máxima "dividir para governar" tão velha que nem se pode dizer que sua origem esteja em Maquiavel, o grande mestre das artes políticas reverenciado pelas melhores raposas do ramo desde a Renascença. Ela funciona bem para quem sabe promover a divisão: tira para si todo o proveito e, para os que se dividem, o prejuízo. Nisso o governador Roberto Requião é mestre.
Na verdade, no caso presente do Paraná, em que a oposição se dividiu, o maior beneficiário é ele. Com a sagacidade que não se lhe nega, estimula essa divisão e dela já começa a extrair os dividendos que o levarão a eleger-se senador sem dificuldades algo que temia caso se repetisse em 2010 a mesma coalizão que, em 2006 e 2008, uniu os grupos de Beto Richa e Osmar Dias.
Vejamos: se a união desses grupos fosse mantida, hipoteticamente tendo como cabeças de chapa o governador José Serra para a Presidência e o senador Osmar Dias para o governo, com o apoio de Beto Richa, que continuaria prefeito, estaria sepultada qualquer chance de o PT ou o PMDB elegerem o futuro governador. Numa situação dessas, os candidatos a senador da mesma chapa teriam melhor sorte: Gustavo Fruet e Ricardo Barros, "puxados" pela força política do conjunto oposicionista, poderiam brigar facilmente por uma das duas cadeiras em disputa.
Do outro lado, Gleisi Hoffmann (do PT e apoiada por Lula e pela máquina que será movimentada para favorecer Dilma Rousseff) teria também grande chance de ficar com uma dessas duas cadeiras. Ou seja, isolado ou "amarrado" apenas à candidatura de Orlando Pessuti, ou mesmo que empenhado na campanha em favor de Dilma, Requião teria de suar muito para conseguir a cadeira restante. Em outras palavras, poderia, em tese, estar sendo decretado o fim da "era Requião" no Paraná.
Mas não é este o cenário que, no presente momento, está montado no Paraná. Ao contrário, há dois candidatos Osmar e Richa de uma mesma extração política concorrendo encarniçadamente entre si. Quanto mais brigarem, melhor para Requião, que pode posar de "noiva" dos dois grupos até que um deles lhe ofereça o melhor dote isto é, a garantia de que será muito bem tratado como candidato a senador.
Não por outra razão, ele estimula a cizânia, ora espicaçando o PT, ora fazendo beiço para o presidente Lula, ora provocando o ministro Paulo Bernardo que o querem integrando a frente Dilma/Osmar. Age de maneira parecida em relação a Beto Richa, esperando sobretudo receber boas ofertas do presidenciável tucano José Serra. Mais: a divisão entre os dois candidatos levará fatalmente a eleição a ser decidida em segundo turno e nesse caso o PMDB de Pessuti, Requião & companhia serão os fiéis da balança prontos para tirar algumas boas vantagens.
Há uns poucos políticos do lado oposicionista que enxergam com clareza esse cenário e, na surdina, trabalham para mudar a paisagem enquanto ainda há tempo. Encontram dificuldade para matar a mosca azul que ronda a cabeça de um dos candidatos e a declarada disposição de outro de abraçar-se ao PT. O trabalho de convencimento não está sendo feito aqui na província mas em Brasília. Se tiverem sucesso, o resultado poderá ser conferido talvez já na segunda quinzena de outubro.



