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Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio.

O escorpião vinha fazer um pedido:

"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"

O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar."

Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos."

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.

No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.

Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?"

E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."

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Esta fábula não foi transcrita sem motivo. Ela se justifica para representar o histórico comportamento político do ex-governador Roberto Requião e que agora se repete tendo como vítima seu sucessor, antigo aliado e vice de suas duas últimas gestões. Relembremos alguns registros:

- Em 1985, Requião, candidato a prefeito de Curitiba, derrotou Jaime Lerner. Não teria alcançado tal façanha não fosse o esforço pessoal do seu principal padrinho político na época – o então governador José Richa que, de madrugada, percorria os terminais de ônibus pedindo votos para o afilhado.

- Em 1990, Requião candidatou-se ao governo do estado, com o apoio de seu antecessor, o governador Alvaro Dias. Que, aliás, deixou de ser candidato a senador para ficar no governo até o último dia afim de garantir a eleição de Requião.

- Seus adversários nessa eleição eram o ex-governador José Richa e o deputado José Carlos Martinez. Requião não teve dúvidas: começou a campanha trucidando Richa, a quem acusava de marajá, e criticava o governo de Alvaro Dias, que o apoiava. Isto é, rompeu com seus dois principais padrinhos políticos. Eliminou Richa no primeiro turno e derrotou Martinez no segundo (aliás, graças à invenção do pistoleiro "Ferreirinha").

- Ao assumir o governo em março de 1991, o alvo de seus ataques foi exatamente o antecessor-amigo Alvaro Dias. Acusava-o de ter deixado o estado endividado e, para desmoralizá-lo ainda mais, prometia declarar a moratória do estado. O superávit das contas públicas na época, porém, desmentia Requião.

- Em 1994, Requião renunciou ao governo para candidatar-se a senador. Deixou no lugar o seu vice, o engenheiro Mário Pereira. Tentou, contudo, continuar mandando no estado. Queria manter secretários e determinar ações de governo. Pereira não se submeteu. Por isso, passou a ser chamado por Requião de "traíra de pesque-pague".

A história se repete agora com Orlando Pessuti – o vice que o ajudou a ganhar as duas eleições consecutivas de governador. A primeira, em 2002, e a seguinte, de 2006, em que se manteve no poder por míseros 10 mil votos de diferença.

Pessuti procura dar personalidade própria ao governo de nove meses que acaba de iniciar. Substitui secretários amigos de Requião e age de modo conciliador e pragmático, conversando com todas as facções políticas. Um estilo muito diferente e certamente mais eficiente. Sua pretensão é dar solução à penca de problemas graves que recebeu como herança.

E o que acontece com Pessuti? Acontece a saraivada de críticas que Requião dispara em seu Twitter a cada 20 minutos, como se vê na reportagem de Euclides Lucas Garcia, na página 13.

Nele há um emblemático post no qual Requião diz: "Se o Pessuti não se viabilizar em trinta dias nosso PMDB deve costurar uma aliança que garanta as linhas básicas de nosso governo". Isto é, o ex-governador já está pensando em inviabilizar a candidatura de Pessuti ao governo e em fazer aliança com outro candidato.

Fazer o quê, né? É da natureza do escorpião...

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Olho vivo

Multas 1

O presidente da Sanepar, Stenio Jacob, foi condenado ontem a pagar multa no valor de R$ 200 mil pela Comissão de Valores Mobiliários – a poderosa CVM, organismo encarregado de fiscalizar as empresas de capital aberto e de proteger os acionistas. Por quê? Porque Stenio não só não guardou sigilo sobre planos de investimentos da Sanepar como também, ao divulgá-los, apresentou números falsos.

Multas 2

O processo é relativamente antigo e teve origem na "escolinha". Foi nesse palco que, em maio de 2007, Stenio Jacob, sob aplausos, cometeu a infração. Aliás, nesse sentido, a "escolinha" continua rendendo: também ontem Requião foi multado em mais R$ 200 mil por ofensas ao ministro Paulo Bernardo.

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