• Carregando...

Quando toda a tarefa já parecia pronta, faltando ao governador Beto Richa apenas começar a cumprir a promessa de que o “melhor estava por vir”, eis que se levantaram novamente as chamas do inferno astral que ardem há meses no Palácio Iguaçu: o primo distante Luiz Abi Antoun foi apontado na Operação Publicano do Gaeco como o “gestor político” da Receita Estadual e do produtivo esquema de propinas que rolava nas entranhas do órgão encarregado de cobrar impostos e abastecer os cofres do estado.

O primo teve a sorte de estar em lugar incerto e não sabido no momento em que o Gaeco corria em seu encalço na manhã de ontem. A Polícia Federal já teria recebido pedido para que o nome dele seja inscrito no Sinpi – Sistema Nacional de Procurados e Impedidos, incluído na chamada “difusão vermelha” da Interpol e vasculhado em 181 países, incluindo Paraguai e Argentina. Por precaução, o passaporte FD612802 entrou em vigilância.

Outros 48 envolvidos na Publicano, operação que trabalha há meses para desmantelar a quadrilha articulada para trocar tributos e multas por propinas, tiveram menos sorte que Abi e foram levados à penitenciária de Londrina.

Nesta fase da Publicano, o alvo foi a cúpula da Receita Estadual, isto é, os servidores nomeados para exercer cargos de confiança da hierarquia superior. Confiança, como o próprio nome diz, só se atribui àqueles que se conhece bem. Por isso, entre os presos (agora pela segunda vez) está Márcio de Albuquerque Lima, co-piloto do governador em provas automobilísticas, nomeado inspetor-geral da fiscalização três meses antes da eleição de 2014.

Não se sabe a que andares ainda subirão as apurações do Gaeco, mas uma nota do Palácio Iguaçu já se precavia de más interpretações. Ela é tranquilizadora quando diz que o governo “apoia as investigações e o esclarecimento completo de todas as suspeitas de corrupção”. Mas em seguida relativiza a importância dos eventos atuais: “os desvios de conduta e a cobrança de propina por parte de maus fiscais caracterizam um comportamento endêmico, ou seja, fatos que acontecem há cerca de trinta anos”. Pergunta-se: o Palácio pretendeu dizer que, por ser rotina antiga , o governo tem menor responsabilidade sobre a rotina dos servidores que nomeou?

Difícil entender este pedaço da nota. Principalmente quando se sabe que o suposto chefe do bando, Luiz Abi, gozava de enorme desenvoltura para frequentar gabinetes, fazer amigos e influenciar pessoas, mesmo não sendo servidor. Era também notória a proximidade de outros envolvidos com o andar de cima.

Tanto quanto se sabe até agora, os encarregados de arrecadar propinas endereçavam parcelas para a “sede” central em Curitiba. Estima-se que o esquema rendia R$ 1 milhão por mês, considerando apenas as delegacias com jurisdição em cidades da região Norte do estado. Multiplique-se pelo número de meses em que o esquema funcionou e se terá noção do tamanho da receita ilegal e do prejuízo para o Tesouro.

Muitas vitórias

As prisões de ontem têm o poder de empalidecer o êxito que o governador Beto Richa vinha obtendo nos últimos meses. Apesar do desgaste que sofreu no período, colecionava vitórias nos vários campos de batalha em que se meteu visando a devolver equilíbrio às contas públicas.

Em dezembro passado, antes mesmo de assumir o segundo mandato, aprovou na Assembleia, em regime de “tratoraço”, uma drástica derrama: aumentou o ICMS sobre 95 mil produtos e reajustou o IPVA em 40%. Em seguida, aumentou energia, água e gasolina.

Em fevereiro, depois de lotar de deputados um camburão policial, teve de fazer recuos estratégicos. Mas acabou por conseguir que a ParanaPrevidência passasse a sacar R$ 140 milhões mensais para aposentadorias e pensões antes pagas pelo Tesouro.

Desta batalha, em 29 de abril, resultaram 213 feridos a balas de borracha e bombas de gás naquele que entrou para a história do Paraná como o ato mais violento de repressão a manifestações, de proporções não registradas nem mesmo nos anos de chumbo da ditadura.

Para coroar suas vitórias, Richa viu os professores encerrarem 50 dias de greve. Voltaram às aulas sem o reajuste de 8,17% que pediam. Valeu o que o governo quis dar-lhes – isto é, apenas 3,45% em outubro e o resto em janeiro.

O governador poderia agora descansar das batalhas e, aos poucos, ir tomando coragem de sair às ruas, mas as estripulias na Receita de novo assombram a sua paz. Só o mitológico Sísifo sofreu tanto quando via rolar para baixo a pedra que, com enorme sacrifício, pouco antes empurrara morro acima.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]