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Celso Nascimento

Zorro, Tonto e a bala de prata

Em 12 dias já foi possível mudar completamente os rumos de uma eleição. E em 11 dá? De hoje ao 5 de outubro, restam tão somente eses pouquíssimos dias para tirar o candidato à reeleição ao governo estadual, Beto Richa, da zona de conforto que a mais recente pesquisa* aponta para. Mudanças radicais são improváveis, ainda que um dos seus adversários, Roberto Requião, afirme ser dono de uma "bala de prata" pronta para ser disparada no programa do TRE de segunda-feira, com poder para inverter o favoritismo.

Nada mais apropriado para o caso a referência à tal "bala de prata" – munição apropriada para matar vampiros, mas também imortalizada na série americana "O Cavaleiro (ops!) Solitário" – Zorro para alguns – que fez sucesso nos primórdios da televisão. Justiceiro do Velho Oeste, sempre acompanhado do índio Tonto, o Cavaleiro não usava a bala para matar ninguém. Ao contrário, a dava de presente para as vítimas que salvava. Se outra vez se vissem em perigo, bastava às vítimas mandar-lhe de volta a bala para que ele entendesse o recado e corresse para ajudá-las.

Independente do ponto de vista mau ou bom que se dê à bala de prata, o fato é que ela não é munição nova para uso político. Em 1988, 12 dias antes da eleição para prefeito de Curitiba, a "bala de prata" chamava-se Jaime Lerner. A eleição já estava ganha por Maurício Fruet, léguas à frente dos concorrentes que à época gozavam de grande prestígio (Paulo Pimentel, Airton Cordeiro, Algaci Túlio). Um a um, todos foram renunciando às suas candidaturas para apoiar Lerner – que acabou liquidando folgadamente nas urnas o até então imbatível Fruet.

Outra "bala de prata" foi a usada contra José Carlos Martinez – favorito na eleição para governador em 1990. Nesse caso, a "bala" quase tomou sentido literal quando o mesmo Cavaleiro que hoje ameaça Beto Richa valeu-se do inventado pistoleiro Ferreirinha para ferir de morte a candidatura do adversário, bem poucos dias antes das urnas do segundo turno. E, lógico, sagrar-se vencedor naquele pleito. Resumindo a história: "bala de prata" é qualquer fato novo que apareça e que seja indiscutivelmente capaz de sensibilizar o eleitorado a ponto de fazê-lo repentinamente mudar sua intenção de voto – como aconteceu em 1988 e 1990.

De onde vem agora a tal bala pode-se esperar de tudo. Assim como pode ter o poder destruidor de uma explosão atômica (como promete), pode também não passar de um traque ou da simples expulsão de um flato. Quando, porém, os números das pesquisas indicam a possibilidade de segundo turno, um simples flato às vezes pode levar a ele. Mas se era tão somente uma expectativa de intimidação que Requião queria criar, ele conseguiu. No mínimo, despertou curiosidade.

* A última pesquisa Ibope, divulgada na semana passada, dava Richa com 47% das intenções de voto contra 44% da soma dos demais concorrentes. A pesquisa Ibope foi encomendada pela RPC TV. Foram entrevistados 1.204 eleitores em 67 municípios do Paraná entre os dias 16 e 18 de setembro. A margem de erro pe três pontos percentuais e o nível de confiança, de 95%. O registro no TRE-PR é PR-00037/2014.

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