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No, we can’t

Não faz nem cinco meses, Chico Buarque justificou o apoio à então candidata a presidente Dilma Rousseff com um raciocínio rápido e rasteiro. Segundo o cantor, ela representava a continuidade de um governo que não falava fino com os norte-americanos, nem grosso com a Bolívia e o Paraguai.

E tinha mais. Na mesma época, o garoto-propaganda do horário eleitoral do PT sentenciava: "Eles [tucanos] sabiam muito bem se humilhar em inglês na frente dos poderosos. Era só 'pois não' pra cá, 'sim, senhor' pra lá. Ou melhor, 'yes sir, of course'."

Chico e os marqueteiros políticos miraram um alvo e acertaram outro. A vitória de Dilma foi sim a vitória da continuidade de uma popularíssima e bem sucedida gestão Lula. Mas não foi a vitória do antiamericanismo.

Ao assumir o Palácio do Planalto, Dilma deixou claro que se afastaria de polêmicas internacionais como a aliança com o Irã. Torturada na ditadura militar, firmou posição em defesa dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, aproximou-se pragmaticamente dos Estados Unidos.

A estratégia nada tem a ver com submissão. No cenário atual, os norte-americanos precisam mais dos brasileiros que vice-versa. E mais do que o estadista Barack Obama, quem visitou Brasília e Rio de Janeiro no fim de semana foi um líder em busca de negócios para melhorar a situação econômica do seu país.

Como sabe todo bom comerciante, o negócio só é bom quando os dois lados saem satisfeitos. Desde 2009, os Estados Unidos perderam o posto de maior parceiro comercial do Brasil para a China. De lá para cá, arrocharam a política cambial para valorizar o dólar e, por tabela, massacraram a competitividade das empresas brasileiras.

É aí que o pragmatismo faz diferença. O Brasil sabe que não tem força para barrar sozinho o vaivém da moeda norte-americana – e do yuan chinês, também desvalorizado artificialmente há anos. O jeito é dialogar, não em questões etéreas, mas nas práticas.

Algumas delas ficaram nítidas nos últimos dois dias. Obama deixou claro que os norte-americanos estão de olho no pré-sal. "Como a instabilidade afeta o preço do petróleo em muitas partes do mundo, os Estados estarão felizes de ter o Brasil como fornecedor", disse, em discurso a empresários, no sábado. Também há interesse em participar da extração, possivelmente com troca de tecnologia. A simples menção a esse fato foi suficiente para fazer os antiamericanistas de plantão pular da cadeira.

Na prática, contudo, a declaração de Obama só serviu para valorizar os investimentos brasileiros em alto mar. Ninguém vai roubar ninguém; negócios são negócios.

Nisso o governo Dilma mostra maturidade. É inteligente manter a rota de crescimento do Brasil sem fechar portas por motivos ideológicos. E para aqueles que achavam que o país poderia simplesmente continuar a ignorar os Estados Unidos, a resposta da presidente, a la Obama, foi clara: No, we can't.

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