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Mais uma campanha eleitoral e o que se vê é a melancólica caricatura das anteriores. Um remake sem graça e sem cor. Diálogos previsíveis. Cenário chinfrim de ópera-bufa.

Percebam. Nem os atores principais foram substituídos. Estão aí, se estapeando no breu das cavernas, com as mesmas armas e os mesmos argumentos que usaram nas eleições anteriores.

Haja estômago. O nosso processo político lembra os rodízios de churrascaria onde as mesmas carnes são servidas ao freguês em rodadas sucessivas. Cada vez mais insossas.

Se a política pouco muda, talvez uma boa iniciativa seja mudar de casa, de registro, de ocupação, de mídia. Penso que será bom tanto para o colunista quanto para o jornal.

Fim de caso. De quase 11 anos de coluna diária nesta Gazeta do Povo guardo marcas de experiência riquíssima. De todas, destaco a convivência com Francisco Cunha Pereira, raro privilégio de inteligência. Bons tempos.

Essa interlocução me ajudou a aperfeiçoar o senso crítico e a perceber os limites da província que parece viver agora em época de decadência. Afinal, não é a política o reflexo mais perfeito da sociedade e suas contradições?

Nestes anos, entendi que as elites nativas, com raras exceções individuais, são provincianas. Colonizadas. Culturalmente, navegam em mar raso. Pouco sabem das coisas do mundo porque não são contemporâneas do mundo, e não querem ser.

Os políticos que todos execram são apenas eventuais porta-vozes deste despreparo, com a possibilidade de que em seu universo se misture também um punhado robusto de falta de vergonha, de desfaçatez, de egoísmo de classe. E também de medo, muito medo. O medo de pôr em risco um único escasso milímetro de privilégio.

As nossas elites não apreciam a verdade, mesmo quando sabem onde mora, porque a verdade implica a coragem da clareza, a denúncia das regras do jogo político e econômico que até hoje garantiram o status quo.

Nada assusta mais essa turma aqui da terrinha do que o confronto, porque o confronto atiça consciências e promove transformações. Por isso importaram Maquiavel, adaptaram-no ao nosso meridiano e com a expressão do bom senso definiram o possível, na prática política, como o que está aí desde sempre.

Vejam o enredo deste início de temporada eleitoral. Com igual desembaraço e destempero, campeia pelos salões do Paraná a forma amesquinhada do denuncismo, uma espécie ainda mais torpe do gênero, porque dirige o indicador contra familiares, parentes ou amigos do adversário.

Essa prática traz à memória a fábula do lobo, aquele do cordeiro. Nossos lobos, diga-se, costumam vestir a pele de suas vítimas e exibir-se em público com tais disfarces. Mas são freqüentemente traídos e desmascarados pelo tamanho das garras ou pela preeminência dos focinhos, não raro pela baba que lhes escorre da boca.

Quando ostentam trajes seculares, podem ser facilmente reconhecidos pelo brilho dos pêlos e desjeito dos modos. Entre esta confusão de pêlos, garras e maus-modos, o processo político aderna para o conservadorismo.

Voltemos a Maquiavel. Ele conta os estragos da tísica, doença mortal daqueles tempos renascentistas, que os médicos costumavam enfrentar quando já era tarde demais.

Ao que tudo indica, o Paraná padece de tísica, mas não tem maiores chances que os doentes contemporâneos do secretário florentino. Decerto, por aqui não há povo disposto a acreditar em nossas elites laborfóbicas e viciadas na esperteza expressa, aquela do Gerson. Tentam levar vantagem em tudo.

Sim, as coisas pioraram nos últimos 11 anos. Antigamente, os paranaenses acreditavam ser cidadãos do Estado do Futuro. Agora têm de se convencer que habitam um Estado indigente de idéias capazes de modificar o quadro com a urgência necessária.

A boa experiência deve terminar enquanto é positiva e estimulante para deixar boas lembranças, mesmo que seja a minha, do registro diário do exercício da mediania política no Paraná.

Diante da circunstância e da dose pessimista, o melhor caminho é mesmo a mudança. Até para demonstrar que a autofagia nativa às vezes quebra os dentes. Em geral, ela consegue mastigar a tudo e a todos, mas há os que não entram na categoria dos comestíveis.

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