Nove medidas e muito barulho por nada. O governo federal anunciou ontem soluções que repetem um padrão brasileiro de ineficácia: criar mais estruturas para fiscalizar, punir ou conter a violência, criar mais regras e procedimentos, criar mais "arenas padrão Fifa". O anúncio veio depois de uma reunião técnica com o Ministério Público, a Justiça Desportiva, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as federações esportivas. É decepcionante notar que, em grande parte das vezes, as autoridades públicas escolhem resolver os problemas por caminhos tortuosos que passam pela criação de novas repartições, comissões e órgãos, ou, ainda, pela elaboração de novas leis, novos procedimentos, novas punições.
O governo federal pretende criar juizados de torcedores e delegacias nos estádios, além de implantar uma câmara do Ministério da Justiça para tratar de segurança em eventos esportivos. Uma aposta na elefantíase do Estado é o primeiro passo para o fracasso. Essas estruturas administrativas custam dinheiro. E boa parte dele terá de vir dos estados, que provavelmente ficarão encarregados da criação dos juizados e delegacias.
Há também um inexplicável fascínio em imaginar que mais leis, regras de segurança ou novas punições irão espontaneamente resolver parte do problema. Acredita-se na arte de se criar efeito sem causa a segurança nos estádios irá decorrer das novas regras. Como se a segurança nos estádios fosse um efeito direto das normas e procedimentos criados.
Um bom tema para pesquisa acadêmica seria tentar descobrir os motivos que levam os governos a apostar em soluções mágicas. Identificar e punir marginais que se dizem torcedores é necessário. Responsabilizar clubes é imperativo. Estabelecer estratégias preventivas de segurança também. Mas nada disso é preciso a partir de mais estrutura do estado ou novas regras.
A mediocridade vem se tornando a cultura dominante nas torcidas de futebol já faz algum tempo e tem afastado das arquibancadas os verdadeiros torcedores da mesma forma que os black blocs repeliram a multidão de manifestantes de junho. Muito além dos esforços punitivos, será necessária a atuação dos clubes, dos líderes das torcidas organizadas (se é que estão interessados nisso) e de todo o aparato de educação formal e informal para acabar com a violência nos estádios. Não é uma questão de mera atuação estatal. É preciso que clubes e torcidas assumam sua responsabilidade.



