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Levante a mão quem foi ao litoral e ficou plenamente satisfeito com os serviços de água, luz e coleta de lixo. O descontentamento não se restringe às praias paranaenses, certamente. Veranistas que foram ao Norte de Florianópolis enfrentaram uma situação calamitosa. Mas, mesmo que a desgraça alheia sirva de consolo para alguém, ela não pode ser usada como desculpa pelas autoridades.

Segundo a Sanepar, a infraestrutura do litoral foi projetada para atender a demanda, mas situações atípicas, como o forte calor, ocasionaram um consumo recorde de água, prejudicando o abastecimento. Confesso que não entendi: atender a demanda significaria abastecer a todos, ou não? E o calor, é atípico para o verão?

O que foi atípico foi a antecipação de dividendos aos acionistas, aprovada pelo Conselho de Administração da Sanepar em reunião extraordinária realizada em 17 de dezembro passado. O pagamento dos dividendos deveria ser feito somente em 2014, mas foi adiantado para aliviar o caixa do governo estadual, principal acionista, que recebeu em torno de R$ 60 milhões. Foi uma reunião realmente extraordinária: na mesma ocasião, o governo do estado indicou Ezequias Moreira para ocupar uma vaga no Conselho de Administração da Sanepar. Ezequias, que era chefe de gabinete do então deputado estadual Beto Richa na Assembleia Legislativa, confessou ter mantido a sogra como funcionária fantasma por 11 anos. Flagrado, devolveu R$ 539 mil aos cofres públicos.

O governo do estado alegou que Ezequias "reúne as condições necessárias" para ser conselheiro da Sanepar.

"Bola de cristal"

Os governantes brasileiros gostam de indicar aliados políticos para ocupar cadeiras em conselhos e presidir órgãos de relevância social. Vejam o caso da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan): tem como presidente Dalírio José Beber, que atualmente é presidente de honra do PSDB de Santa Catarina.

Beber (este é um predestinado, como diria José Simão) está atualmente no olho do furacão, enfrentando a ira dos turistas e moradores de Florianópolis que sofreram com a falta de água nos últimos dias de 2013 – em algumas regiões, o problema durou mais de uma semana. Ele também teve que enfrentar uma entrevista incisiva do Diário Catarinense, feita pela repórter Joice Bacelo. Pergunta: "Todo o ano, com a vinda dos turistas, sabe-se que a população vai triplicar. Ainda assim a Casan continua sendo surpreendida?". Resposta de Beber: "Não existe nada no mundo que você não resolva com dinheiro. Somente a morte, o resto se resolve". Depois ela questiona: "Quanto seria necessário para que o sistema de abastecimento funcionasse plenamente?". E Beber, que havia dito que tudo se resolvia com dinheiro, se sai com esta: "Não tenho bola de cristal para te dizer o que seria necessário de recursos para resolver o problema".

Na entrevista, o presidente da Casan tenta se eximir de qualquer culpa, informando que também ocorreu falta de água em Itapema, Navegantes, Itapoá e São Francisco do Sul, cidades abastecidas por outras empresas. A repórter insiste, quer saber sobre medidas emergenciais, sobre as obras necessárias, sobre o que pode ser feito para a situação não se repetir. Pergunta também o que Beber falaria para uma família que está sem água. "Eu quero dizer que não existem casas sem água, existem casas onde nós estamos tendo momentaneamente dificuldade de abastecimento regular e satisfatório", é a resposta dele.

Quando o governo do estado nomeou Beber para a presidência da Casan, deve ter concluído que ele "reúne as condições necessárias" para o cargo.

Já no fim da entrevista, Joice Bacelo pergunta: "Como o senhor tem dormido nestes últimos dias?". Ele diz que está desconfortável e triste, mas com a consciência tranquila.

Esta é uma pergunta que, infelizmente, cabe a muitos de nossos governantes e dirigentes: Como conseguem dormir?

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