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Anos eleitorais são aqueles tradicionalmente marcados pelos discursos inflamados, emocionais e grandiloquentes em que os políticos vendem meia dúzia de perfis mais ou menos conhecidos. Escolher o melhor entre eles é certamente importante, mas não é saudável transformar eleições em tenda dos milagres. Políticos, ao menos nas sociedades democráticas, são gestores da máquina pública. Eleger um deles significa confiar-lhe o funcionamento dessa máquina. Dito de maneira menos polida: eleições são disputas em que se decide quem será o chefe dos burocratas.

Capriche, portanto, na escolha do seu burocrata-mor, mas esqueça os slogans publicitários. Políticos são retratos meio mofados da sociedade. Não há como esperar deles grandes mudanças conjunturais. Nos regimes democráticos é uma ilusão esperar que o burocrata da vez vá guiar a sociedade nessa ou naquela direção. A lógica é outra. O Brasil precisa de melhores políticos sim, mas precisa também de outras coisas com igual urgência. Meu palpite? Olha para cima, leitor. O Brasil precisa de sua elite. Uma elite maior e melhor.

No topo

Pesquisa do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) mostra que o Brasil tem 27 milhões de empreendedores. São 27 milhões de pessoas que enfrentam o labirinto oficialesco criado pelos políticos, eleição após eleição.

É da movimentação contínua deles que se mantém o aparelho estatal. É da riqueza gerada por eles que se sustenta a máquina pública.

Mais da metade desses empreendedores pertence à chamada classe C. É um exército de microempresários localizados na base da pirâmide social dispostos a chegar ao topo. Essa multidão não tem dúvidas de que enriquecer é verdadeiramente glorioso, mas, provavelmente, faz algumas indagações ao mirar o objeto do seu desejo: quais são os exemplos a serem seguidos? Em que se espelhar na elite da elite econômica? Durante algum tempo, o empresário Eike Batista foi vendido pela propaganda oficial como modelo desse Brasil empreendedor. Eike seria a personificação de sucesso do Brasil capitalista. O modelo Eike durou pouco.

Sem protagonismo

A proximidade de Eike Batista com o poder garantiu acesso fácil a financiamentos do BNDES e outras comodidades não dispensadas à maioria do empresariado comum. Ainda assim, as empresas de Eike naufragaram, levando junto o dinheiro de milhares de investidores. Sobraram as explicações pouco convincentes do ex-bilionário.

Para além de Eike, porém, temos uma geração de empresários e conglomerados familiares que transitam entre o anonimato e a ação inodora e incolor de fundações de responsabilidade social e de associações de classe adormecidas. Opta-se por falar e aparecer pouco, como se fosse feio enriquecer ou, hipótese também provável, como se fosse desaconselhável que quem produz tenha voz pública. Falta protagonismo e liderança.

Peter Thiel x Eike Batista

Há um paralelo inevitável com a elite americana. Jovens empreendedores de lá podem mirar, por exemplo, em Peter Thiel, 47 anos. Com investimento reduzido, Thiel foi um dos fundadores do PayPal, em 1998. O sistema foi vendido para o Ebay, em 2002, por US$ 1,5 bilhão. Thiel também ganhou muito dinheiro com seu escritório de investimentos, o Clarium Capital. É considerado meticuloso e arrojado e consegue dobrar seus investimentos em quase tudo que coloca a mão. Foi Thiel o primeiro investidor externo do Facebook, por exemplo. Também apostou no Linkedin, entre dezenas de outras empresas de tecnologia.

Thiel, no entanto, é mais do que um competente empresário. É um defensor ferrenho do empreendedorismo, da superação individual e da limitação da intervenção estatal. Ele criou uma fundação para financiar jovens empreendedores (Founders Fund). Por determinação dele, a Founders Fund é conhecida por apostar em trabalhos heterodoxos, muitos deles com históricos de recusa. Em alguns casos, os escolhidos ganham bolsas de até US$ 100 mil para tocarem seus projetos integralmente.

Thiel ainda é financiador de instituições que defendem a liberdade de imprensa, pesquisas médicas de longevidade e causas gays. O pequeno empreendedor americano mira na sua elite e vê Peter Thiel. O brasileiro ainda enxerga Eike.

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