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Vídeo| Foto: Reprodução/TV Globo

A Justiça Federal de Mato Grosso acatou, na última sexta-feira (1º), a denúncia do Ministério Público Federal referente à tragédia do vôo 1907 da empresa Gol. Segundo o MPF, os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paul Paladino e quatro controladores de vôo do Cindacta-1 em Brasília são responsáveis pelo acidente.

O jato Legacy e o Boeing da Gol se chocaram no dia 29 de setembro do ano passado. O avião da companhia aérea brasileira caiu em uma região de mata fechada de Mato Grosso e as 154 pessoas que estavam a bordo morreram. Lepore e Paladino, pilotos do Legacy, conseguiram parar na Base Aérea de Cachimbo, no Sul do Pará.

Entrevistados pelo "Fantástico", dois dos controladores negam responsabilidade pelo acidente. Jomarcelo Fernandes dos Santos e Lucivando de Tibúrcio de Alencar dividiam o radar do Cindacta de Brasília, que acompanhava o jatinho Legacy quando ele se chocou com o avião da Gol.

O dia do acidente

Jomarcelo, controlador há quatro anos, é o mais implicado: para a Justiça Federal ele cometeu um crime doloso - ou seja, percebeu a iminência do acidente e não fez nada para evitar.

"Cheguei por volta de 14h30 pra trabalhar, foi um dia normal de trabalho, até o momento do acidente. Às 16h30 fui rendido pelo colega Lucivando, passei o serviço, informei inclusive o Legacy, estava no nível 360 (voava a 36 mil pés, ou quase 11 quilômetros de altura)".

O plano de vôo para o Legacy estabelecia que o jato deveria voar de São José dos Campos (SP) até Brasília a 37 mil pés. A partir de Brasília, desceria para 36 mil pés. Mas o Legacy se manteve nos 37 mil - altitude onde, em sentido contrário, vinha o Boeing da Gol.

Segundo Jomarcelo, os pilotos do Legacy entraram em contato com a torre de controle 50 milhas antes de Brasília, quando estavam no nível 370, o que até esse momento estava correto.

Falhas

As investigações da Justiça Federal e da CPI do Apagão Aéreo dizem que ele teve uma atitude criminosa.

De acordo com o senador Demóstenes Torres, relator da CPI, Jomarcelo teve duas falhas. A primeira teria ocorrido quando o Legacy passou sobre Brasília e deveria mudar a altitude de 37 mil pés para 36 mil pés. O transponder (aparelho que informa para o centro de controle aéreo a altitude do avião) do Legacy ainda estaria funcionando nesse momento – ele teria sido desligado seis minutos depois de o jato passar por Brasília. O senador diz que Jomarcelo tinha essa informação e silenciou a respeito.

"A outra falha foi quando ele transferiu o serviço para o Lucivando e o Leandro e não os alertou que tinha uma aeronave voando com o transponder desligado", afirma Torres.

Jomarcelo, no entanto, se sente injustiçado pela acusação: "Tenho consciência de que não tive culpa... (...) segui todos os regulamentos, acreditei nas informações que tinha", diz. Para o controlador, a falha foi do equipamento da Aeronáutica. "O que aconteceu foi informação errada. Tivemos informação de que a aeronave estava no nível 360 e na verdade estava no 370". "É um erro de software, que já foi reportado, feito relatório de perigo, bem antes mesmo desse acidente, e nunca foi mudado", acusa.

Em nota oficial, o Comando da Aeronáutica afirma que, até o momento, não há nenhuma indicação de deficiência nos equipamentos. Além disso, continua a nota, o sistema emitiu todos os alertas previstos e conhecidos para que os controladores para pudessem evitar o acidente.

Deficiência

Às 16h30, Lucivando de Tibúrcio de Alencar assumiu no lugar de Jomarcelo o controle da tela do radar. Ele afirma ter tentado entrar em contato com os pilotos do Legacy ao perceber que o transponder não estava funcionando, sem sucesso. O controlador também diz não ter ficado preocupado. "É comum", diz. "É um setor deficiente, há muito tempo que apresenta problemas, é uma rotina operacional".

O controlador diz não ter suspeitado que as aeronaves estivessem na mesma altitude. "Jamais tive a menor noção ou a menor suspeita que as duas aeronaves estivessem na mesma altitude", diz. Lucivando também culpa as deficiências do sistema: "Se o transponder estivesse funcionado, eu teria evitado. Se a freqüência estivesse funcionado, eu teria evitado. Como já aconteceram outras vezes, e foram evitadas outras vezes".

Apesar de negarem culpa no episódio, os controladores afirmam que a vida deles mudou após a queda do Boeing da Gol. "Não me considero a mesma pessoa antes e depois do acidente", comenta Jomarcelo. "Não sou criminoso... é uma fatalidade, que não dependeu de mim. Eu não errei", diz Lucivando.

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