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De saída do Ministério da Saúde, Alexandre Padilha aproveitou nesta segunda-feira (3) o discurso de despedida para dirigir críticas aos tucanos. Em cerimônia concorrida, Padilha transferiu hoje à tarde o cargo para o também petista Arthur Chioro, ex-secretário de saúde de São Bernardo (SP). Padilha vai se dedicar de vez à corrida pelo governo do Estado de São Paulo.

Na fala de despedida, Padilha deixou aflorar um afiado discurso político contra seus oponentes tucanos. Ao falar do polêmico Mais Médicos, o petista destacou que Minas Gerais e São Paulo, comandados pelo PSDB, foram os Estados que mais solicitaram médicos ao governo federal, apesar do "diagnóstico incorreto de algumas lideranças políticas de São Paulo e Minas Gerais".

"Um dos seus líderes, por exemplo, deu uma demonstração absoluta de falta de sensibilidade com o sofrimento humano, ao afirmar que não faltavam médicos no Brasil e no seu Estado. Talvez, por não enxergar os que mais precisam no Estado mais rico da nossa federação", disse Padilha. "Só quem tem acesso a médico num estalar de dedos pode ser contra levar mais médicos para a população que mais precisa."

Em dois momentos, o petista criticou a política nacional dos anos 90: ao contrapor recente investimento federal no Instituto Butantan (SP) a sucateamentos e privatizações "que vimos ocorrer nos anos 90"; e ao destacar investimentos federais na produção nacional de medicamentos e produtos para a saúde, em contraposição a "legados malditos, fruto da ausência de uma política industrial nos anos 90".

Em 40 minutos de fala, o petista fez um grande balanço de sua gestão e de sua trajetória. Padilha se disse honrado com a trajetória de seus pais, citando o envolvimento deles na resistência à ditadura militar e a "integridade, ética e compromisso" de sua família. Esse foi um dos momentos do discurso em que Padilha chorou.

Por fim, o petista disse que se sentia mais preparado e com mais "espírito público", após dez anos na gestão federal do PT. "Preparem-se: volto com o couro mais curtido." Se despediu recitando um trecho de música, que também foi cantada no início da solenidade: "Me dê licença, que vou rodar no carrossel do destino".

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lançou um grito de "assim você começa a conquistar São Paulo!" ao final da fala de Padilha.

"Artilharia pesada"

O recém-empossado ministro da Saúde, Arthur Chioro, também fez uma fala longa durante a transmissão do cargo. Durante 50 minutos, agradeceu apoios políticos e técnicos, elencou fatos de sua trajetória e já deu pistas das prioridades que trará para a pasta.

Chioro se referiu a Padilha como "o melhor ministro da Saúde do Brasil", elencando elogios ao antecessor: carismático, comunicativo, especial, gentil, solidário, competente, comprometido, respeitado por todos (inclusive seus adversários políticos), um craque na política assim como na gestão.

Ao ouvir estrondos no exterior do ministério, Chioro tratou de acalmar seu colega. "Calma, Padilha, não é a artilharia pesada contra você ainda, vai demorar algumas horas até você chegar a São Paulo e começar a recebê-las."

Uma das novidades na Saúde deve ser a estruturação dos serviços hospitalares. Chioro disse ter recebido da presidente Dilma Rousseff a missão de implantar uma nova política nacional de atenção hospitalar. "Venho de uma experiência concreta de reestruturação do modelo de cuidado hospitalar e sei que isso é possível, temos que ousar construir novos formatos e repensar a dinâmica do hospital moderno."

Envolvido nisso, estão o apoio às instituições filantrópicas, a revisão de tarefas dos hospitais de pequeno porte e a priorização para internações domiciliares quando possível.

Chioro ainda citou a necessidade de reforçar a política antitabagista e de prevenção ao consumo do álcool, a política de atenção à saúde mental, a expansão de serviços de média complexidade e a necessidade de encontrar uma "solução definitiva" para os hospitais federais do Rio de Janeiro.

Transmissão badalada

A transmissão do cargo de ministro lotou o auditório da Saúde, com a presença de funcionários do ministério, representantes da indústria farmacêutica e de conselhos de gestores locais da saúde, além de parlamentares. Nem todos que tentaram entrar no auditório conseguiram, e tiveram que acompanhar o evento por telões instalados em outras duas salas.

Estavam presentes os ex-ministros da Saúde José Gomes Temporão e Humberto Costa (ambos do governo Lula). E as atuais ministras Miriam Belchior (Planejamento) e Eleonora Menicucci (Mulheres).

Fausto dos Santos, ex-diretor da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e que atualmente ocupava um cargo de diretor na secretaria de atenção à saúde, será o novo secretário-executivo da pasta.

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