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Dilma: busca de apoio popular para brigar contra o toma lá dá cá da base aliada | Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma: busca de apoio popular para brigar contra o toma lá dá cá da base aliada| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Fim do loteamento

Deputados dizem ser descrentes sobre "nova forma de fazer política"

Lideranças da base de apoio do governo não acreditam na "nova forma de fazer política" apregoada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro com o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), no último dia 16. Lula defendeu o fim do toma lá dá cá que garante a aliança formada para sustentar o governo da presidente Dilma Rousseff. A coligação teria como princípio um programa de governo apoiado por todos os partidos da base aliada.

Há dúvidas até se Lula disse mesmo que o Brasil precisa da nova política de alianças. "Eu não ouvi isso do presidente Lula. Quem disse que ele falou isso foi o líder no Senado", afirmou o deputado André Vargas (PT-PR). Ele defende a política de alianças baseada na ocupação de espaços no governo. "PTB, PSC, PR e outras legendas ajudaram a eleger o governo Dilma. É legítimo que eles reivindiquem espaço."

Lembrado de que o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), tem afirmado que os partidos aliados que estiverem descontentes devem deixar a base do governo, Vargas criticou as declarações do colega. "Não concordo. Não é assim que se faz política."

O deputado Luciano Castro (PR-RR) afirma que, ao pregar uma nova forma de fazer política, Lula "está se esquecendo dos oito anos de mandato, quando montou uma base forte, à base da ocupação de espaços dentro da administração pública". O PR de Castro se declarou oposição no Senado e na Câmara é "independente".

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse que só será possível pensar numa "nova prática política" quando existirem no país de três a quatro partidos unidos por ideologias. "Temos umas 30 legendas registradas. Nenhuma é grande o suficiente para governar sozinho."

O PT, maior legenda na Câmara, tem 85 deputados, ou 16,5% do total de 513. O PMDB tem 76 deputados, ou 14,8% do total. Somados, PT e PMDB formam uma bancada de pouco mais de 31% dos deputados, insuficiente para aprovar um simples projeto de lei ou medida provisória.

Brasília - Disposta a usar sua popularidade como escudo para enfrentar as pressões do Congresso, a presidente Dilma Rousseff apostará na comunicação com a classe média e com as camadas mais populares para jogar a crise política no colo dos parlamentares. Com a expectativa de melhora no cenário econômico, Dilma pretende se amparar no que chama de "vida real", com medidas de estímulo à produção, para sair da agenda negativa do Congresso.

A estratégia da presidente, que retomou as entrevistas a veículos de comunicação, consiste em desviar a atenção da crise na base aliada para mostrar que o governo não está paralisado pela política. Depois da faxina administrativa que começou no ano passado, o Planalto quer formar uma nova maioria no Congresso e conta com o desgaste da imagem do Legislativo para obter apoio popular na briga contra o toma lá dá cá.

Na sexta-feira, ao avaliar as derrotas do governo no Congresso nos últimos 20 dias, Dilma tranquilizou auxiliares, que não esconderam a preocupação com a tática adotada até agora, de endurecer as negociações com velhos caciques da política, liderados pelo PMDB. Mesmo assim, ela escalou ministros para ajudar a apagar o "fogo amigo" contra a titular das Re­­lações Institucionais, Ideli Salvatti, e espera que sua viagem à Índia, nesta semana, sirva para esfriar a temperatura da crise.

"Até agora, só vi provocações, mas nenhuma decisão é irreversível", disse Dilma, que um dia antes chegou a pedir apoio do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), para o projeto de reforma do Código Florestal. Não conseguiu. Naquela mesma quinta-feira, em reunião com 28 empresários que formam a elite do PIB nacional, a presidente deu sinais de que a trégua também faz parte de seus planos na queda de braço com o Congresso.

Ao lembrar da Resolução 72 – que reduz o ICMS interestadual para importações e está empacada no Senado –, Dilma perguntou quem na sala era de Minas Gerais. Cinco empresários levantaram o braço e, diante do ar de interrogação da plateia, ela abriu um sorriso "Pois é, mineiro só coloca projeto em votação quando sabe que vai ganhar", disse a presidente, que nasceu em Minas Gerais, ao cobrar empenho dos industriais para a aprovação da resolução.

Não foi essa, no entanto, a es­­tratégia usada pelos articuladores políticos do Planalto nos últimos dias, quando Dilma acumulou perdas no Congresso. Insa­­­tisfeita, a própria base do governo na Câmara ajudou a derrubar a votação da Lei Geral da Copa, na quarta-feira, porque não conseguiu arrancar do presidente da Casa, Marco Maia (PT), o compromisso de marcar uma data para levar o Código Florestal a plenário.

O apoio do PDT à obstrução da Lei da Copa custou ao partido mais um período de molho para nomear o ministro do Trabalho. O mais cotado é o deputado Brizola Neto (PDT), mas Dilma não esperava a insubordinação dos pedetistas e mandou congelar a indicação até sua volta da Índia, onde ela participará da reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Linha de tiro

Na Câmara, os aliados deram sinal verde para a convocação da ministra Miriam Belchior (Planeja­­­mento), para explicar os problemas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, os deputados aprovaram convite para audiências com o ministro Guido Man­­tega (Fazenda) e com Sepúlveda Pertence, da Comissão de Ética da Presidência. O convite a Per­­tence põe o ministro Fer­­nando Pimentel (Desenvolvi­­­mento) na linha de tiro e tem o objetivo de atingir Dilma. Amigo da presidente, Pimentel é investigado pela Comissão de Ética por suas atividades como consultor privado.

"Cinturão de técnicos" evita ingerência nos ministérios

Para evitar ingerência política na Esplanada, a presidente Dilma Rousseff criou um "cinturão de técnicos" logo abaixo dos ministros para blindar a máquina pública e imprimir mais velocidade a programas do governo, independentemente de quem esteja como titular da pasta. As diretrizes do Palácio do Planalto são repassadas pela Casa Civil a este grupo, que ocupa a secretaria-executiva das pastas, um cargo equivalente ao de vice-ministro.

Em alguns casos, a determinação de Dilma não chega nem sequer ao conhecimento do ministro, o que provoca queixas nos bastidores. Na maioria das vezes, porém, a divisão de tarefas e atribuições ocorre de forma negociada. Nesta configuração, os titulares dos ministérios agem como articuladores, negociando questões políticas específicas com governadores ou parlamentares.

Ministros ouvidos pela reportagem contaram que suas nomeações seguiram, salvo raras exceções, o mesmo script. Depois de aceitar o cargo oferecido por Dilma, coube à Casa Civil informar o ministro sobre o nome escolhido pelo Planalto para o cargo de secretário-executivo. A reportagem identificou esse padrão na partilha de atribuições nos Ministérios da Agricultura, Turismo, Cidades, Integração Nacional e Previdência.

"O [Antonio] Palocci [ex-ministro da Casa Civil] estava muito bem intencionado, fez a indicação [do secretário-executivo] e eu agradeci", contou o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, que é senador pelo PMDB do Rio Grande do Norte. "Sem um bom secretário-executivo você não pode ser um bom ministro."

Um exemplo de como atuam os dois principais nomes de cada pasta foi a votação do fundo de previdência complementar dos servidores públicos, o Funpresp. Garibaldi conversou com alguns parlamentares, auxiliando na obtenção dos votos para aprovação do projeto na Câmara. Vice da pasta, o secretário-executivo Carlos Gabas formatou o texto com a equipe da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e negociou concessões que o governo precisou fazer.

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