Considerada peça chave no esquema de pagamento de propinas da Gautama, a diretora comercial da empresa, Maria de Fátima Palmeira, foi mantida presa ao final do mais longo depoimento até agora tomado pela ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ao todo foram oito horas e meia de depoimento, em que a ministra quis saber sobre conversas gravadas e informações sobre envolvimento de políticos e servidores no esquema de desvio de verbas públicas desbaratado pela Operação Navalha , da Polícia Federal.
Ao contrário da maioria dos presos, liberados após os depoimentos, a ministra Eliana Calmon decidiu manter Maria de Fátima presa até depois do depoimento de Zuleido Veras, dono da Gautama, principal beneficiária do esquema de fraude em licitações públicas investigado pela PF. Ele seria o mentor do esquema. Este é o sexto dia seguido de depoimentos no tribunal.
A advogada Sônia Rao, que defende Zuleido e Maria de Fátima, protestou contra a não liberação de seus dois clientes. A ministra decidiu manter Fátima presa até depois do depoimento de Zuleido. A advogada tem esperança de que os dois sejam liberados da prisão ainda neste sábado e passem o fim de semana em casa.
- É uma injustiça manter os dois presos. Não há nenhum pressuposto legal que justifique a manutenção da prisão preventiva. Acredito que a ministra vá soltá-los ainda hoje ao final dos depoimentos - disse Sônia Rao.
O depoimento de Maria de Fátima tinha sido interrompido às 23h desta sexta-feira, quando já durava mais de quatro horas. Ela é apontada como intermediária no pagamento de propinas da Gautama a autoridades.
Para a maioria dos depoentes, a ministra Eliana Calmon tem concedido a liberdade. Até a noite de sexta-feira, dos 48 presos pela PF, apenas 10 permanecem atrás das grades. Os demais tiveram o relaxamento da prisão por decisões judiciais.
Na sexta-feira foram ouvidos Rosevaldo Pereira Melo, lobista da empresa, e Vicente Vasconcelos Coni, diretor da Gautama no Maranhão. Coni não foi solto pela ministra porque teria dado informações contraditórias, mas a assessoria do STJ disse ainda não conhecer a justificativa de Eliana para a decisão. Ele deverá voltar a ser convocado pela ministra, em data ainda não marcada.
Os depoimentos dos suspeitos de integrar o esquema de fraudes em licitações deverão continuar na segunda-feira, quando serão ouvidos os diretores da Gautama Abelardo Sampaio e Gil Jacó Carvalho Santos; além dos funcionários Teresa Freire Lima e Henrique Garcia. Dois filhos de Zuleido, Rodolpho e Dimar Veras, que trabalham na empresa, também deverão comparecer no STJ na segunda-feira.
Após esta fase das investigações, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pretende apresentar ao STJ a denúncia contra os suspeitos. O documento está sendo esperado para a semana que vem. Se o tribunal aceitar a denúncia, o inquérito passará a ser um processo criminal e os investigados, réus.
STF concede habeas-corpus a sobrinhos de governador
Os sobrinhos do governador do Maranhão, Jackson Lago, que tinham se recusado a prestar depoimento à ministra Eliana Calmon, foram soltos na sexta, depois de conseguirem habeas-corpus expedidos pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Alexandre de Maia Lago e Francisco de Paula Lima Junior foram presos na semana passada por suspeita de recebimento de propina da Gautama. Francisco recusou-se a prestar depoimento na manhã de quinta-feira; Alexandre já havia se negado a falar na quarta-feira. Também foi beneficiado com habeas corpus Rosevaldo Pereira Melo, lobista da Gautama.
Deixe sua opinião