O conteúdo dos documentos apreendidos pela Polícia Federal, que foram entregues nesta quarta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à CPI dos Correios, decepcionou deputados e senadores que tiveram acesso aos papéis. A documentação inclui cópias das ordens de pagamento, extratos bancários e cópias de cheques das contas pessoais e de agências de publicidade de Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. No entanto, de acordo com os parlamentares, a lista de políticos e outras pessoas que teriam recebido pagamentos do empresário é bem menor do que se supunha, e não traz muitas novidades.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) suspeita que tenha havido uma triagem dos documentos antes da entrega à CPI.
- Os indícios são muito fortes, afirmou.
Ela observa que, das inúmeras caixas de papéis que vieram do Banco Rural, somente aquela que continha informações já divulgadas na imprensa estava organizada.
- As outras caixas estavam com tudo misturado, bagunçado e, pior, desgrampeado. Os documentos que comprovavam quem sacou foram visivelmente arrancados, disse.
Segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a avaliação superficial dos documentos do STF indica que não há novidades, mas ele acha possível que novos nomes apareçam com uma avaliação mais aprofundada. O relator pondera que os documentos não seriam adulterados. No entanto, ele também levanta suspeitas sobre disquetes de computador recebidos pela CPI, que apresentariam dados conflitantes.
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) ressalta que, nos documentos do STF, existem alguns nomes diferentes daqueles que a CPI já tinha.
- Estamos checando para ver se há ligação com parlamentares, mas não tem o volume ou a importância, enfim, nem a revelação bombástica que todos nós esperávamos, desabafou.
No entanto, Pompeo de Mattos não vê sinal objetivo de que alguém tenha adulterado qualquer documento.
- A CPI tem de continuar a sua investigação, afirmou.
A CPI precisa convocar, além dos grandes sacadores, os grandes depositários das contas de Marcos Valério. Entre eles, banqueiro Daniel Dantas, que controla as empresas de telefonia Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom, todas elas autoras de grande volume de depósitos.
O deputado ACM Neto (PFL-BA) também não acredita que tenha havido triagem de documentos para prejudicar quem quer que seja.
- Isso aí é mania de perseguição. Não se pode levantar suspeitas nem a favor nem contra, sendo governo ou oposição, garantiu.