• Carregando...
Uma formiga belisca o dedo indicador de Odilon | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Uma formiga belisca o dedo indicador de Odilon| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Expedição em dados

Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.

>>Pesquise

 |

Um rio que come terra e esperanças

O Rio Trajano continua "rou­­bando" o solo areno­­so da chácara de Adão Fe­­lipach, em Terra Rica, no Noroeste do Paraná. O problema de Felipach foi mostrado pela Gazeta do Povo na Expedição Paraná em 2010 como exemplo do quanto é sensível o solo do região e de como a economia depende dos cuidados ambientais para que a agricultura continue viável. Mas quase nada mudou em quatro anos. A única diferença é que a erosão está maior. "A lavoura aqui é difícil. A região não é propícia."

Em 1985, o leito d’água tinha entre 5 e 7 metros de largura e pouca profundidade. Em 2010, o rio já havia criado um "minicânion" com distância de 40 a 50 metros entre uma margem e outra e profundidade de 20 metros. Atualmente, o buraco já tem 25 metros.

O Rio Trajano recebe a água da chuva que cai sobre a cidade de Terra Rica. A enxurrada faz com que a água chegue com força na propriedade e vá desmoronando as margens do rio. "Penso em processar a prefeitura", diz Felipach. Ele arrendou a terra para o plantio de mandioca e dedica-se a outra propriedade que tem na margem do Rio Paranapanema, onde explora o turismo com o aluguel do espaço para acampamentos e pescarias. "Meu principal negócio é a prainha." Veja a reportagem da época: http://bitly.com/2010noroeste

 |

A triste fortuna da família Fortuna

O número de pessoas que morreram no Noroeste do Paraná – de todas as causas – aumentou 13% nos últimos cinco anos, entre 2009 e 2013. É o maior índice de crescimento do estado, alcançado também por outras duas regiões: Centro-Sul e Norte. As três tiveram crescimento de óbitos acima da média do Paraná: 7%.

Leia mais

  • Parte da família Fortuna. Da esquerda para direita: Jean Marcelo Lopes, Karen Rafaela Lopes, Leonisa Fortuna Dal Santo, Olinto Fortuna, Realda Fortuna, Aldino Fortuna, Luciene Aparecida dos Santos, Bruna Yara Fortuna, Janete Fortuna Viganigo e Jucelaine Rita Fortuna Farah
  • Desde 2000, 12 pessoas da família Fortuna morreram, dez delas na cidade de Querência do Norte. O município teve aumento de 69% na quantidade de mortes entre 2009 e 2013
  • Formiga cortadeira, dor de cabeça para criadores de gado e produtores de mandioca no Noroeste
  • Diversos agricultores usam agrotóxico proibido para combater a formiga cortadeira porque consideram as iscas, com princípio ativo menos tóxico, pouco eficiente
  • Formiga cortadeira em pé de mandioca
  • A formiga cortadeira e o agricultor Odilon Alves de Lima (81)
  • Odilon, morador de Inajá, coleta formigas para fazer uma foto
  • O agricultor e as cortadeiras na mão
  • O caminho utilizado pelas formigas cortadeiras entre o ninho e a plantação de mandioca de Odilon
  • Erosão provocada pelo rio Trajano em Terra Rica
  • Adão Felipach e o vale escavado pelo rio Trajano na propriedade agrícola dele em Terra Rica
  • Felipach estuda processar o município de Terra Rica, já que a canalização da água da chuva na cidade aumenta o processo erosivo na área dele
  • O agricultor Adão Felipach

O agricultor Odilon Alves de Lima, de 81 anos, cria 26 cabeças de gado em um sítio de 12 alqueires em Inajá, Noroeste do Paraná. Ele chegou a ter 90 vacas e novilhos na propriedade. Mas, aos poucos, foi abandonando a criação dos animais para se dedicar ao plantio da mandioca. Atualmente, tem dez alqueires plantados, mas deverá perder de 20% a 25% da produção. Nos dois negócios, amarga prejuízos causados pelo mesmo inimigo: a formiga cortadeira, popularmente conhecida como saúva. Isolado, o inseto é pequeno e inofensivo. Em colônia, é um problema. A disseminação de formigueiros no Noroeste criou um terror. "Se não combater, não fica uma folha em pé", diz o produtor rural.

INFOGRÁFICO: Veja dados da região Noroeste do ParanáSLIDESHOW: Veja mais fotos

Veja as propostas dos candidatos ao governo do Paraná para o Noroeste

As cortadeiras derrubam grandes quantidades de folhas verdes ao redor de um ninho. Tanto as gramíneas usadas para o pasto do gado quanto os ramos da mandioca são utilizados para produzir, dentro do formigueiro, um tipo de fungo que é a base de alimentação das formigas. No início da primavera, acontece a revoada de formigas e novas colônias são formadas. Com o meio ambiente fragilizado – onde há pouco predadores, como aves e tamanduá –, a saúva encontrou as condições ideais para se multiplicar. E virou praga. "Um formigueiro come mais que uma cabeça de boi", diz José Heronides Batista, que produz leite em um sítio de 15 alqueires em Inajá e que também sofre para combater o minúsculo inimigo.

Arenito caiuá

A invasão das cortadeiras é apenas um dos problemas ambientais que atingem o Noroeste e causam prejuízos à economia da região. Em comum, todos são causados em grande parte pelo desmatamento. A erosão, por exemplo, é outro problema da região há décadas. O solo do local – composto pelo arenito caiuá, um tipo de terra arenosa e, portanto, delicada – tende a ser carregado pelas chuvas, o que favorece a erosão. Se a cobertura vegetal não tivesse sido posta abaixo, o problema poderia ser reduzido, pois as matas retêm a água da chuva.

Nelson Hauenstein, coordenador regional da Emater em Umuarama, afirma que a cana de açúcar – principal produto agrícola do Noroeste – agravou a situação porque os produtores negligenciam os cuidados ambientais. "A cana, durante dez anos, causa um desgaste na terra. Acrescente o uso de fogo para fazer a colheita e temos um solo desgastado. A proibição do uso do fogo, que deveria estar vigorando, todo ano é adiada", diz Hauenstein. O coordenador de Meio Ambiente da Emater em Paranavaí, Alberto Carlos Moris, reforça o peso da cana no problema e diz que é difícil até mensurar o prejuízo da saúva na agricultura. "Não há um cálculo econômico efetivo do impacto. Não temos como dimensionar. Olhando na paisagem, a frequência de formigueiros é muito grande."

Combate

Para diminuir o impacto da saúva e conter a erosão, é preciso proteger o solo e recompor a cobertura vegetal. No caso dos formigueiros, também seria necessário uma ação simultânea em vários municípios. "Não adianta eu eliminar os formigueiros aqui e meu vizinho, não", diz o agricultor Odilon Lima.

Especialista em controle biológico de pragas, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Florestas Wilson Reis Filho conta que a situação pode piorar se os formigueiros continuarem a se expandir. "Estima-se que um formigueiro corte uma tonelada de material vegetal por ano. Numa área degrada em que se plante eucalipto, uma das espécies mais atacadas pelas cortadeiras, e na qual não se tenha controle nenhum, a perda de mudas pode chegar a 70%."

Uma das alternativas para conter as formigas tem sido o uso de inseticidas. Mas há quem esteja comprando o produto clandestinamente no Paraguai, sem origem ou procedência – o que pode criar um novo problema ambiental para o Noroeste.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]