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Locais de votação nas capitais ficaram mais vazias do que o normal. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Locais de votação nas capitais ficaram mais vazias do que o normal.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A parcela de eleitores que não compareceram às urnas no domingo (2) em todo o Brasil atingiu 17,58%, pouco mais de 25 milhões de pessoas. Esse movimento ocorreu significativamente em algumas capitais, que bateram recorde de abstenções.

No Rio de Janeiro, por exemplo, 24,28% do eleitorado se absteve. Em São Paulo a taxa ficou em 21,84%. Na sequência, Belo Horizonte (21,66%), Salvador (21,25%) e Fortaleza (17,04%). Em Curitiba, o índice foi de 16,4%.

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Quando colocada na mesa a soma das abstenções com votos nulos e brancos, o cenário surpreende. Na capital paulista, os ‘não-votos’ avançaram 30% comparado a 2012 e chegaram a 3.096.304 – João Doria (PSDB), eleito no primeiro turno, teve menos votos (3.085.187).

Em Porto Alegre, a quantidade de votantes que se recusaram a escolher um candidato chegou a 381.535 eleitores. O primeiro colocado foi Nelson Marchezan (PSDB), que contabilizou 213.646 votos.

Em Florianópolis, 68.168 eleitores não votaram. A segunda colocada, Angela Amim (PP), fez pouco mais de 60 mil votos. O número foi menor do que em 2012, quando mais de 82 mil pessoas escolheram branco, nulo ou se abstiveram.

No geral, porém, o crescimento da insatisfação foi dentro da média. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o índice foi de 17%, similar a 2012, quando 16,41% não votaram. Em 2014, nas eleições presidenciais, o índice foi de 20%. A média histórica do Brasil é de 16%.

Curitiba

Exatos 360.348 eleitores de Curitiba não viram um candidato antes de confirmar o voto na urna eletrônica neste domingo (2), número quase 50% superior em relação a 2012, quando 197.757 não escolheram candidato algum.

Os dados de 2016 englobam as abstenções (211.952), anulações (96.901) e votos em branco (51.495) e, no geral, são maiores do que o eleitorado do líder do primeiro turno, Rafael Greca (PMN), que fez 356.539 votos. Ney Leprevost (PSD), segundo colocado, fez 219.727 votos.

Os dados não são pontuais nos votos para o Executivo. Para o Legislativo, no comparativo, os votos em branco pulam para 91.034 e os nulos para 105.349. Porcentualmente, nessa ordem, eles representaram 8,45% e 9,78% do cômpito geral das eleições.

O vereador Serginho do Posto (PSDB) foi o mais votado da cidade, com 11.272 votos, 1,28% das escolhas válidas. Foram 81,77% votos válidos para o Legislativo e 18,23% “nãos”.

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Variações em Curitiba

Os números da capital variaram nas últimas eleições em relação à insatisfação com as figurinhas escolhidas pelos partidos. Em 2012, nas últimas eleições municipais, 106.659 pessoas se abstiveram de votar no primeiro turno – metade na comparação com 2016, que foi de 211.952. Foram 34.957 votos em branco e 56.141 anulados. Na soma, foram 197.757 votos, quase a metade dos dados desse ano.

Naquele ano, os votos também ultrapassaram o candidato Rafael Greca (na época no PMDB) – ele fez 101.866 votos e terminou em 4º lugar na ocasião. O terceiro colocado, Luciano Ducci (PSB), fez 261.049 votos.

Os números também foram expressivos nas eleições legislativas daquele ano, mas com variação em relação a 2016. Foram 89.557 votos em branco e 66.384 anulados. Os dados de 2016 mostram 91.034 e 105.349 votos nas duas categorias, respectivamente.

Já os números de 2008 para prefeito são menores do que em 2016, mas curiosamente maiores que os dados de 2012. Naquele ano, Beto Richa (PSDB) ganhou as eleições no primeiro turno com 778.514 votos, 77% dos votos válidos. Foram 186.163 abstenções - maior que na eleição de 2012 - 23.181 votos em branco e 37.923 votos nulos - menores no comparativo com os dois anos. No geral, foram 247.267 eleitores que “não participaram” da escolha, contra 197.757 em 2012 e 360.348 em 2016.

Abstenções na RMC

O número de votos brancos, nulos e abstenções também chamou a atenção nas quatro principais cidades da Região Metropolitana de Curitiba, terminando somente abaixo dos primeiros colocados no geral. Em São José dos Pinhais, as três escolhas fizeram 55.382 votos, número maior do que os votos do segundo colocado, Sylvio Monteiro (Rede), que fez 40.157 votos. Em Colombo, eles somaram mais de 34.486 votos, superior aos votos recebidos por Helder Lazarotto (PR). Em Pinhais e Araucária, os “nãos” também seriam os segundos colocados.

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Explicações

O que ajuda a explicar em parte esses números é a insatisfação com a política, segundo o cientista político Bruno Bolognesi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Ainda não dá para ver se esse é um voto de protesto. Mas o que dá para falar é que esses votos representam uma diluição de interesse. Em geral, aos políticos e à classe”, analisa.

“A política no Brasil está extremamente desgastada, num momento que é muito delicado. Acredito que isso contribui para a rejeição a política. Ela é vista como corrupta por causa da série de escândalos. O eleitor está tendo dificuldade de visualizar nomes com transparência na face”, afirma o cientista político e professor da PUC-PR, Mário Sérgio Lepre.

A crise econômica também aparece como fator, principalmente para o voto contra o mandatário que já exerce cargo eletivo. “O que acontece é que temos crise. Ninguém se reelege em tempos de crise. Quando você tem estabilidade, como em 2008, todo mundo se reelege. Não foi o caso nessa eleição. Há essa mudança”, diz Bolognesi.

Segundo o cientista político, outro fator que ajuda a elucidar a história é o número de candidatos. “A quantidade de candidatos, de opções, não facilita em nada a vida do eleitor. Veja Curitiba, com oito candidatos. Isso faz com que as pessoas tenham dificuldade de escolher e também de se engajar em alguma proposta.”

Para Lepre, o que prejudica a visão do eleitor é o sistema de coligações. “A indicação da insatisfação está dada para o legislador. Isso leva a se repensar o sistema político. É preciso que o eleitor visualize o indivíduo e o partido de forma nítida. Isso gera um processo de cobrança e responsabilização”, conclui. Para o professor da PUCPR, esse é um alerta para o Brasil não incorrer nos “erros de países com 40% de abstenções”.

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