Estado não pode se omitir de discutir o aborto, diz Lula

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebe o Papa Bento XVI nesta quarta-feira em São Paulo, afirmou que se opõe ao aborto, mas entende as 'jovens desesperadas por uma gravidez indesejada'. O tema é um dogma da Igreja Católica, que se opõe ao aborto radicalmente.

- Disse durante toda a minha vida política que sou contrário ao aborto, mas também digo que ninguém faz um aborto por opção ou por prazer. É importante saber dimensionar quando uma jovem desesperada, com uma gravidez indesejada, corre à procura de um aborto - afirmou Lula, que concedeu entrevista a rádios católicas para falar sobre a visita de Bento XVI ao Brasil, que começa nesta quarta-feira.

Lula afirmou que é preciso agir, pois ao mesmo tempo em que o Brasil tem uma lei que proíbe o aborto, existe um número grande de pessoas que ficam grávidas sem querer e que o Estado não pode fechar os olhos diante desta realidade.

- O Estado não pode abdicar de cuidar disso como uma questão de saúde pública, pois estaria levando à morte muitas jovens neste país - disse o presidente.

Segundo Lula, a história ensina que, muitas vezes, por desespero ou falta de orientação, muitas jovens acabam se submetendo a abortos e morrendo precocemente. Para ele, é necessário criar programas de planejamento familiar adequados, que impeçam que as mulheres recorram ao aborto.

Lula receberá Bento XVI numa conversa reservada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Mas ele não espera falar com o Papa sobre o aborto, mas sobre a busca de soluções para a desintegração familiar.

Para Lula, o encontro com o papa será 'um momento mágico e histórico' e ele disse que está convencido que, depois de sua visita ao país, Bento XVI voltará ao Vaticano muito mais convencido de que a América Latina simboliza 'um futuro extraordinário'.

Bento XVI chega no fim da tarde desta quarta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e segue de helicóptero para o Campo de Marte, na zona norte. De lá, seguirá no papamóvel para o Mosteiro de São Bento, no centro antigo, onde ficará hospedado. Do balcão do Mosteiro, diante do Largo de São Bento, ele deverá dar sua primeira mensagem aos fiéis.

Esta é a sua primeira viagem à América Latina como Papa. Como cardeal, ele já esteve duas vezes no Brasil.

O Papa deverá fazer uma mensagem a favor da vida e contra a violência, a pobreza e a desigualdade social, segundo o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.

Bento XVI pediu à Virgem Maria para que o encontro com os bispos latino-americanos rendam 'abundantes frutos' e que sejam lançadas diretrizes para uma nova evangelização da região, que abriga metade dos católicos do mundo.

O Papa acredita que a região precisa ser evangelizada por conta do crescimento constante das religiões evangélicas. Segundo Dom Claudio Hummes, da Congregação para o Clero, o papa acredita que a luta contra a pobreza é prioritária para a Igreja latino-americana.

Bento XVI deve sair de Roma pela manhã e percorrerá cerca de 9.500 km até São Paulo.