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Felizes pelo mundo

Países que citam a felicidade em documentos ou leis:

Estados Unidos

A Declaração dos Direitos da Virgínia, escrita em 1776 e que embasou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, outorgava o direito de buscar e conquistar a felicidade.

França

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, tem a primeira noção coletiva de felicidade e determina que as reivindicações dos indivíduos sempre estarão voltadas à felicidade geral.

Butão

O artigo 20º da Constituição estabelece que o governo deverá garantir a felicidade do povo. O artigo 9º estabelece como indicador social o Índice Nacional de Felicidade Bruta, baseado em dados de bem-estar, cultura, educação, ecologia, padrão de vida e qualidade de governo.

Japão

O artigo 13º da Constituição determina que todas as pessoas têm direito à busca da felicidade, desde que isso não interfira no bem-estar público. Além disso, o Estado deve empenhar-se na garantia às condições para atingir a felicidade.

Coreia do Sul

O artigo 10º da Constituição estabelece que todos têm direito de alcançar a felicidade, atrelando esse direito ao dever do Estado em confirmar e assegurar os direitos humanos dos indivíduos.

Fonte: Movimento Mais Feliz.

Como colocar a felicidade no papel?

Dois dilemas cercam a possibilidade de incluir a busca pela felicidade no texto que estabelece os direitos sociais do brasileiro na Constituição. O primeiro, definir objetivamente o que é felicidade. O outro, ainda mais complicado, é adaptá-lo à norma jurídica.

Há diferentes interpretações para ambos os casos, que variam de acordo com a linha de análise – filosófica, antropológica, histórica. "O aspecto fundamental da felicidade é que ela escapa de toda consideração que a prenda a um conceito pré-fabricado, que não leva em consideração a singularidade das formas de vida. Por isso ela é tão difícil de ser definida e não pode ser regulada juridicamente", diz o filósofo e professor da Universidade Federal do Paraná Paulo Vieira Neto.

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Para o maestro João Carlos Martins, felicidade é ter conseguido tocar o Hino Nacional com apenas três dedos no Carnegie Hall, em Nova York. A apresentação em 2008 marcou a volta do músico aos palcos após dez anos e um rosário de tragédias pessoais – uma queda jogando futebol e um golpe na cabeça durante um assalto que prejudicaram o movimento das mãos e interromperam a carreira de pianista. Na última quarta-feira, ele repetiu a cena no Senado.

Martins tocou o hino para encerrar uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos que discutiu a viabilidade de uma proposta de emenda à Cons­­­tituição (PEC) para estabelecer "a busca da felicidade" como um direito do brasileiro. "Tudo começa com um sonho", justificou o maestro, defendendo a subjetividade da mudança. O projeto, apoiado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), deve começar a tramitar nos próximos dias.

O embasamento do texto é complexo e cita exemplos de outros países, como Estados Unidos e França. "O que buscamos é que os demais direitos sociais sejam resgatados", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (Anadef), Luciano Borges dos Santos. Atualmente, estão incluídos no artigo 6.º da Cons­­tituição o direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e à assistência aos desamparados.

"É importante ressaltar que não estamos falando em direito à felicidade, mas à sua busca", explicou Buarque. Ele depende da assinatura de 27 senadores para que a PEC comece a tramitar. A ideia, no entanto, partiu do Movimento Mais Feliz, que surgiu no ano passado e se define como apartidário e não governamental.

"Começamos com o foco no voluntariado e com a intenção de melhorar a educação", diz o fundador do movimento, Mauro Motoryn. A inspiração das ações é o Bairro-Escola, projeto coordenado pela ONG Cidade Escola Aprendiz e que trabalha na recuperação de espaços urbanos ociosos para atividades educacionais. "A partir do momento que avançamos, percebemos que o problema não está no descumprimento do direito à educação, mas na falta de qualidade da educação oferecida, assim como ocorre com os outros direitos sociais."

Segundo ele, outra base do movimento é o direito à liberdade de escolha. "Não adianta só aprovar a proposta, queremos uma mudança de postura do brasileiro para que ele cobre seus direitos de uma forma muito mais consciente." Motoryn tirou lições do projeto Ficha Limpa, aprovado neste mês com o apoio de 1,6 milhão de assinaturas, e garante que conseguirá popularizar a discussão sobre felicidade.

Até agora, o movimento conquistou a adesão de dezenas de artistas, como os atores Patrícia Pillar e Cassio Reis, os cantores Toni Garrido e Margareth Menezes e o ex-jogador de futebol Sócrates. Todos atuam como "garotos-propaganda" e ajudam a popularizar a causa, à qual também se juntaram entidades ligadas ao meio jurídico como a Anadef e a Associação Nacional dos Procuradores da República. Até a semana passada, o movimento também contava com 93 "parceiros financiadores", de acordo com o site www.maisfeliz.org.

O estilo de mobilização chama a atenção, mas também gera resistências. O secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz (braço da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), Daniel Seidel, disse na audiência que a proposta até agora parece mais uma campanha de marketing. "E a sociedade brasileira vive uma ressaca do marketing, especialmente do político."

Para ele, a PEC é vazia de conteúdo e pode acabar sendo prejudicial aos demais direitos sociais previstos na Constituição. "Não é melhor falar claramente em bem-estar social, em redução da desigualdade?" Seidel também disse que seria melhor concentrar esforços em outros temas, como a aprovação da PEC do Trabalho Escravo.

Motoryn, que é publicitário, respondeu durante a audiência que não se sente desconfortável em usar o marketing a favor do movimento. "A classe artística também não vai se envergonhar. Estamos vivendo uma utopia positiva."

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