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 | GUSTAVO LIMA/Câmara dos Deputados
| Foto: GUSTAVO LIMA/Câmara dos Deputados

Nas idas e vindas da política nacional, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi e voltou em dois pontos cruciais da vida política no país.

O primeiro diz respeito a ele próprio: pressionado a renunciar, Cunha negou em diversas ocasiões que deixaria seu cargo na Câmara por vontade própria. Além disso, ele também negou durante meses que iria acatar pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) – até mudar de ideia em dezembro do ano passado.

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A pressão pela renúncia de Cunha foi forte durante quase um ano. Em 20 de agosto de 2015, ele foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Um grupo de parlamentares, encabeçados pelo PSol e pela Rede, pediu o afastamento do deputado logo após a formalização da denúncia.

Em ato da Força Sindical no dia seguinte à denúncia (no qual foi chamado de “guerreiro do povo brasileiro”), Cunha foi taxativo sobre a possibilidade de renúncia. “Renúncia não faz parte do meu vocabulário e nunca fará. Assim como a covardia”, declarou. “Não vou abrir mão do direito que tenho [de ficar à frente da Casa].”

Mesmo com todo o peso das acusações, o deputado se manteve firme no propósito de não renunciar. “Eu fui eleito pela Casa, aqui só cabe uma maneira de eu sair, é renunciar, e eu não vou renunciar. Aqueles que acham que podem contar com minha renúncia, esqueçam, eu não vou renunciar. Não tem plano A, B, C, D ou E, não tem plano nenhum. Qualquer discussão ou especulação que está sendo feita é pura perda de tempo, porque não vai acontecer absolutamente nada, vai continuar exatamente do jeito que está”, disse.

Apesar dessa declaração, a saída de Cunha ocorreu sem que ele renunciasse. Em cinco de maio de 2016 (portanto, oito meses e meio depois de a primeira denúncia ser apresentada), o ministro Teori Zavascki determinou seu afastamento temporário do mandato de deputado em caráter liminar – no mesmo dia, a decisão foi confirmada pelo pleno do Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo depois disso, ele seguiu dizendo que não renunciaria. “Falarei amanhã em entrevista. E não tem renúncia”, declarou, no dia 20 de junho.

Como se tratava de um afastamento temporário, porém, isso impedia a realização de novas eleições na Câmara. Ou seja, sua renúncia à presidência tem um efeito prático – ainda que ele, de fato, não presidisse mais a Casa.

Impeachment

Cunha também mudou radicalmente de opinião sobre o impeachment. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, em março de 2015, ele classificou o ato como “um constrangimento para o país”. “Você não pode achar que o Brasil é uma republiqueta que vai trocar presidente de uma hora para outra. O sistema presidencialista leva a isso. Quem votou e se arrependeu tem que esperar quatro anos para mudar o presidente”, disse.

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Ele também elencou uma série de condições – algumas não se confirmaram – para acatar um pedido de impeachment. “Só mudaria de opinião se houver um ato praticado por ela, no exercício do atual mandato e que haja uma denúncia do procurador-geral da República por crime de responsabilidade e que alguém proponha à Câmara uma denúncia sobre isso. É o que está na lei”, disse.

A relação de Cunha com o Planalto não era boa no início do seu mandato como presidente da Câmara. Entretanto ela piorou a olhos vistos a partir do aprofundamento das investigações da Operação Lava Jato sobre suas atividades. Em julho, ele acusou o governo de estar por trás das denúncias. “Tem um bando de aloprados no Planalto que vive desse tipo de circunstância, de criar constrangimentos. O governo não me engole, tem um ódio pessoal contra mim, faz tudo para me derrotar”, disse.

Ainda assim, em 18 de novembro, portanto menos de duas semanas antes de acatar o processo de impeachment, Cunha declarou em conversa com aliados que considerava que “não havia clima” para iniciar processo contra a presidente.

“Ele disse ter a impressão de que a possibilidade de impeachment perdeu força, que não há nesse momento apoiamento popular, embora o ocorrido nas contas da Dilma [o Tribunal de Contas da União rejeitou a contabilidade de 2014] sejam fato para levar o impeachment adiante”, declarou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), presente neste jantar.

À época, ele fazia um jogo duplo com o PT e a oposição para evitar que denúncia contra ele, protocolada pelo PSol e pela Rede, fosse acatada no Conselho de Ética da Câmara. Ele ainda acreditava na possibilidade de um acordo com os deputados do PT para evitar ser investigado – e usava o impeachment como uma arma para salvar a própria pele. Entretanto, em 1º de dezembro o partido de Dilma declarou que não iria votar com Cunha. No dia seguinte, o processo de impeachment foi iniciado.

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