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Brasília (Folhapress) – O deputado cassado José Dirceu disse que não voltará a ter o mesmo poder de quando era considerado o "superministro" do governo Lula. "Acho que já cumpri o meu papel na política brasileira. Não acredito que volte a cumprir este papel", afirmou.

Dirceu, cujo mandato foi cassado no plenário da Câmara na madrugada de ontem, também afirmou, em entrevista coletiva, que não deverá recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). "Não tenho ânimo para ir ao Supremo. Agora eu preciso trabalhar para me sustentar porque não tenho mais o salário de deputado (cerca de R$ 12,5 mil)", afirmou Dirceu, que é formado em Direito.

Embora tenha indicado que não pretenda ir à Justiça para reverter a cassação, o ex-ministro afirmou que seus advogados vão analisar o processo para ver se houve alguma falha. Se houver, ele vai analisar politicamente o que é possível fazer.

"O que vou fazer é voltar a trabalhar na vida política como puder. Vou defender os meus sonhos com muita paixão e muita fé porque não tenho mais nada."

Dirceu disse que vai trabalhar para o presidente Lula em uma eventual campanha para a reeleição "se ele (o presidente) quiser".

Aposentadoria

Também declarou que não pretende pedir aposentadoria na Câmara, como fez Roberto Jefferson, também cassado pela Câmara, e José Genoíno, ex-presidente do PT.

O ex-ministro disse que vai transferir os 12 anos de contribuição dele como deputado para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e se aposentar "por volta dos 75 anos".

José Dirceu afirmou ainda que se tivesse sido presidente do PT nos últimos anos, os problemas que envolveram o partido não teriam ocorrido. "Se eu fosse presidente do PT, a situação seria outra", disse. A declaração pode ser interpretada como uma referência ao escândalo do caixa 2 que abalou a imagem política da legenda.

"Mito"

Questionado como seria a situação se fosse presidente do partido, afirmou: "Não vou responder a essa pergunta, porque não deveria ter dito isso. Me desculpe". E em uma provável referência ao "mensalão", disse: "Foi um mito que inventaram e o PT deixou. O PT não é uma máquina arrecadatória".

Dirceu foi presidente do PT até 2003, quando transmitiu o cargo para José Genoíno, que caiu após o agravamento do escândalo do suposto mensalão, e foi substituído, em caráter provisório, por Tarso Genro.

A televisão na casa de Dirceu estava desligada quando a sentença foi proferida. Recolhido em seu apartamento logo após o encerramento da votação que lhe definiria o futuro, o ex-deputado só soube que seu mandato popular fora cassado quando aliados foram lhe dar um abraço de solidariedade, e "não de condolência", como frisou um desses amigos.

Na percepção dos fiéis, ele estava sereno e resignado. Afinal, sabia da dificuldade de escapar a um plenário que votava numa cabina protegida por uma cortina que garantia aos "eleitores" o anonimato. E foi esse anonimato que, na avaliação daqueles que lutaram com Dirceu, lhe causou a queda.

"Faltaram só 36 votos", lamentava Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos que foram abraçar o outrora todo-poderoso petista.

A cassação de Dirceu obteve 293 votos; o mínimo necessário era 257.

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