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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Nos anos de 1940, as atividades de contabilidade e serviços jurídicos eram prestadas por um mesmo escritório que se encarregava de dar as orientações tributárias a seus clientes. 70 anos depois – completos nesta terça-feira (4), o escritório Prolik Advogados se especializou no direito, mas a memória de um então contador que participou de sua fundação mostra o quanto a variedade na formação de seus primeiros profissionais fez diferença na trajetória traçada pela banca.

José Machado de Oliveira recebeu o Justiça & Direito no escritório para contar um pouco de sua história pessoal que se confunde com a história do escritório. Único fundador ainda atuante no Prolik, doutor Machado falou sobre o homem que deu o próprio nome à marca da banca e também de Faurllim Narezi, fundador que faleceu este ano. Entre as curiosidades que relatou estão momentos e locais marcantes da própria história de Curitiba, como a criação do curso noturno de Direito da UFPR, que mudou a trajetória profissional de Machado, e a instalação dos elevadores no Teatro Guaíra, iniciativa do dr. Prolik.

Como se deu o início do escritório Prolik?

Em 1946 o doutor Augusto Prolik, recém- formado em contabilidade, abriu o seu escritório contábil. Mas ele teve uma visão muito clara de que, além da contabilidade, era necessário ao contador ter conhecimento da legislação, do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, porque a contabilidade era a base para a tributação do IR das PJs. Ele se uniu a parceiros e criou uma coisa muito interessante, que hoje nós chamamos de “assistência”. Quando ele começou havia, inclusive, uma caderneta que a empresa dava aos seus clientes, uma carteira de assistido, onde eram anotados pagamentos, observações, como se fosse uma carteira de sócio. O trabalho do escritório pela fundação do doutor Prolik teve essa finalidade: dar aos contadores e aos clientes suporte, especialmente na parte tributária.

É possível dizer que ele foi pioneiro?

Nesse campo ele foi pioneiro no estado do Paraná, com certeza um dos primeiros no Brasil, porque a parte tributária dos escritórios de advocacia era pequena, com pouca demanda. Então, o doutor Augusto criou essa comunicação com os clientes via “informações circulares”, como eram chamadas naquela época. Hoje tem nomes diversos, como por exemplo “boletim”. Mas era uma circular, onde se noticiavam os fatos jurídicos tributários.

E como se chamava o escritório no início?

De lá pra cá, evidentemente, a denominação inicial foi sendo modificada. Era Audilex inicialmente, depois teve várias outras denominações, na medida em que mudaram os sócios ou que a legislação indicava necessidade. Foram várias sociedades civis, até chegar em 1965 ao Escritório Augusto Prolik. Dessa sociedade, o doutor Augusto Prolik, o doutor Faurllim Narezi e eu, doutor José Machado de Oliveira, fomos os fundadores. Por isso se diz hoje que eu sou o único fundador atuante. O doutor Augusto e o doutor Narese faleceram e eu estou aqui. Participei de várias sociedades anteriores ao escritório, mas que tiveram denominações diferentes, não vou lembrar de tantas que foram. Só lembro que a última foi a Prolegis, foi a que durou mais tempo. Essa Prolegis foi incorporada pelo escritório Augusto Prolik, e deu continuidade a toda aquela sequência.

Então a formação dos sócios teve origem na contabilidade?

O doutor Prolik formou-se contador, técnico em contabilidade, fez Economia na UFPR e depois formou-se em Direito, também pela UFPR. Quando ingressei, eu estava já com 10 anos com experiência como contador e já tinha atuado na área administrativa, em atividades gerenciais de empresas. E na última empresa, em que eu era gerente da filial daqui de Curitiba, eu já conhecia bem o escritório, porque a empresa onde eu trabalhava era assistida por ele. O doutor Narese tinha formação em direito.

E como o senhor ingressou no Prolik?

Eu já tinha contato frequente e, certo dia, recebi uma ligação do escritório me convidando para uma reunião. Eu não vi nada de estranho, afinal o contato já era frequente; eu ia para lá, eles vinham aqui… E aí me disseram que tinham um convite para me fazer. “Não sei como o senhor vai receber, mas nós gostaríamos de convidá-lo a vir para cá.” Bom, eu recebi com surpresa (risos). Pensei: “o que eu, contador, vou fazer lá, se o escritório não faz contabilidade?”. Administração também não seria o caso. Mas foi explicado: o escritório precisava de um contador experiente para ser a ponte, o elo com os clientes. Os advogados, como o doutor Augusto, eram experientes, mas a contabilidade começou a ficar distante. Então eu vim para cá em setembro de 1967 para atuar nessa função de contador.

Então entrou no escritório antes de virar advogado?

Eu sempre tive um pendor para o direito tributário, desde quando era contador, já tinha uma dedicação especial. Então ficou uma coisa bem adequada, eu diria perfeita, porque, em janeiro de 1968, a UFPR anunciou que em março faria um vestibular para um curso noturno de direito. Eu já estava em Curitiba desde 1963, querendo continuar os estudos. Mas na área do direito ficaria difícil, porque tinha só uma faculdade [noturna] naquele tempo, e era particular. Então, explicando um pouco dessa parte pessoal: eu já era casado, tinha dois filhos e não cabia no orçamento a matrícula da faculdade. Então quando surgiu aquele vestibular noturno foram dois meses intensivos de estudar para aquele vestibular. E como tinha já, naturalmente, uma experiência anterior, eu passei.

Quantos anos o senhor tinha?

Estava com 28 anos quando comecei, e terminei o curso em 1972. Então, veja, a experiência toda como contador, que se aliou à teoria recebida na faculdade, foi uma coisa sensacional, um solavanco e uma alavanca na minha vida.

Como era o cenário da advocacia naquela época?

Claro que já havia muitos advogados atuando, mas a demanda por questões tributárias era mínima. Então o pioneirismo foi nisso: o Prolik passou a dedicar-se com inteira dedicação ao Direito Tributário, tanto que o escritório notabilizou-se, durante esses 70 anos, pelo que realizou no Direito Tributário. Não é de hoje já, há muitos anos o escritório tem um atendimento empresarial. Ou seja, excetuada a parte criminal, em que nós não temos nenhum profissional, em todas as outras áreas nós temos advogados para o assunto que a empresa precisar, como trabalhista, cível, comercial, societário. Tudo.

O nome Prolik acabou se tornando a marca do escritório, mas o que o senhor poderia contar sobre a pessoa Augusto Prolik?

Olha, o doutor Augusto já impressionava por ser um homem alto. Mais de 1 metro e 80. Mas ele impressionava, também, pela forma de tratar. Ele dedicou-se ao seu trabalho como um homem que respeitava todos os princípios éticos, morais, religiosos e tinha um especial cuidado com a agregação de pessoas. Então, eu o descreveria como sendo um homem inteiramente dedicado ao trabalho, agregador, também com relação à família e à comunidade. Ele nunca se esquivou de nenhum problema, muito pelo contrário. Em termos da sua atuação como advogado é justamente porque os princípios de lealdade, éticos, foram respeitados enormemente. E ele foi ganhando, portanto, esse renome de um profissional sério, em quem se podia confiar.

Teria algum fato em especial que o faça lembrar dessas características que o senhor está descrevendo?

Ele foi muito atuante na Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas e como dirigente do Centro Cultural Brasil – Estados Unidos. Mas vou dar um exemplo que ficou muito marcado na comunidade. O doutor Augusto sofreu muito com artrite, que é uma enfermidade deformante. Ele sentia dores horríveis, dores que todos ficávamos pensando “como ele pode suportar?”. No entanto, tal era a sua força, a sua determinação, que ele nunca permitiu que isso o afastasse das suas atividades, seja no escritório, na família ou na comunidade. Por esse problema da dificuldade de locomoção, ele foi passando a usar calçados especiais, fez várias cirurgias no Brasil e no exterior, no joelho, nos quadris. Até que num certo momento ele foi ao Teatro Guaíra e não conseguia subir as escadas ou fazia com enorme dificuldade. Ele disse: “nós vamos colocar elevador no Teatro Guaíra”. Aí disseram: “ótimo, mas recursos aqui não tem”. O doutro Augusto perguntou se eles aceitavam, e eles não tiveram nenhuma dúvida. Aí ele fez uma coleta de recursos entre os clientes, amigos e família, e os elevadores estão lá hoje pelo empenho dele.

E da sua trajetória, o senhor pode me contar um pouco mais? As memórias que o senhor tem, os melhores momentos como advogado, com os sócios.

Bom, são quase 50 anos. Evidentemente há muitas coisas para lembrar, coisas excelentes, boas e algumas que não foram exatamente como a gente queria. Uma coisa que me marcou muito desde que entrei nesta casa é o cuidado, o trato, a confiança que era transmitida e exatamente o que eu trouxe para cá. Esse é o primeiro ponto de satisfação, de saber que, apesar do desafio tão forte, como ingressar neste grupo de profissionais e poder me encaixar. Esse foi o outro motivo de ordem pessoal. Quer dizer, todos os temores e dúvidas que tive no momento em que fui convidado – eu ficava pensando no que eu faria lá, porque há uma centena de contadores e eu tinha sido escolhido. A primeira satisfação foi o convite. Eu pensava: “eu não sou advogado, o que vou fazer lá?”. Em seguida o ingresso na UFPR, a conclusão do curso, a formatura. Isso me levou a grandes satisfações, porque ao longo do tempo eu fui alçando – eu não diria cargos, porque aqui não temos uma hierarquia de cargos e funções – posições profissionais e técnicas, mas me tornei um profissional habilitado para o trabalho que estava sendo confiado ao Machado aqui dentro.

E, coincidentemente, neste ano em que o Prolik completa 70 anos, o dr. Faurlim Nareze acabou falecendo...

Ocorreu o pesaroso falecimento do doutor Faurlim. Ele iniciou ainda jovem, em 1954, se dedicando muito e acabou chefiando o setor cível do escritório. Foi um dos maiores civilistas do Paraná. Sensível, acolhedor, receptivo, cativava a todos. Já estava afastado há algum tempo por motivos de saúde. Deixou grande lacuna.

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