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Ruy Guilherme Borba tem apenas 15 anos, quer ser médico, mas já fez planos para 2008. Antes de botar o jaleco branco vai se candidatar a vereador no município de Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba, onde mora. "Meu pai acha uma loucura!", avisa. Se eleito for, vai tornar pública a contabilidade do município – afinal, no site do TSE, dificilmente encontra o acerto de contas que procura – e melhorar o programa de transporte coletivo para estudantes. "Demoro 50 minutos para chegar na escola", avisa, diante de outros seis colegas do Colégio Estadual do Paraná (CEP), reunidos para um bate-papo com a reportagem, semana passada. A instituição tem 4.700 alunos.

O futuro candidato mal sabe, mas ele é uma exceção à regra na sua faixa etária. Pesquisas (leia matéria página 19) indicam que os jovens – em tempos de crise – andam mais desiludidos com a política do que de praxe, um comportamento reforçado pela centena de dias em que o galo cantou e a casa caiu. Mas a diferença entre Ruy e os outros não é garantia de afirmações apressadas: a depender do grupo reunido no CEP, governo e governantes são o prato do dia para a moçada. E não é de hoje.

Leonardo Faria Madureira, 15 anos, nasceu em Brasília, e seu pai era segurança no Palácio de Planalto. "Não fui iludido. A gente sabia lá em casa que tinha maracutaia por lá." Esther Vaz Moreira é natural de São Bernardo do Campo. Cresceu ouvindo o pai lhe falando de um metalúrgico que seria o presidente do Brasil e a esperança da classe trabalhadora. "O Lula é um homem bom. Não tenho a menor dúvida disso." Nem Leonardo nem Esther seguiriam carreira política ou se filiariam a um partido. Ele quer ser médico. Ela, farmacêutica. Mas têm na ponta da língua um verdadeiro diário da crise.

Os outros não fogem à regra – em maior ou menor grau, sabem citar nomes, datas e episódios que passam por mensalões, mensalinhos e cuecas com um punhado de dólares – assunto que elegem o primeiro da lista de piores momentos dos últimos meses. Riem à beça do episódio. Em comum, os sete do Estadual também se indignam com a cassação do ex-deputado Roberto Jefferson, eleito, quase por unanimidade, o "muso do mensalão", desbancando Karinas, Renildas e Dianas. Acham graça da história do olho roxo. "Cara corajoso. Podia ter acordado com a boca cheia de formiga", brinca Willian. Mas isso é recreio. Na "real", os sete dizem-se indignados, envergonhados, constrangidos, para citar três palavras do vocabulário desses teens dos anos 2000. "Foi um vexame", solta um deles, num momento melancólico em meio uma conversa digna de ser gravada e exibida numa CPI. Seria moralizador.

A decepção juvenil, claro, causa eco. Willian Fernando Batista, 16, quer ser advogado e fala pelos cotovelos. É irreverente, um brasileirinho. Mas fecha a cara ao pensar na imagem do país lá fora. "Somos o país do futebol. E viramos piada", diz. "Já li que tem hotel no exterior que não aceita brasileiros", emenda Esther. "A maior falha, sabe qual é: ninguém pensou no povo. Todo esse tempo de baixaria e nós aqui, ao vento", protesta Ruy. "É muita ambição. Não dá para entender", protesta Elaine Cristine de Souza, 15, com folga a fera mais ferida do grupo de conversa do CEP.

Pequena e falante, Elaine tem uma lista de reivindicações na ponta da língua. O voto não deveria ser obrigatório. A mídia tem de evitar fazer barulho por nada. Político de verdade não passa a vida diante das câmeras. "Falta vontade política. Não se trata de saber ou não saber. Tem de querer mudar essa história", reforça a estudante que sonha em ser bióloga marinha.

O grupo – quase em coro – diz que vai fazer a sua parte, como era de se esperar. "Pode partir da gente. É um desonesto a menos", afirma Heidy Maiyumi Kanashiro, 15, futura arquiteta. Israel Munhoz de Souza, 16, cabelos pintados de vermelho e candidato precoce à Escola de Belas Artes, até tomou uma decisão: vai votar, mesmo sem estar obrigado. "Mudei de idéia por causa da crise."

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