• Carregando...

É bom tomar muito cuidado com o que se escreve no Orkut. A página de relacionamento criada em 2004, muito popular entre os internautas brasileiros, se transformou em grande aliado da polícia na investigação de diversos crimes - de racismo e incitação à violência a tráfico de drogas e até pedofilia.

Policiais e promotores do Ministério Público monitoram há meses a página e suas milhares de comunidades, que servem de valiosa fonte de informação. Graças aos comentários indiscretos deixados nelas, muitos usuários do Orkut já foram convidados a prestar depoimento por conta de suas atividades na página.

- A Internet dá uma falsa sensação de impunidade porque a pessoa não está sujeita a ser contestada pessoalmente. Ela escreve, desliga o computador e está no conforto do seu lar - diz o promotor Christiano Jorge dos Santos, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, responsável pela identificação em junho do primeiro usuário brasileiro a cometer crime de racismo no Orkut. O jovem, um universitário de 17 anos, criou a comunidade "Sou Contra as Cotas pra Pretos" na qual eram feitos comentários preconceituosos contra negros e nordestinos.

InvestigaçãoSegundo o promotor, os crimes cometidos no 'site' de relacionamento estão sendo investigados desde janeiro pelo Gaeco.

- Estamos acompanhando pelo menos 50 denúncias, maioria de racismo, alguns até de pedofilia. E esse número tende a aumentar conforme investigamos - afirma Christiano.

Na quinta-feira, um outro estudante teve que dar explicações na polícia, desta vez sobre ameaças de morte que fez pelo Orkut ao prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT). Na comunidade "Unidos pra Matar Dr. Hélio", criada em outubro do ano passado e com 60 participantes, Carlos Miamoto, de 20 anos, chegou a convocar as pessoas a invadir a prefeitura com sacos de pão na cabeça.

- Ele disse no depoimento à polícia que era uma brincadeira, uma forma de protesto, mas não é assim que vemos. Já tivemos um caso de morte de prefeito na cidade e esse tipo de manifestação é perigosa porque incentiva um ato criminoso - afirma Francisco de Lagos, secretário de Comunicação da Prefeitura de Campinas, referindo-se à morte do prefeito Toninho do PT, assassinado em 2001.

- Vamos aguardar agora a manifestação do Ministério Público sobre o caso. Mas de qualquer maneira nossa Secretaria de Negócios Jurídicos deve tomar providências no âmbito criminal contra esse rapaz, porque ele atingiu a figura do prefeito - diz Lagos.

- Ele disse que usou metáforas, que se expressou mal ao escrever que queria matar o prefeito - afirmou Carlos Henrique Fernandes, delegado da Seccional de Campinas que investiga o caso. Segundo ele, Miamoto responderá a inquérito por crime contra a honra, ameaça, incitação ao crime e formação de quadrilha. O caso irá para julgamento no Fórum de Campinas.

TraficantesO Orkut também tem ajudado a polícia na identificação de traficantes de drogas. Onze jovens de classe média do Rio de Janeiro foram presos em Búzios e Niterói acusados de vender maconha, ecstasy, LSD e cocaína usando a página na Internet para intermediar as negociações. Um dos presos é Amon de Magalhães Lemos, de 19 anos, irmão da apresentadora de TV Lívia Lemos, ex-namorada de Ronaldo, atacante do Real Madrid.

Segundo o delegado Álvaro Lins, chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, os jovens vendiam as drogas em festas rave, boates e lanchonetes.

- As encomendas eram feitas por telefone. Para o comprador conferir o tipo de ecstasy que queria, os jovens mandavam que eles entrassem no Orkut. Lá, tinham acesso a um site que mostra o potencial da droga.

Muitos dos vândalos que destruíram a Avenida Paulista após a conquista da Taça Libertadores pelo São Paulo também deixaram rastros no Orkut, já devidamente identificados pela polícia.

- Já temos bons indícios de provas. Identificamos alguns torcedores e isso nos ajuda a identificar outros - afirmou Mário Jordão Toledo Leme, delegado-seccional do Centro de São Paulo. Segundo ele, as manifestações na Internet são um indício de confissão de crime. Policiais do Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância (Gradi), da Polícia Civil de São Paulo, estão vasculhando as comunidades de torcedores do São Paulo para colher manifestações de envolvidos no quebra-quebra na Avenida Paulista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]