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Gabrielli evitou comentar o nível de ingerência do ex-presidente Lula na Petrobras | Uéslei Marcelino/Reuters
Gabrielli evitou comentar o nível de ingerência do ex-presidente Lula na Petrobras| Foto: Uéslei Marcelino/Reuters

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli admitiu que a estatal cogitou contratar a Odebrecht sem licitação para as obras de modernização que planejava realizar na Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico" publicada nesta segunda-feira, Gabrielli afirmou que o assunto foi discutido internamente ao ser questionado sobre atas de reuniões da diretoria da Petrobras que fariam referência a uma proposta da Diretoria de Serviços para que a Odebrecht ficasse com a obra, chamada internamente de Revamp. Sem citar diretamente a Odebrecht, ele afirmou que seria uma forma de, por meio de um serviço no exterior, ajudar a qualificar uma empresa brasileira para atender à Petrobras no Brasil.

"Na discussão do Revamp, pensou-se que seria interessante fazer com uma empresa brasileira nos Estados Unidos, porque estava em um momento em que você precisava fortalecer a política de conteúdo nacional. E com isso você forçaria maior produtividade para o forneceimento nacional", disse Gabrielli ao Valor.

Em um trecho do depoimento da delação premiada revelado há duas semanas, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que a reforma de Pasadena custaria entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões e já tinha duas empreiteiras definidas: a UTC e a Odebrecht. As duas empresas informaram não ter conhecimento do depoimento, mas negaram irregularidades.

Como se tratava de uma sociedade da Petrobras com a belga Astra Oil no exterior, Pasadena não era obrigada a seguir as regras de licitação a que a estatal é submetida no Brasil. Segundo Costa, a coordenação da escolha das duas empreiteiras estava a cargo da Diretoria de Engenharia e Serviços, comandada por Renato Duque, que chegou a ser preso na Lava-Jato. A proposta teria sido levada à diretoria pelo gerente executivo Pedro Barusco, braço direito de Duque.

Na entrevista, Gabrielli evitou responder diretamente sobre o nível de ingerência do ex-presidente Lula e do governo na Petrobras, mas registrou que não teve oportunidade de escolher a diretoria da estatal. O ex-presidente disse não entender o motivo de Costa ter recebido US$ 1,5 milhão de propina para não atrapalhar a aquisição de Pasadena porque "ninguém decide individualmente na Petrobras".

Para Gabrielli, Costa se mostrou "um dissimulado", que operou seu esquema de corrupção fora da Petrobras sem ninguém na estatal perceber. Fez analogia parecida em relação a Barusco, que confessou ter recebido propinas de mais de US$ 98 milhões. Gabrielli admitiu que é muito dinheiro, mas disse que o montante, "por mais que seja grande, numa escala de Petrobras é pequeno". Ele afirmou que não se trata de um caso menor, mas frisou que isso não é suficiente para por em suspeita toda a empresa. "Eu não posso dizer que a Petrobras é uma empresa corrupta".

Gabrielli ainda pôs em dúvida outras revelações das delações premiadas realizadas até agora nos processos da Lava-Jato, como a de que eram cobradas comissões de até 3% em contratos da Petrobras. Para ele, as contas não fecham. O executivo também disse ser impossível separar nas demonstrações contábeis o custo da corrupção de outros fatores de depreciação de investimentos feitos pela Petrobras, como câmbio, preço do petróleo e outras alterações nas condições de mercado. Ele ainda afirmou que há comissões de intermediação usuais em negócios, que ele chamou de "legítimas".

O ex-presidente se queixou do que classificou de julgamento antecipado provocado pela repercussão do escândalo na imprensa e afirmou que Barusco virou uma "Geni".

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