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Dilma discursa no 4.° Congresso do PT, em2011. | José Cruz / ABr
Dilma discursa no 4.° Congresso do PT, em2011.| Foto: José Cruz / ABr

Com dúvidas sobre seu futuro, arrependido de atitudes do passado e certo de que está sendo traído no presente. De acordo com as teses apresentadas pelas correntes internas do PT para seu 5º Congresso, previsto para ocorrer no mês que vem, o partido vive uma crise existencial. Os documentos são unânimes no diagnóstico de que a legenda se encontra numa encruzilhada e que passa pela maior crise de sua história. A chapa majoritária Partido que Muda o Brasil (PMB), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chega a alertar: “os partidos não são eternos”.

No encontro, 800 delegados, divididos de acordo com a votação de cada chapa na eleição interna de 2013, vão definir um documento com resoluções, tiradas a partir das teses, que vão nortear a vida petista nos próximos anos. Podem, por exemplo, mudar o processo de escolha dos dirigentes, como defendem todas as correntes menos a PMB. O Congresso, marcado para ocorrer entre os dias 11 e 13 de junho em Salvador, é o quinto do partido em 35 anos.

A construção do PT está ameaçada pela política e cultura sem utopia e sem ética de um capitalismo em crise.

Trecho de documento da corrente majoritária do PT.

Os sete documentos registrados para o congresso mostram a perplexidade dos petistas diante do momento. Mantêm queixas aos inimigos de sempre (as forças conservadoras e a mídia), mas faz mea culpa diante dos caminhos escolhidos nos últimos anos. A PMB, que terá 53% dos delegados no encontro, fala em “necessidade de uma contraofensiva política e ideológica para superar a crise de identidade que estamos atravessando”. Ressalta que, para isso, o congresso, que se realiza em condições “políticas excepcionais”, não pode ser “um ritual burocrático”.

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A Mensagem ao Partido, segundo maior grupo, com 20% dos delegados, avalia que “a construção do PT está ameaçada pela política e cultura sem utopia e sem ética de um capitalismo em crise”. A chapa Partido para Todos e na Luta, terceira força interna e que terá 14,3% dos delegados, chega a diagnosticar que a “situação é dramática”, com base em pesquisa Datafolha, divulgada em março que mostra que o partido atingiu o mais baixo índice de simpatizantes desde 1989: só 9%.

As críticas ao ajuste fiscal da presidente Dilma Rousseff também são comuns em todas as correntes. A PMB é mais cuidadosa ao analisar as medidas, mas não deixa de destacar que “o problema é que o peso tenha recaído mais sobre os trabalhadores do que outros setores das classes dominantes”.

Nas demais chapas, o tom das críticas às medidas é mais duro. “O governo Dilma se iniciou com uma clara inflexão conservadora, contraditória com o programa eleito”, diz a Mensagem.

Ainda pondo culpa na mídia, partido faz autocrítica

No momento em que o PT é acusado pelos investigadores da Operação Lava-Jato de ter recebido propina de empresas fornecedoras da Petrobras por meio de doações oficiais de campanha, a corrupção é abordada em todas as teses das correntes do partido que serão apresentadas no Congresso da legenda. Apesar de o discurso de perseguição por parte da imprensa ter sido mantido, os documentos admitem responsabilidades da direção da sigla.

“As denúncias de corrupção – verdadeiras ou não – acabaram por golpear duramente a imagem do partido. Não podemos diluir nossas próprias responsabilidades na geleia geral em que se transformou grande parte do mundo político brasileiro”, afirma a tese do grupo majoritário PMB, do qual faz parte João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso desde o dia 15 de abril.

O documento do grupo ainda acrescenta ser necessário o partido sair das “páginas policiais”. A Mensagem destaca que a “corrupção ou conivência com a corrupção mina a própria identidade socialista do PT”. “Se antes era possível acusar um grupo ou uma corrente interna do PT por protagonizar as principais distorções que experimentamos no último período, hoje práticas que estão em desacordo com nossa ideologia, inclusive desvios éticos, atravessam a maioria das tendências”, diz a Partido para Todos.

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV, o reconhecimento de erros é benéfico para o partido. “Finalmente, o partido faz uma autocrítica. Acho que isso começou a aparecer até pela piora das avaliações. Vai ficando cada vez mais complicado fingir que tudo é fruto de uma conspiração”, avalia.

Como resposta à corrupção, as teses petistas indicam, como já havia sido discutido em reunião pelo diretório nacional, que o partido deve proibir o recebimento de doações de empresas. Há divergências se o veto deve ser restrito aos diretórios ou também aos candidatos

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